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quinta-feira, 1 de abril de 2021

O vírus invisível responsável pelo esgotamento mental de infectados e não infectados

Tenho certeza que todos vão concordar comigo: estamos todos cansados. Esgotados! Positivados ou não, o vírus está saturando a mente humana. Estamos cansados de ouvir falar nas tragédias e nas mortes, sofrendo pelo luto em nossa família ou perto dela. Sofrendo pelos males trazidos pelo isolamento e pelas inúmeros adaptações. Sofrendo pela enxurrada de notícias que recebemos todos os dias. Sofrendo pelo acúmulo de preocupação em relação ao dia seguinte. Uma imprevisibilidade que desafia a necessidade de controle do ser humano.

O número de pessoas que vem demonstrando esse esgotamento emocional só aumenta. A cada dia vemos a dor e a incerteza crescendo em grupos de familiares ou amigos. O medo de ser contaminado ou novamente infectado é surreal. Sem dúvida, essa onda de fobias e o desequilíbrio que o momento provoca está alterando os comportamentos e favorecendo o surgimento ou o agravamento de transtornos e distúrbios psíquicos de todas as naturezas.

Outro fator conflitante é o volume da oferta virtual de cursos, lives, treinamentos, mentalizações, entre outros meios de prender o telespectador no universo tecnológico - que vem gerando ainda mais fadiga mental. Tudo isso porque estamos cansados, assustados. E como não param de chegar informes de novas ondas de contaminação cada vez mais severas(estudos dizem que estamos na 3ª onda), a sensação é de que o ciclo não cessa.

Esse cansaço abrange, hoje, não só os adultos. Percebemos, também, um esgotamento físico e mental das crianças e dos jovens - que foram obrigados a aderir a uma modalidade de aulas virtuais que sugam a energia e mostra seus efeitos desgastantes ao fim do dia. Mesma sensação relatada por alguns pais que vivem a realidade do Home Office e descrevem uma necessidade de um jogo de cintura imenso para se adaptar a este novo modelo de trabalho. Já são mais de 365 dias vivendo em meio a uma sensação devastadora de perda da liberdade, onde os sonhos são cerceados e o medo toma conta de toda a nossa essência. Pouco mais de um ano de pandemia recheado com a preocupação excessiva em relação ao imprevisível.

Quando trazemos essa realidade para dentro de uma avaliação psicoterápica, percebemos o quanto a máxima de Freud, o pai da psicanálise, faz todo o sentido para nós,  meros mortais: “o equilíbrio mental auxilia e anda de mãos dadas com a saúde do corpo”. Neste sentido, estudos comprovam que, quanto mais equilibrados emocionalmente estivermos, mais imunidade podemos ter. Desta forma, minimizamos os impactos negativos em relação a doenças fisiológicas e mentais. Cientificamente e psicologicamente, isso faz muito sentido. Uma vez que podemos ter um pouco mais de condição de neutralizar o medo e, assim, aumentam as chances de uma maior conscientização sobre o equilíbrio que pode nos levar a um controle das emoções e dos sentimentos. Além de neutralizar os efeitos do aparecimento de sintomas como cefaleias, dores musculares excessivas, distúrbios do sono, alterações de apetite, alterações de humor, entre outros.

A chave e o segredo é conseguir se manter equilibrado e, desta forma, preservar o bem-estar físico e emocional. Somos falhos, somos seres em evolução e, ao sermos obrigados a encarar uma pandemia com todas as proporções como a que temos vivido, sem dúvida nos vemos desafiados a suportar e vencer todos os nossos limites.

Mas ser forte o tempo todo não é sinônimo de heroísmo. Ninguém é forte em tempo integral. É necessário se permitir chorar, viver o luto, sofrer, ficar triste e viver os momentos, tendo condições para externar emoções que precisam ser colocadas para fora. Alimentar as dores, não falar delas e não vivenciar os sentimentos não fazem de você um super-herói. Pelo contrário: em algum momento a conta chega e essas dores precisam ser vivenciadas e encaradas de frente. Ao verbalizar e buscar o entendimento e a função de cada sentimento, positivo ou negativo, certamente você conseguirá ressignificar emoções e transformar dor em sabedoria.

Enfim, sabemos que essa mudança comportamental não é fácil. É preciso modificar o olhar e ter a consciência de que o momento pede responsabilidade, cautela e paciência. Além disso, ao aderir a uma onda de desespero, estaremos contribuindo com a elevação dos transtornos de ansiedade generalizada e do pânico, além de outros sintomas psíquicos graves que assolam grande parte da população nos últimos tempos. É necessário se comprometer com a sua sanidade mental, com a preservação da saúde e com o autocuidado - visto que se preservar mental e fisicamente é uma ação individual. Lembrando que nossa mente é muito poderosa e podemos, sim, controlar nossas emoções e atrair o positivismo e o otimismo para conseguir enxergar um horizonte diferente do cenário que estamos vendo hoje. Precisamos acreditar que é possível. Que o pesadelo vai acabar e poderemos nos livrar do medo e da angústia que nos acompanham já há vários meses. Trabalhe suas emoções e, se precisar, busque ajuda de um profissional adequado e especializado em saúde mental. Afinal, estamos lidando com um inimigo invisível e parte do cuidado está na mão de cada um de nós.

 


Dra. Andréa Ladislau * Doutora em Psicanálise * Membro da Academia Fluminense de Letras - cadeira de numero 15 de Ciências Sociais * Administradora Hospitalar e Gestão em Saúde  * Pós Graduada em Psicopedagogia e Inclusão Social  * Professora na Graduação em Psicanálise * Embaixadora e Diplomata In The World Academy of Human Sciences US Ambassador In Niterói * Professora Associada no Instituto Universitário de Pesquisa em Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo. * Professora Associada do Departamento de Psicanálise du Saint Peter and Saint Paul Lutheran Institute au Canada, situado em souhaites.

  

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