Conversamos com a
Dra. Graziele Moraes Losso, geneticista e bióloga molecular, especialista em
aconselhamento Genético Oncológico*, para saber um pouco mais como o
aconselhamento genético é essencial para a prevenção e o diagnóstico
qualificado no tratamento contra o câncer. Divulgação
Quando o assunto é o diagnóstico de uma doença
oncológica (relacionada a tumores), a defesa bastante proferida por médicos
“cada caso é um caso” faz muito sentido. Isso porque a detecção da doença, as
causas dela, o tratamento e as terapias mais indicadas variam muito e sempre de
acordo com as características da doença, histórico médico e genéticas de cada
pessoa.
Conversamos com a Dra. Graziele Moraes Losso,
geneticista e bióloga molecular, especialista em aconselhamento Genético
Oncológico*, para saber um pouco mais como o aconselhamento genético é
essencial para a prevenção e o diagnóstico qualificado no tratamento contra o câncer.
*Dra. Graziele Moraes Losso, geneticista e bióloga
molecular - CRBIO 83634/07, especialista em aconselhamento Genético Oncológico
- Art 07-282833/21, PhD. em Medicina Interna e da Saúde e MSC. Patologia
Molecular pelo Hospital de Clínicas da UFPR. Atualmente está cursando
Leadership - HMX - Harvard Medical School - Cancer Genomic Precision Oncology
(EUA).
O câncer tem cura. Como o uso da tecnologia
atualmente torna isso possível?
Dra. Graziele Losso - Atualmente
já se visualiza o aumento da curva de sobrevida em diversos tipos de cânceres,
e até mesmo a cura. Com o avanço do sequenciamento genético (análise do DNA e
RNA), juntamente com o desenvolvimento de drogas-alvo baseado em marcadores
genéticos tumorais e germinativos, mudou-se o cenário do tratamento e segmento
oncológico. Surgindo um novo conceito em tratamento oncológico, chamado de
“oncologia personalizada”, em que cada indivíduo é tratado conforme seu perfil
genético. Para que haja esta medicina personalizada, existe a necessidade de
testes genéticos específicos.
O que são testes genéticos e como eles podem
apontar os melhores caminhos para o tratamento do câncer?
GL - Testes genéticos são exames realizados no nosso
material genético (DNA ou RNA). Estes exames podem ter dois propósitos
diferentes na oncologia personalizada. O primeiro, mencionado anteriormente,
quando analisamos o material somático, no caso o tumor, procurando algum
marcador genético para uma droga específica. O outro objetivo do teste genético
é determinar, a partir da análise do nosso DNA germinativo, se temos maiores
riscos e propensões a desenvolver determinadas doenças, como é o caso do
câncer. Na oncologia, por exemplo, estes testes são aplicados para compreender
o diagnóstico de cânceres hereditários, assim como o risco do surgimento de
novos tumores. Os cânceres podem ser esporádicos ou hereditários. Os
esporádicos são os mais comuns, causados por fatores epigenéticos (alterações
genéticas que sofremos ao longo da vida, provocada pelo meio ambiente). Já os
hereditários, são causados por alterações genéticas passadas de uma geração
para a outra, e correspondem entre 10% e 15% do total de casos de cânceres.
Então existem síndromes hereditárias de
câncer?
GL - Atualmente, existem 50 síndromes de câncer
hereditário descritas. Estima-se que cerca de 10% a 15% de todas as neoplasias
(tumores) estejam relacionadas a alguma alteração germinativa, portanto,
hereditária. Em determinados cânceres, esta taxa pode ser muito maior. Um dos
casos mais famosos é o da atriz americana Angelina Jolie, que em 2013 foi
identificada com uma mutação patogênica no gene BRCA1, após uma análise em seu
DNA. Esta mutação configura a Síndrome – HBOC - Hereditary breast – ovarian
cancer syndromes (Câncer de Mama e Ovário Hereditário).
Como posso descobrir se tenho propensão a ter
câncer no futuro?
GL - O médico assistente (ginecologista, mastologista,
oncologista, urologista) deve encaminhar para uma consulta de aconselhamento
genético oncológico.
Mas o que é um aconselhamento genético oncológico?
GL - O aconselhamento genético oncológico é um processo
para avaliar e compreender o risco de uma pessoa e seus familiares de terem
câncer no futuro. Também nos casos em que a pessoa já está com câncer, pode ser
avaliado se tem causa hereditária. O Aconselhamento Genético consiste em duas
consultas pré-teste e pós-teste genético com um especialista em genética, onde
a primeira consulta (pré-teste) geralmente envolve uma discussão aprofundada
sobre seu histórico médico pessoal e familiar envolvendo as últimas três
gerações.
Quais informações serão avaliadas?
GL - O conselheiro genético vai montar uma árvore
genealógica de câncer (Heredograma) baseado nas seguintes informações:
histórico de pessoas da família diagnosticadas com câncer; idade da pessoa no
início de qualquer tipo de câncer ocorrido na família; idade atual dos membros
vivos da família e a idade dos que falecerem na data do óbito; localização do
tumor primário dos cânceres (poderá ser necessária uma cópia do laudo de patologia,
se disponível); ou qualquer outra informação relevante sobre a saúde da
família.
No aconselhamento genético pode ser solicitado
algum tipo de exame específico?
GL - Sim, após avaliar seu heredograma, o conselheiro
genético irá conversar com o paciente sobre outras ferramentas que podem
explicar o seu risco de câncer, isto pode incluir testes genéticos. Ele também
falará sobre os benefícios, riscos, custos e limitações dos testes
genéticos.
Quais os benefícios do aconselhamento genético no
paciente oncológico?
GL - A informação da hereditariedade no câncer não é
importante apenas para o paciente com a síndrome genética, ela pode mudar toda
a conduta médica com formas diferentes e mais eficientes de tratamento de sua
doença e da prevenção de novos cânceres. Também, diz respeito à família, uma
vez que, seus parentes (irmãos, filhos, sobrinhos) podem também ser portadores,
com isso o médico pode tomar decisões e condutas profiláticas para toda a
família.
Sabia que estima-se que cerca de 10 a 18% de todos
os tumores estejam relacionados a alguma alteração hereditária?
Em determinados tipos de cânceres, a taxa pode ser
ainda maior. Confira dados sobre as incidências:
- Câncer
de mama – Sete a cada dez (72%) mulheres portadoras de variantes
patogênicas nos genes BRACA1 e BRACA2 são diagnosticadas com câncer de
mama. Apesar de ser uma doença mais prevalente em mulheres, variantes em
BRCA2 aumentam em até 80 vezes o risco de desenvolver o cancro em homens.
Mulheres com mutações nestes genes também têm aumento do risco de câncer
de ovário, cólon, pâncreas e melanoma.
- Estima-se
que de 5 até 10% dos cânceres de mama sejam explicados por alterações
genéticas herdadas. Os genes BRCA1 e 2 explicam 1 a cada 10 destes casos.
Adicionalmente a estes dois genes, existem outros genes considerados como
genes de alto risco (PALB2, PTEN, TP53, ATM e CDH1) e genes de risco
moderado (CHEK2, NBN, NF1 e STK11).
- Câncer
de cólon – cerca de 20% dos pacientes com esse tipo de câncer possuem
componentes genéticos hereditários;
- Câncer
de tireoide – o câncer medular de tireoide, ou CMT, tem componente
hereditário em 20% a 25% dos casos;
- Câncer
de próstata – a forma hereditária ocorre em 10% a 20% dos casos de câncer
de próstata.
Jéssica
Amaral - DePropósito Comunicação de Causas
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