O Brasil ultrapassa as 331 mil mortes pela covid-19 e vive o colapso do sistema de saúde, com falta de leitos, profissionais e até de oxigênio. Ao mesmo tempo, o noticiário exibe diariamente festas clandestinas, desrespeito a normas sanitárias, discursos de negação em todos os níveis da sociedade. O psicólogo especializado em Crises e Emergências Alexandre Garrett afirma que a dificuldade de conscientizar as pessoas sobre a necessidade da quarentena acontece por uma série de motivos, “desde a falta de amadurecimento da sociedade até a ausência de liderança”.
Segundo
Garrett, a negação é um mecanismo para tentar escapar da realidade. “A
realidade é muito dura e muitos não têm estrutura e maturidade para encarar
qual é a parte que cabe a si próprio para ajudar a combater essa pandemia. No
entanto, temos que ter responsabilidade, pois a luta contra o vírus é de todos
nós”, afirma.
Reduzir
o negacionismo, a falta de empatia e o desrespeito às regras determinadas pelas
autoridades, na avaliação do psicólogo, passa pelo amadurecimento da sociedade.
“Existe um processo que a psicologia chama de individuação, que ocorre
quando a pessoa toma consciência das suas responsabilidades como adulto. Esse
processo é uma luta contra tudo e todos, uma forma de resistência que o
organismo faz de não aceitar essa mudança. E uma das regras desse processo é o
negar a realidade, não aceitar. A individuação é um processo de construção da
individualidade e a gente constrói a nossa individualidade nos espelhando no
outro, nos exemplos que nós temos”, explica.
Na avaliação do especialista, o desrespeito às normas sanitárias está ligado à falta de liderança |
O especialista diz que para quebrar essa barreira é preciso acelerar o processo de choque desses adolescentes e adultos que ainda não tomaram consciência da atual realidade. “Isso se faz com exemplos e atitudes, sejam da família, dos amigos, mas, principalmente, dos líderes, de quem comanda o país.”, diz.
Garret
dá exemplos de como os líderes podem ser determinantes nesse processo. “Os países
europeus e os Estados Unidos estão também sofrendo com a covid, mas a população
se sente apoiada e protegida em uma liderança forte. O exemplo do líder é
fundamental para conscientizar a população. Quando o presidente da República
adota um discurso de negação e transforma a adoção de medidas de quarentena em
uma disputa política, o resultado é desastroso para todos e desestimula o
cumprimento das normas sanitárias”, afirma.
Garrett
conta que a longa duração da crise é outro fator que desestimula o
distanciamento social. “Estamos vivendo há mais de um ano trancados dentro
de casa, o quadro de angústia e desespero social aumenta e a cada dia fica mais
difícil manter o isolamento, mesmo entre as pessoas mais conscientes. Em outra
frente, isso tem provocado uma certa rebeldia na população que insiste em se
aglomerar em bares, restaurantes ou festas particulares”,
completa o especialista.
Essa
rebeldia, explica Garrett, não é exclusividade dos adolescentes. “Hoje a
adolescência não é mais definida pela idade. É definida pela falta de noção da
realidade e de sua responsabilidade”, afirma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário