Tenho certeza que todos vão concordar comigo: estamos todos cansados. Esgotados! Positivados ou não, o vírus está saturando a mente humana. Estamos cansados de ouvir falar nas tragédias e nas mortes, sofrendo pelo luto em nossa família ou perto dela. Sofrendo pelos males trazidos pelo isolamento e pelas inúmeros adaptações. Sofrendo pela enxurrada de notícias que recebemos todos os dias. Sofrendo pelo acúmulo de preocupação em relação ao dia seguinte. Uma imprevisibilidade que desafia a necessidade de controle do ser humano.
O número de pessoas que vem demonstrando esse
esgotamento emocional só aumenta. A cada dia vemos a dor e a incerteza
crescendo em grupos de familiares ou amigos. O medo de ser contaminado ou
novamente infectado é surreal. Sem dúvida, essa onda de fobias e o
desequilíbrio que o momento provoca está alterando os comportamentos e
favorecendo o surgimento ou o agravamento de transtornos e distúrbios psíquicos
de todas as naturezas.
Outro fator conflitante é o volume da oferta
virtual de cursos, lives, treinamentos, mentalizações, entre outros meios de
prender o telespectador no universo tecnológico - que vem gerando ainda mais
fadiga mental. Tudo isso porque estamos cansados, assustados. E como não param
de chegar informes de novas ondas de contaminação cada vez mais severas(estudos
dizem que estamos na 3ª onda), a sensação é de que o ciclo não cessa.
Esse cansaço abrange, hoje, não só os adultos. Percebemos,
também, um esgotamento físico e mental das crianças e dos jovens - que foram
obrigados a aderir a uma modalidade de aulas virtuais que sugam a energia e
mostra seus efeitos desgastantes ao fim do dia. Mesma sensação relatada por
alguns pais que vivem a realidade do Home Office e descrevem uma necessidade de
um jogo de cintura imenso para se adaptar a este novo modelo de trabalho. Já
são mais de 365 dias vivendo em meio a uma sensação devastadora de perda da
liberdade, onde os sonhos são cerceados e o medo toma conta de toda a nossa
essência. Pouco mais de um ano de pandemia recheado com a preocupação excessiva
em relação ao imprevisível.
Quando trazemos essa realidade para dentro de uma
avaliação psicoterápica, percebemos o quanto a máxima de Freud, o pai da
psicanálise, faz todo o sentido para nós, meros mortais: “o equilíbrio
mental auxilia e anda de mãos dadas com a saúde do corpo”. Neste sentido,
estudos comprovam que, quanto mais equilibrados emocionalmente estivermos, mais
imunidade podemos ter. Desta forma, minimizamos os impactos negativos em
relação a doenças fisiológicas e mentais. Cientificamente e psicologicamente,
isso faz muito sentido. Uma vez que podemos ter um pouco mais de condição de
neutralizar o medo e, assim, aumentam as chances de uma maior conscientização
sobre o equilíbrio que pode nos levar a um controle das emoções e dos
sentimentos. Além de neutralizar os efeitos do aparecimento de sintomas como
cefaleias, dores musculares excessivas, distúrbios do sono, alterações de apetite,
alterações de humor, entre outros.
A chave e o segredo é conseguir se manter
equilibrado e, desta forma, preservar o bem-estar físico e emocional. Somos
falhos, somos seres em evolução e, ao sermos obrigados a encarar uma pandemia
com todas as proporções como a que temos vivido, sem dúvida nos vemos
desafiados a suportar e vencer todos os nossos limites.
Mas ser forte o tempo todo não é sinônimo de
heroísmo. Ninguém é forte em tempo integral. É necessário se permitir chorar,
viver o luto, sofrer, ficar triste e viver os momentos, tendo condições para
externar emoções que precisam ser colocadas para fora. Alimentar as dores, não
falar delas e não vivenciar os sentimentos não fazem de você um super-herói.
Pelo contrário: em algum momento a conta chega e essas dores precisam ser
vivenciadas e encaradas de frente. Ao verbalizar e buscar o entendimento e a
função de cada sentimento, positivo ou negativo, certamente você conseguirá
ressignificar emoções e transformar dor em sabedoria.
Enfim, sabemos que essa mudança comportamental não
é fácil. É preciso modificar o olhar e ter a consciência de que o momento pede
responsabilidade, cautela e paciência. Além disso, ao aderir a uma onda de
desespero, estaremos contribuindo com a elevação dos transtornos de ansiedade generalizada
e do pânico, além de outros sintomas psíquicos graves que assolam grande parte
da população nos últimos tempos. É necessário se comprometer com a sua sanidade
mental, com a preservação da saúde e com o autocuidado - visto que se preservar
mental e fisicamente é uma ação individual. Lembrando que nossa mente é muito
poderosa e podemos, sim, controlar nossas emoções e atrair o positivismo e o
otimismo para conseguir enxergar um horizonte diferente do cenário que estamos
vendo hoje. Precisamos acreditar que é possível. Que o pesadelo vai acabar e
poderemos nos livrar do medo e da angústia que nos acompanham já há vários
meses. Trabalhe suas emoções e, se precisar, busque ajuda de um profissional
adequado e especializado em saúde mental. Afinal, estamos lidando com um
inimigo invisível e parte do cuidado está na mão de cada um de nós.
Dra. Andréa Ladislau * Doutora em Psicanálise *
Membro da Academia Fluminense de Letras - cadeira de numero 15 de Ciências
Sociais * Administradora Hospitalar e Gestão em Saúde * Pós Graduada em Psicopedagogia e Inclusão
Social * Professora na Graduação em
Psicanálise * Embaixadora e Diplomata In The World Academy of Human Sciences US
Ambassador In Niterói * Professora Associada no Instituto Universitário de
Pesquisa em Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo. *
Professora Associada do Departamento de Psicanálise du Saint Peter and Saint
Paul Lutheran Institute au Canada, situado em souhaites.
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