Com sobrecarga de tarefas, mulheres foram as mais afetadas durante o isolamento social; psicóloga dá dicas para preservar a saúde mental até o final da pandemia
A luta pelos direitos das
mulheres em busca de melhores condições de trabalho, aumento de salários e
diminuição da carga horária acontece há anos, em movimentos que culminam na
origem do Dia Internacional da Mulher, celebrado em 08 de março. Mas o impacto
da pandemia tem evidenciado ainda mais as desigualdades de gênero: as mulheres
são as mais atingidas pela crise no mercado de trabalho, além de terem ficado
ainda mais sobrecarregadas com as
atividades domésticas em função da suspensão da rede de apoio que envolve escola, creche, amigos e familiares para ajudar a cuidar dos filhos. Dividir tarefas se tornou necessário, já que são elas as que mais sofrem com a sobrecarga psicológica causada pela crise do isolamento social.
“Durante a pandemia, as mulheres passaram a administrar a casa, cuidar de seus filhos, do home office e dos relacionamentos amorosos. Em função do confinamento e dos altos níveis de estresse, insegurança e ansiedade, foram evidenciadas as desigualdades de gênero”, avalia a psicóloga e psicopedagoga Karin Kenzler, que atua com psicoterapia clínica há 30 anos atendendo em consultório particular adultos, adolescentes e crianças.
Uma pesquisa realizada pela
Sempreviva Organização Feminista (SOV) revela que em média, 50% das mulheres
brasileiras passaram a cuidar de alguém na pandemia, sendo 52% negras, 46%
brancas e 50% indígenas. Essa sobrecarga de tarefas pode gerar cansaço físico,
frustração, angústia, crises de ansiedade, transtornos do sono tais como
insônia e transtornos alimentares como perda ou aumento do peso.
“Tudo que precisa ser feito que exija tempo, organização e esforço
físico, além da carga mental de programar, prever, fazer planos, adiantar
falhas, evitar problemas antecipando-se a eles, dando conta de todos os
detalhes de sua vida e da vida familiar, fazem com que as mulheres sejam mais
afetadas na sua saúde”, comenta a psicóloga Karin Kenzler. Ela ressalta que
baixar expectativas em relação ao próprio desempenho é importante. “Neste
período de pandemia, com o aumento do estresse e vulnerabilidade causados pelas
mudanças de rotina, a mulher precisa entender e aceitar que não dará conta de
tudo com o mesmo nível de exigência a que estava acostumado”.
Para evitar esse cenário de estresse e encontrar o equilíbrio para
manter a saúde mental em dia, a psicóloga Karin Kenzler dá algumas dicas:
1. “Organize
seu dia de acordo com as exigências do seu trabalho, níveis de concentração,
horários e turnos”
Se você souber se planejar, irá perceber que fica bem mais fácil e
menos cansativo realizar as suas tarefas diárias.
2. “Peça
ajuda aos filhos e companheiro, listando as tarefas e dividindo as de acordo
com suas afinidades e competências”
Não é certo deixar todas as responsabilidades nas mãos da mulher e
deixar com que arque sozinha com o ônus da pandemia. É uma boa hora para
aprender a pedir ajuda e buscar uma divisão mais igualitária.
3. “Baixe
seu nível de exigência e expectativa”
Não se culpe se a arrumação das camas, o almoço e a faxina
deixaram a desejar; a prioridade agora é a preservação da sua saúde física e
mental até o final da pandemia.
4. “Não tente assumir de forma exemplar funções
para as quais não tem qualificação”
Como por
exemplo, educadora, psicóloga, animadora. Faça somente o que está ao seu
alcance, lembrando que o papel dos pais é apenas de colaboradores dos
professores e escola.
5. “Evite
comparações com outras mulheres, amigas ou familiares, achando que estão
melhores do que você”
Assim como nos perfis de redes sociais, as pessoas só mostram o
que querem e não toda a realidade que estão vivendo. Procure seguir somente
conteúdos e perfis que te façam bem, se preservando.
6. “Dedique
um pouco de tempo para cuidar de si”
Faça uma atividade física, um relaxamento ou meditação. Não espere
estar motivada para tal, pois a satisfação e prazer e motivação vem depois com
os resultados. Apenas comece e transforme este momento num hábito.
7. “Não
deixe de cultivar as amizades só por não poder promover encontros”
Ligue para os amigos, desabafe e de risadas. E se precisar
não hesite em buscar ajuda profissional. Há atendimento médico, social e
psicológico online.
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