Freepik/Master1305 |
É na primeira infância que a criança começa a se desenvolver e podemos observar grandes picos de desenvolvimento no sistema motor e cognitivo, principalmente nos primeiros dias de vida, onde acontece o amadurecimento das estruturas cerebrais. Por falta de conhecimento, muitos pais acreditam que algumas atitudes podem ser inofensivas nessa fase e utilizam recursos para entreter, acalmar e distrair a criança. Um dos principais recursos do mundo moderno são as telas, que oferecem inúmeras programações com a promessa de ajudá-los nesse processo, porém, podem ser extremamente prejudiciais para a criança nesse período, inclusive no processo de desenvolvimento da fala e da linguagem.
Boa parte dos conhecimentos adquiridos acontece até
os dois anos, quando a criança está tomando consciência de suas habilidades.
Por essa razão, a Organização Mundial da Saúde (OMS), recomenda que crianças
até dois anos não tenham contato com telas e televisores, uma vez que elas
podem influenciar no atraso do desenvolvimento de diversas habilidades,
incluindo a linguagem e até mesmo as sociais da criança.
De acordo com a fonoaudióloga doutora em fala e linguagem
pela USP e University of South Florida (USF – EUA), Camilla Guarnieri, o uso de
telas afeta diretamente a criança na interação com outros membros da família e
pode orientar de forma equivocada a forma de comunicação, uso das palavras e
desenvolvimento da linguagem. “Muitos pais chegam ao consultório com queixas
sobre atraso na fala, dificuldades de comunicação, mau uso da linguagem, entre
outros desafios, associando a transtornos ou patologias. Porém, quando vamos
investigar o estilo de vida da criança, entendemos os hábitos familiares estão
associados ao mau uso das telas, influenciando diretamente nos costumes
desenvolvidos” – explica.
Segundo a especialista, os meios mais utilizados e
que permitem que a criança exceda os limites, influenciando no seu
desenvolvimento cognitivo, são celulares, tabletes, televisão, jogos e, para os
mais crescidinhos, as redes sociais, que, além de influenciar em todo o
desenvolvimento, aumentam o risco de problemas emocionais como ansiedade e
depressão, que também podem desencadear reações severas no desenvolvimento de
alguns dos sentidos.
A exposição precoce às telas altera o processo
natural de aprendizagem e desenvolvimento da criança, barrando processos
neurais que influenciam em diversas capacidades, principalmente concentração e
interação social, fatores essenciais para a evolução apropriada da fala e
linguagem. “Alguns dos problemas mais comuns apresentados pelo uso excessivo
são: uso de vocabulário restrito, brincar restrito, principalmente o
simbiótico (brincadeiras de faz de conta), dificuldade em se manter na mesma
atividade quando há dificuldade, interferindo na aquisição de novas
habilidades, dificuldades dialógicas, etc; e muitos deles causam impacto grande
na vida dessas crianças e de suas famílias” - alerta.
Nem sempre é possível dedicar toda atenção que a
criança precisa e essas novas tecnologias se tornaram ferramentas essenciais
para suprir essa participação dos pais. Nem tudo é nocivo, podem haver alguns ganhos,
mas não se comparam com as perdas. “Se não é possível controlar 100% o acesso,
há formas de driblar o conteúdo consumido, porém, requer uma participação ativa
dos pais e profissionais para eleger conteúdos que contribuam de forma positiva
no processo de aprendizagem” – finaliza a especialista.
Para orientar os pais e responsáveis, a OMS
(Organização Mundial da Saúde) disponibiliza uma tabela com recomendações por
idade, com as seguintes orientações: crianças de 0 a 2 anos de idade não devem
ser expostas a telas devido ao período de desenvolvimento neural e cognitivo,
já crianças de 2 a 5 anos devem ser limitadas a aproximadamente uma hora por
dia. A partir dos 05 anos, o acesso dever ser de duas horas e com monitoramento
de conteúdo, devido a influência emocional que alguns conteúdos podem oferecer.
Instagram: @dra.camilla.guarnieri
Nenhum comentário:
Postar um comentário