Embora o câncer de mama associado à gravidez
possua baixa incidência, é preciso estar atento aos sintomas para que o
diagnóstico e o tratamento sejam seguros para a gestante e o bebê
A
associação entre câncer de mama e gravidez é rara. Segundo dados do Instituto
Nacional de Câncer (INCA), a incidência é de 1 a cada 3 mil gestantes, dependendo
da população estudada. Mas, a doença durante a gestação possui particularidades
importantes, tais como a limitação do uso de alguns exames ou tratamentos
necessários. Porém, de modo geral, observa-se que o diagnóstico e o tratamento
do câncer de mama conseguem ser feitos adequadamente sem prejuízo para a
gravidez.
De
acordo com o mastologista Marcelo Antonini, membro do Conselho Científico da
Unaccam - União e Apoio no Combate ao Câncer de Mama, um dos fatores que
contribui para o aumento da ocorrência da doença na gravidez é o adiamento na
decisão de ter filhos. “Engravidar antes dos 35 anos é uma forma de redução do
risco do câncer de mama, uma vez que o tecido mamário só completa o seu
desenvolvimento na gestação. Assim, quanto mais tempo a mulher adiar a
gravidez, maior será o risco de o tumor aparecer”, esclarece.
Mas
a idade não é uma regra. Em 2012, com apenas 26 anos, Nátali de Araújo foi
diagnosticada com câncer de mama. Após pouco mais de um ano de tratamento com
quimioterapia, radioterapia e mastectomia da mama direita, Nátali foi
surpreendida com uma gravidez. “Quando terminei a radioterapia e estava
iniciando a hormonioterapia descobri que estava grávida. Eu ia fazer um exame
que precisava tomar contraste e antes precisei fazer um exame de sangue, foi
quando descobri a gravidez”, relembra.
Apesar
do susto de uma gravidez não planejada e dos receios por conta da doença,
Nátali optou por interromper o tratamento e seguir adiante com a gestação. “Foi
um susto. Eu escutei muita besteira, pessoas dizendo que meu câncer ia voltar
porque eu ia receber uma carga muito grande de hormônios. Foi, de fato, uma
gestação de alto risco, mas no final deu tudo certo”, conta.
Vitório
nasceu em março de 2014 e acaba de completar 8 anos. “Meu filho nasceu prematuramente,
mas saudável. Consegui amamentá-lo mesmo com apenas uma das mamas, intercalando
com a mamadeira. Logo que parei de amamentar, fiz a mastectomia da outra mama”,
explica.
Para
Nátali o apoio não só de familiares, mas de toda a sociedade, é fundamental
para as pacientes durante todo o processo. “Eu conheci a Unaccam em um evento
do Outubro Rosa, em 2013. Na época, a fundadora da instituição, Ermantina
Ramos, a Tininha, me apoiou durante todo o tratamento e, como eu era a mais
nova do grupo, ela acabou me acolhendo como filha. Fico emocionada ao lembrar
dela, pois foi uma pessoa muito especial”, diz.
Diagnóstico do Câncer de mama na gestação
O
diagnóstico de câncer de mama em mulheres grávidas é frequentemente tardio.
Apenas um terço dos tumores é detectado durante a gestação. O restante é
descoberto apenas no pós-parto, esclarece o mastologista Marcelo
Antonini.
“A
detecção é difícil por causa do aumento do tamanho e da densidade mamária
durante a gravidez. Esse aumento dificulta o diagnóstico por meio do exame
físico ou da mamografia”, diz o médico.
No
entanto, apesar de a eficácia ser limitada, o autoexame das mamas é muito
importante. De acordo com Antonini, ele é uma fonte de suspeita diagnóstica em
mulheres gestantes jovens. Isso acontece porque muitas ainda não atingiram a
idade para iniciar o rastreamento por mamografia.
Foi
enquanto amamentava o filho de sete meses que Janaína Zorzetti observou, pela
primeira vez, um nódulo na mama. “Como eu estava amamentando, minha mama estava
muito túrgida, o que dificultou um diagnóstico mais preciso”. Na ocasião, em
outubro de 2021, o nódulo estava com 1,8 cm. Dois meses depois, Janaína
percebeu que ele teve um aumento significativo. Novos exames foram feitos e
veio o diagnóstico do câncer de mama. “No dia 23 de dezembro fiz a primeira
quimioterapia. Graças a Deus correu tudo muito bem, foi tudo muito rápido. A
pior parte para mim foi parar de amamentar”, relembra.
Janaína
conta que receber o diagnóstico de câncer com um filho ainda pequeno não é
fácil. “Quando você recebe a notícia que está com câncer, o seu chão cai. Era
tudo desconhecido para mim, eu achava que a palavra câncer já era uma sentença
de morte. O que eu pedia para Deus é que eu queria ver meu filho crescer”.
Segurança das mamografias durante a gravidez
Embora
80% das lesões mamárias encontradas na gestação sejam benignas, a
ultrassonografia das mamas e a mamografia podem ser utilizadas com grande
segurança para avaliar uma lesão suspeita.
“A
mamografia pode diagnosticar a maioria dos cânceres de mama em uma mulher
grávida, e geralmente é seguro fazer este exame durante a gravidez”, explica
Antonini. A quantidade de radiação necessária para a realização do exame
é pequena e focada apenas nas mamas, de modo que a maioria não alcança outras
partes do corpo. Já a ressonância magnética de mama geralmente não é utilizada,
pois o contraste (gadolíneo) não é recomendado durante a gravidez, complementa
o mastologista.
Tratamento de câncer de mama na gestação
Ao
contrário do que se pensa, quase todos os tratamentos estão liberados durante a
gravidez. As exceções são a radioterapia, alguns quimioterápicos (metotrexato e
5-fluoracil) e as terapias anti-Her-2 (trastuzumabe e pertuzumabe).
A
cirurgia do câncer de mama deve ser realizada da mesma forma. “Recomenda-se
sempre que possível evitar cirurgia no primeiro trimestre de gravidez, quando o
risco de aborto é maior” ressalta o especialista. A cirurgia conservadora
necessita de complemento com a radioterapia, o que pode dificultar o uso desta
técnica em situações de gravidez inicial e tumores que não necessitam de
quimioterapia.
“Em
qualquer etapa da vida o diagnóstico precoce é fundamental, e durante a
gravidez o cuidado com as mamas não pode ser esquecido” reforça a presidente da
Unaccam, Clarisia Ramos. Por isso, a recomendação é que qualquer alteração
notada seja informada ao obstetra ou ao ginecologista. “É importante cuidar-se
sempre e proteger quem você ama”, finaliza.
Evento debate o câncer na gravidez
No
dia 4 de maio, a Unaccam promoverá um encontro online no Instagram da
instituição para debater o câncer de mama e a gravidez. Durante o evento, o
mastologista Marcelo Antonini irá falar sobre as principais dúvidas que cercam
o tema. A ex-paciente de câncer de mama, Nátali de Araújo, também estará presente
e irá compartilhar a sua experiência.
Serviço:
“Câncer
de mama e gravidez”
Data: 04/05 às 19h30
https://www.instagram.com/unaccam/
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