Opinião
Sempre foi um problema para os gregos antigos a
degradação das coisas por todo canto. Nada perdura. O corpo, a árvore, até a
rocha se desfaz diante da inevitável ação do tempo. Só os deuses eram eternos e
essa diferença explicava sua superioridade. Corromper é estragar, perder sua
forma e sentido originais. Uma maçã esquecida na gaveta corrompe-se. Um arquivo
de computador que não consegue abrir e mostrar seu conteúdo, corrompeu-se.
Nossa vida é um remar contra a maré da efemeridade de tudo, iludindo-nos com a
ideia sempre presente de que podemos chegar a algum lugar onde tudo é sempre o
mesmo, sem fins e sem novidades.
A degradação das coisas está nas coisas mesmas.
Hoje há uma palavra para designar quando isso ocorre nos objetos: é a
obsolescência. Tudo têm um código interno com a data de seu fim, entendendo-se
fim como a impossibilidade de continuar a exercer a função esperada. Proteger
contra a ação externa serve apenas como uma forma de evitar acelerar esse
processo, mas ainda não foi possível modifica-lo a ponto de inverte-lo ou, ao
menos, desliga-lo. Ou seja, tudo caduca e depois estraga-se, deixando de
funcionar. Para alguns casos, chamamos a esse processo, "morrer".
Na Política, a corrupção é o desvio da finalidade
que esperamos dos órgãos e/ou dos seus representantes. Quando se espera que o
dinheiro dos impostos seja usado, por exemplo, para a construção de escolas,
mas descobrimos que parte desse dinheiro foi usado na campanha eleitoral do
governante e, graças a isso, ele recebeu mais um mandato, há aqui um duplo
estrago: o do fim não alcançado e o do erro quanto à pessoa renovado. Se
descobrimos coisas assim, sentimo-nos traídos, enganados. Não que não saibamos
que tudo estraga, mas nunca é fácil verificar que o momento é chegado.
Por isso queremos governos que não sejam corruptos.
É preciso que, por um tempo, eles funcionem. Imaginar que não vão se estragar é
uma dessas ilusões que só a falta de escola explica. Ou a falta de governos que
usem o dinheiro dos nossos impostos na construção delas. Como tudo, tudo
estraga. Inclusive os governos. Daí precisarmos refunda-los de tempos em
tempos. Maquiavel, no século XVI, já afirmava que “a virtù encontra seus limites
lá onde a corrupção alcançou um tal nível que seus efeitos se tornaram
incontroláveis”. E o que precisa ser feito, sempre, é “evitar que a corrupção
se instale a tal ponto que toda ação se torne inútil”.
Muitas vezes comparamos nossa esperança na escolha,
com a realidade que o tempo impõe. Não temos um preparo - a escola, de novo -
para identificar nas diversas atitudes dos governantes e dos agentes públicos
em geral aquelas que aceleram a sua corrupção. É fato que muitas vezes, aqueles
que são capazes de perceber o andar da carruagem não são aqueles que são
capazes de deter os cavalos. Mas, mesmo assim, o caminho é um só: governos,
como tudo o que nos rodeia, acabam; e para evitar escolher governos estragados
ou que se estraguem rapidamente, precisamos observar atentamente e agir
rapidamente, sempre tendo em mente a experiência dos exemplos já ocorridos -
rememorando-os - para que nos ajudem nesse refundar constante que é o da nossa
existência nesse mundo.
Daniel Medeiros - Doutor em Educação Histórica e
professor no Curso Positivo.
danielmedeiros.articulista@gmail.com
@profdanielmedeiros
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