Estamos
todos sofrendo de tal forma com os efeitos avassaladores da crise continuada do
COVID-19 que muitos conseguem apenas ver as desgraças, as mortes, as UTIs
lotadas, a falência do sistema de saúde e o desespero tomando posse dos nossos
espíritos. Eles não conseguem perceber que em todas as calamidades e guerras
existem sim avanços e melhorias, existem ganhos que podem, se entendidos e
defendidos, ser incorporados na sociedade de forma duradoura. Esse artigo
pretende mostrar como esses processos estão ocorrendo na Educação, se nos
dermos a chance de conseguir observá-los.
A
decretação da primeira quarentena em meados de Março de 2020 pegou quase todas
escolas de surpresa. Muitas suspenderam suas atividades, por poucos dias que se
estenderam a meses e depois se tornaram uma adaptação em aulas remendadas de
diversos tipos: tarefas, indicações de leitura, vídeos, aulas em vídeo,
telepresenciais, mas em sua grande maioria nada planejado nem organizado.
Outras
escolas, porém, estavam melhor preparadas, já tinham experiências reais e
significativas com aulas a distância, telepresença, criação de incentivos e
sistemas de avaliação online e em tempo real. Essas escolas, com o “alívio”
burocrático e sindical conseguido devido às condições da pandemia, puderam
expandir e evoluir suas prestações de serviços, chegando a uma nova realidade,
que praticamente independe da sala de aula tradicional. Sim, um movimento
certamente inevitável e inexorável, mas que sem a pandemia levaria décadas para
se consolidar.
As
mudanças não foram apenas ao se incorporar tecnologias. Toda metodologia de
estudo e ensino pode ser repensada. Uma nova startup educacional passou a
oferecer 2.000 professores particulares online, 24 horas por dia, 7 dias por
semana, mudando o conceito de se estudar ao fazer atividades e exercícios. A
avaliação em tempo real do nível de interesse e participação dos alunos trouxe
a possibilidade de “medir o pulso” do paciente ao invés de “fazer a autópsia”
de três em três meses, apenas na época das provas.
Aqueles
que não conseguiram ver ou acompanhar as mudanças passaram a clamar pela volta
presencial, como se fosse uma forma melhor e mais evoluída de ensino. Como se
apinhar 40 alunos em uma sala com um professor, a escola-fábrica herdada da era
industrial, fosse realmente eficiente. Como se essa solução, ao colocar 35% dos
alunos, fosse funcionar, e não resultasse em os outros 65% exigindo que a aula
fosse repetida quando tivessem a oportunidade de estar presentes.
Grande
parte da população, enganada por falsas esperanças, comprou a ideia da volta. E
os argumentos, embora todos focados no retrovisor da História, parecem
convincentes e atraentes. Vamos voltar ao que era antes, vamos apagar esse ano
terrível das nossas memórias. Os alunos precisam estar na escola!
Os
alunos precisam estar na escola porque em casa ninguém consegue forçá-los a
estudar, e na escola sim. Esse é o conceito da escola-prisão. Escola não deve
ser isso. Os alunos precisam estar na escola para ter uma refeição. Essa é a
escola-refeitório. Os alunos precisam estar na escola porque o ambiente
familiar é tóxico. Essa é a escola-albergue.
As
experiências de 2020 nos ensinaram que a Escola não precisa, e não pode, ser
nada disso. Outras instituições precisam existir para cumprir essas funções. O
conceito da escola evoluiu, tornou-se difuso para abraçar o online, o social e
as redes sociais, as múltiplas e diversas formas de aprender e avaliar o
aprendizado.
Essa
revolução na Educação já está aí presente, mas ainda não é bem entendida. Já
existem alunos e pequenos grupos sociais vivenciando-a. É a Educação que ensina
que seus alunos não esperam pelo ontem, eles criam o amanhã. Eles não bebem
toda a água do bote salva-vidas na esperança de que o resgate venha amanhã.
Eles criam seus novos grupos e interações e projetos, não ficam na dependência
de um salvador divino ou uma vacina perfeita que irá nos conduzir de volta ao
mundo de antes.
Eles
são a solução, não terceirizam a esperança.
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