Independente da
gravidade da doença, é recomendável acompanhamento médico após no mínimo 15
dias da curaFoto de Furknsaglam no Pexels
Segundo dados do Ministério da Saúde, o mês de
junho atingiu a marca de 500 mil mortes por COVID no Brasil e mais de 16
milhões de casos recuperados da doença. Estima-se que desses, em torno de 80%
apresentam alguma sequela, que ainda não se tem o conhecimento se são
permanentes ou temporárias.
Segundo a médica clínica geral e nefrologista e
voluntária do Projeto COM.VIDA, Luciana Moreira Alves, independente da
gravidade da doença, os pacientes podem apresentar sequelas. “A pessoa pode ter
um quadro bem leve, ou de hospitalização grave, e podem acabar fazendo a
síndrome pós covid, que são desde fadiga, perda de força muscular, falta de ar,
cefaleia, ansiedade e depressão, queda de cabelo, perda do olfato ou do
paladar, alteração da memória e déficit de concentração, principalmente em
estudos e trabalhos”, explica.
É importante salientar que todo o paciente
diagnosticado por COVID, seja quadro leve ou não, necessita realizar um
check-up após a alta. “De forma geral, o ideal é procurar um médico após
quinze, no máximo trinta dias da alta, para avaliar a recuperação e a
necessidade de manter algum acompanhamento”, enfatiza Luciana. Segundo a
médica, toda essa avaliação é individualizada, pois depende da existência de
comorbidades de cada paciente, e como ficou e qual órgão foi mais afetado,
avaliando como foi o desenvolvimento da doença. “Por isso não existe uma regra
no tratamento após a covid, e isso é importante que todos recuperados
entendam”, alerta Luciana.
“Os pacientes que recebem alta hospitalar
imediatamente são encaminhados para o ambulatório da especialidade que
necessitam”, explica a médica. Já as pessoas com sintomas leves, e que não
necessitaram de hospitalização, precisam ficar atentos se mantem algum sintoma
ou se apresentam alguma ocorrência nova. “Por exemplo, se o paciente mantém o
cansaço por um tempo prolongado ou começa a ter dor no peito ou palpitação, ou
sintomas já conhecidos, como falta de memória, déficit de concentração, precisa
imediatamente procurar o atendimento médico”, ressalta. Caso o paciente não
tenha um médico de confiança, precisa buscar atendimento nas Unidades Básicas
de Saúde, e se for um sintoma mais agudo, ir ao Pronto Atendimento. “Vejo hoje
que as pessoas estão buscando alternativas, muita gente pagando por consultas
populares, buscando projetos voluntários, correndo atrás do atendimento de
alguma forma. Cada qual com seu recurso. Mas, particularmente acredito que as
Unidades de Atendimento são a saída e se não conseguir, buscar o Pronto
Atendimento hospitalar”, ressalta.
Mas a dúvida no pós covid é qual especialidade
procurar. “O aconselhável é se dirigir ao clínico geral, que ele orientará os
exames necessários e a indicação de especialidades, se for o caso”, orienta
Luciana. No entanto, se os sintomas já são definidos, como por exemplo, falta
de ar e cansaço, deve-se procurar um cardiologista ou pneumologista. Falta de
memória ou dor de cabeça constante, um neurologista. Depressão ou ansiedade,
psicólogo ou psiquiatra.
De regra, segundo Luciana, não existe uma relação
de exames solicitados no pós covid, pois depende de cada paciente e de suas
queixas, qual o órgão mais afetado e doenças pré-existentes. “Não podemos
afirmar que todo o paciente necessita de exames, precisamos de fato,
examiná-los e conversar individualmente para saber qual protocolo será
aplicado”, enfatiza Luciana.
Em relação ao tempo de isolamento, a recomendação
atual da Organização Mundial de Saúde é no mínimo 10 (dez) dias para
assintomáticas a partir do dia que tiveram PCR positivo. Se a pessoa for
sintomática, dez dias a partir do início dos sintomas e com pelo menos três
dias sem sintomas. “Ou seja, durante três dias não pode sentir nada, nem febre
e não pode tá com medicação pra febre pra não mascarar”, explica Luciana. Já a
recomendação da Anvisa é um pouquinho mais complicada, pois diferenciam em
quadro leve, quadro grave. “E faz sentido, porque parece que os pacientes que
ficam mais graves tem uma carga viral maior e eles na maioria dos estudos
transmitem a doença por mais tempo, então aí fala-se em vinte dias de
isolamento”, salienta. O que é importante ressaltar que, o tempo de isolamento
não interfere na cura, mas sim na transmissão do vírus. “Então, se a pessoa tá
isolada e sai do isolamento antes, ela tá transmitindo vírus e nesse caso,
ficamos com essa alta taxa de transmissibilidade”, afirma a médica.
Sobre o Projeto COM.VIDA
Os brasileiros que estão conseguindo vencer o
vírus, acabam com sequelas permanentes irreversíveis. É o caso da dentista, e
idealizadora do Projeto COM.VIDA, Raquel Trevisi, que teve COVID-19 de forma
grave, necessitando de 30 dias de internação e 20 dias de UTI. “Tive 85% de
comprometimento nos pulmões, duas intubações, trombose no braço e perna,
infeção no sangue. Tive alta hospitalar apenas movimentando o pescoço, posso
até dizer que saí com um quadro de tetraplegia temporária”, relembra.
Presenciando e sentindo os custos de arcar com as
sequelas deixadas pela COVID, e nada sendo falado a respeito, em nenhuma
cidade, Raquel criou o Projeto COM.VIDA onde diversos voluntários adotam
pacientes que saem de hospitais para o tratamento pós hospitalização. “No
projeto fornecemos todos os atendimentos que o paciente necessita, como
fisioterapia, fonoaudiólogo, psicólogo, médico, enfermeiro, nutricionista,
medicamentos, exames, tudo sem custos e de forma voluntária”, enaltece.
A ideia de Raquel veio após presenciar a
desassistência de muitas pessoas, por não terem condições financeiras para a
plena recuperação. “Desde que estava internada na UTI, em estado grave, pensava
sobre os tratamentos após alta. E a partir de uma conversa com a chefe de
enfermagem da UTI, em casa, a questionei e constatei que muitas pessoas
realmente não recebem a assistência necessária pós Covid”, reforça. Com o
projeto não são apenas os pacientes ajudados, mas sim as famílias.
Para os interessados no atendimento do Projeto
COM.VIDA, ou em ser voluntário dessas ações, as informações para adesão estão
na página do instagram @projeto.com.vida.
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