A Cúpula do Clima, realizada no final de abril e liderada pelo presidente norte americano Joe Biden, fez com que vários países se posicionassem referente às questões da emergência climática e à busca por uma “descarbonização” das suas matrizes energéticas, atividades comerciais e melhoras nas políticas ambientais.
Líderes mundiais apresentaram as suas metas das
agendas climáticas e a importância do tema para a criação de empregos, novas
tecnologias e a busca da tal “economia verde”. Esta reunião que durou dois dias
foi uma preparação para a COP-26, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças
Climáticas, que será realizada em Glasgow, na Escócia, em novembro deste ano. É
neste encontro oficial das Nações Unidas que os países, oficialmente, se
comprometem e fazem os acordos geopolíticos perante outros países, empresas,
ONGs, jornalistas, entre outros.
Todo este movimento acaba repercutindo nas
empresas, nos investidores e nos negócios, principalmente, no tema que tanto
povoa a minha “bolha” digital, o tal do ESG. Para aqueles que ainda não estão
acostumados com a sigla, o termo tem a ver com uma gestão mais sustentável,
fazendo com que a empresa pense não somente na questão financeira do negócio,
mas também em todos os indicadores e resultados ligados ao ambiental
(Environmental), social (Social) e à governança (Governance).
O número de fundos ESG em 2020 disponível para
investidores americanos cresceu para quase 400 – um aumento de 30% em relação a
2019 e um aumento de quase quatro vezes em uma década, de acordo com a
Morningstar, uma grande e independente empresa de pesquisas de investimentos.
Inclusive, em novembro de 2020, esta empresa, formalmente, integrou o ESG em
suas análises de ações, fundos e gestores de ativos.
No Brasil, segundo a pesquisa “A evolução do ESG no
Brasil”, da Rede Brasil do Pacto Global e da Stilingue, de abril de 2021, 78%
da geração dos Millennials e 84% da geração Z declaram optar por este tipo de
investimento. E no ano de 2020 a discussão deste tema cresceu sete vezes mais,
em relação ao ano anterior.
Mas será que é só uma discussão das redes?
Parece que não, pois a pesquisa mostra ainda que
84% dos representantes do setor empresarial afirmaram que aumentou o interesse
em 2020 em relação a entender mais sobre esta agenda e sobre os critérios ESG.
Nas respostas das 308 empresas que fazem parte da
Rede Brasil do Pacto Global, foi constatado que as empresas estão atuando com
vários tópicos e indicadores do ESG, sendo que as cinco iniciativas mais
atuantes nas empresas atualmente são: 79% criação de mecanismos de compliance
e governança; 76% na gestão de resíduos, reciclagem e reaproveitamento; 68% na
criação de comitês e órgãos de governança buscando a integridade da
organização; 61% de apoio à Covid-19; e 60% no apoio às comunidades no entorno.
O interesse para entrar em fundos e índices de
sustentabilidade corporativa também aumentou, segundo o Índice de
Sustentabilidade Empresarial – ISE da B3, o número de empresas inscritas para
fazer parte desta carteira foi 69% maior em 2020, comparado ao ano de 2019.
Mostrando a importância deste que é o quarto índice de sustentabilidade
corporativa criado no mundo, e o primeiro no Brasil, que levanta os critérios
de eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança
corporativa em cada uma das empresas. Desde 2005 até dezembro de 2020, o ISE apresentou
uma rentabilidade de +315% contra +272% da Ibovespa.
Ainda sobre os fundos, de acordo com o levantamento
na Morningstar e Capital Reset, os fundos ESG no Brasil captaram R$ 2,5 bilhões
em 2020, sendo que mais da metade deles havia sido criada nos últimos 12 meses.
E este ecossistema está crescendo, pois no ESG Tech
Report da Distrito, de maio de 2021, são apresentadas as várias empresas de
tecnologia que estão trabalhando com os temas de ESG, mostrando que já começa a
ser formada uma rede de serviços, apoio e funcionalidades para uma melhor
gestão e reporte das questões de governança, ambiental e social das
empresas.
Mas as empresas estão colocando o ESG no seu
dia-a-dia?
A resposta é sim, desde que eu trabalhava nas
grandes empresas, as ações ligadas à temática estavam acontecendo, talvez menos
mensuradas e relatadas naquela época, quase uma década atrás. Empresas, como a
Vivo, que acabou de lançar o seu relatório de sustentabilidade 2020, conta
todos os pontos de ESG nas mais de 100 páginas de relatos. Ou a Klabin que,
além das várias ações que realiza, criou indicadores específicos atrelados aos
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, os KODS – Objetivos Klabin
para o Desenvolvimento Sustentável. Estas e muitas outras empresas estão inserindo
a temática diariamente nos objetivos, metas, processos e com melhorias
constantes. Nossos colegas profissionais pelo desenvolvimento sustentável estão
arduamente trabalhando para a implantação do ESG na prática.
É um processo de aprendizado constante, uma nova
forma de gerir os negócios, não pensando somente na lucratividade a qualquer
preço e a qualquer custo. Até o tradicional bônus das metas está sendo
alterado, como exemplo disso temos a Duratex, que atrelará 10% da remuneração
variável de executivos às metas ESG da empresa.
Estes são os novos tempos pós-pandemia que
precisaremos mudar de vez, o tradicional mindset com somente um foco e de
processos lineares. Empresas, mais ESG, por favor!
Marcus Nakagawa - professor da ESPM; coordenador do
Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); idealizador e conselheiro
da Abraps; e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de
vida. Autor dos livros: Marketing para Ambientes Disruptivos e 101 Dias com
Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo (Prêmio Jabuti 2019).
www.marcusnakagawa.com,
www.blogmarcusnakagawa.com;
@ProfNaka
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