Estudo mostra que a superfície do olho tem duas enzimas de entrada do coronavírus que facilitam a transmissão.
O frio é o ambiente ideal
para a proliferação de todo tipo de vírus, inclusive do Sars-Cov-2 que
transmite a COVID-19. De acordo com o oftalmologista
Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier, os prontuários do hospital
mostram que a higienização das mãos com álcool por conta da pandemia
diminuiu em 20% os casos de conjuntivite viral atendidos pelos consultórios nos últimos dois meses, comparado ao mesmo período
de 2019.
A má notícia é que nos meses
mais frios a irritação nos olhos aumentou em
35% dos pacientes que chegam ao hospital usando
a sobra do colírio de um familiar. “Compartilhar colírio nunca foi boa ideia
porque cada pessoa tem uma flora bacteriana e 30 dias depois de aberto todo
colírio perde a validade”, afirma Queiroz Neto.
Em meio à pandemia o risco é redobrado. “Basta
tocar o bico dosador no olho para pegar COVID-19 caso a outra pessoa tenha o
vírus alojado no olho. Isso porque, estudo publicado na Nature Medicine mostra
que a superfície ocular tem duas enzimas de entrada do coronavírus, a ACE2 e a TMPRSS2”, salienta. Estas enzimas,
explica, permitem a sobrevivência do Sar-Cov-2 por 27 dias na lágrima que forma
a barreira de proteção entre o olho e o ambiente. Por isso, até uma pessoa sem
nenhum sintoma de COVID pode transmitir o vírus quando compartilha colírios,
toalhas, fronhas ou cosméticos. A infecção pode também atingir o sistema
respiratório através do canal lacrimal que interliga o olho ao nariz. O oftalmologista
destaca que apesar disso, três estudos divulgados pela Academia Americana de
Oftalmologia revelam que a conjuntivite viral só acontece nos casos graves de
COVID-19.
Causas
Para Queiroz Neto
este é segundo fator que explica porque os atendimentos de conjuntivite viral
tiveram queda nos últimos dois meses da pandemia nos hospitais especializados.
As doenças externas predominantes neste período foram a síndrome do olho seco e
conjuntivite alérgica. A estiagem e poluição originam estas alterações,
pontua.
O olho seco, explica, é uma alteração na quantidade ou qualidade da lágrima que
desequilibra a imunidade da superfície do globo ocular. Os sintomas são
vermelhidão, ardência, visão embaçada, coceira, e maior sensibilidade à luz.
Já a conjuntivite
alérgica é uma inflamação da conjuntiva, membrana que recobre a esclera, parte
branca do olho, e a face interna das pálpebras. O especialista destaca que a
conjuntivite alérgica não é contagiosa, mas pode levar ao ceratocone, doença
que afina a córnea, por causa da coceira no olhos. A estimativa da OMS (Organização Mundial da
Saúde), salienta, é de que 7 em cada 10 pessoas desenvolvem alergia nos olhos
simultânea às doenças respiratórias como rinite, sinusite, bronquite ou asma
que triplicam nos meses mais frios.
Tratamento
O tratamento do
olho seco é feito com colírio lubrificante, mas não vale usar qualquer um. Isso
porque a lágrima tem três camadas e cada colírio age sobre uma delas,
esclarece. “Quando a causa é o bloqueio de uma pequena glândula na borda da
pálpebra responsável pela produção da camada gordurosa que impede a evaporação
da lágrima, o tratamento mais efetivo é a aplicação de luz pulsada que
desobstrui esta glândula”, afirma.
A conjuntivite
alérgica é tratada com colírio anti-histamínico nos casos mais leves e com
corticoide nos mais severos. O médico adverte que o uso prolongado de colírio
com corticoide predispõe ao glaucoma e à catarata. Por outro lado, a
interrupção do uso não pode ser repentina para evitar efeito rebote. Por isso,
embora a venda seja livre, o medicamento só deve ser usado sob supervisão
médica.
Prevenção
As
dicas do oftalmologista para prevenir o olho seco e a conjuntivite alérgica no
frio são:
·
Beber água com
frequência.
·
Colocar vasilhas com
água nos ambientes.
·
Adicionar na alimentação
nozes, semente de linhaça, salmão e sardinha que são ricos em ômega 3.
·
Evitar o uso de
aquecedores ambientais.
·
Manter os ambientes
livres de poeira.
·
Desviar os olhos das
telas eletrônicas por 5 a 10 minutos a cada hora.
·
Piscar voluntariamente
quando usar o computador ou tablet.
·
Proteger os olhos da
poluição com óculos apropriados nas atividades externas.
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