Secretaria de Agricultura de SP, por meio do Instituto Biológico, orienta população durante período de maior ocorrência das chamadas pragas urbanas, o verão
Elas andam por aí, pelos potes de açúcar, bolo em cima da mesa, jardins,
janelas e até hospitais. Estamos falando das formigas, um dos exemplos de como
alguns animais ou insetos podem viver em sociedades organizadas. A Secretaria
de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Instituto
Biológico (IB-APTA), desenvolve estudos com diversas espécies de formigas.
Neste verão, época de maior propagação das chamadas pragas urbanas, a Pasta
disponibiliza semanalmente informações importantes para reduzir as infestações
de formigas, mosquitos, brocas, baratas, cupins, carunchos e roedores, por
exemplo.
De acordo com a pesquisadora e diretora geral do IB, Ana Eugênia de Carvalho
Campos, existem no Brasil cerca de duas mil espécies de formigas. Apesar do
incômodo que muitas vezes elas causam nas casas e jardins das pessoas, a grande
maioria das espécies traz benefícios para todos os ecossistemas.
"A maior parte das espécies de formigas é muito importante para o meio
ambiente. Elas movimentam o solo, promovendo a sua aeração, incorporam
nutrientes, fazendo a sua adubação, e são predadoras que caçam vários tipos de
presa, até mesmo outras formigas. Estudos mostram que quanto mais espécies de
formigas ocorrerem em um local, maior é a probabilidade de se ter outras
espécies de animais ou plantas, ou seja, as formigas são indicadoras de
biodiversidade. Já sobre as espécies de formigas que causam algum problema para
o homem e para suas estruturas no ambiente urbano, esse número não passa de 30
espécies", explica Ana Eugênia.
O grande problema é que nem sempre ocorre um equilíbrio entre as formigas e
outros organismos, principalmente nas cidades. Há também oferta de alimento,
abrigo e água para as espécies que estão adaptadas ao ambiente urbano, quando
os problemas começam a aparecer e as formigas se transformam em grandes pragas.
Segundo a diretora do IB, as campeãs em reclamação são as formigas carpinteiras
(Camponotus spp.), lava-pés (Solenopsis spp.) e fantasmas (Tapinoma
melanocephalum).
As espécies de formigas carpinteiras que mais causam incômodo para os cidadãos
urbanos, são aquelas de hábito noturno. Elas formam seus ninhos em diferentes
tipos de ambiente, como galhos e troncos de árvores vivas ou mortas, solo,
cupinzeiro abandonado, madeiramento em decomposição e também dentro das casas e
apartamentos. "Quando chega perto das 18h a gente já começa a ver essas
formigas pela casa. Elas são grandes e bastante encontradas dentro dos
armários, principalmente os de madeira", explica Ana Eugênia.
As lava-pés são muito comuns, sendo encontradas principalmente nas áreas
externas da casa, em jardins e calçadas. "São aquelas formigas que a
ferroada dói e o local fica coçando durante vários dias. É importante ter
cuidado com essas formigas, porque algumas poucas pessoas podem ter reação
alérgica severa e até choque anafilático com a sua ferroada. É um risco baixo,
mas existente", alerta.
Já as formigas fantasmas são facilmente identificadas. São aquelas que não
perdem a oportunidade de entrar no pote de açúcar ou passar pelo bolo em cima
da mesa. "Elas são bem pequenininhas, de cor clarinha e, basta uma pequena
porção de alimento, para logo elas estarem sobre ele, aos montes", afirma
Ana Eugênia.
A pesquisadora e diretora do Instituto Biológico dá algumas dicas para evitar a
ocorrência dessas formigas, como: manter os alimentos fechados, deixar a casa
sempre limpa e não acumular louça na pia. "Se a infestação for grande, é
possível comprar iscas para formigas no mercado. Normalmente, elas são bastante
eficientes. Mas é importante estar atento. Não é porque você controlou as
formigas uma vez, que elas não mais aparecerão na sua casa. Elas podem voltar a
ocorrer. Se o problema persistir, sempre é bom contratar uma empresa de
controle de pragas urbanas, experiente no controle de formigas", diz.
O Instituto Biológico realiza há mais de 20 anos um projeto inédito que
monitora em 64 casas do bairro Vila Mariana, na capital paulista, a ocorrência
de formigas urbanas. O objetivo é verificar se há mudança das espécies ao longo
do tempo nas mesmas residências. "Identificamos, por exemplo, nos últimos
anos, a predominância da formiga cabeçuda (Pheidole megacephala), uma espécie
que foi introduzida no Brasil e que no início do monitoramento era pouco comum,
mas agora bastante frequente", conta Ana Eugênia.
Formigas também são pragas em algumas plantações
Em alguns cultivos, as formigas também causam grandes problemas. É o caso, por
exemplo, das oliveiras. A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
(APTA), da Secretaria de Agricultura, mantém o projeto Oliva SP, que visa
fomentar a produção de azeitonas e azeite de oliva em São Paulo. Um dos focos
dos pesquisadores é exatamente as formigas cortadeiras.
Segundo Ana Eugênia, se o olivicultor não fizer o manejo adequado das formigas,
pode ter sua plantação dizimada. A recomendação é realizar o manejo antes mesmo
da implantação do pomar. "É possível fazer o manejo utilizando produtos
químicos ou usar algumas soluções alternativas em pomares orgânicos. Estamos
acompanhando os produtores para saber quais produtos eles têm utilizado e se
eles possuem registro. Já recebemos casos de produtores que implantaram dois
mil pés de oliveiras e tiveram 60% de suas plantas perdidas, por conta das
formigas cortadeiras", afirma.
Ana Eugênia orienta que é importante saber qual espécie de formiga cortadeira
está ocorrendo no olival, porque o manejo muda um pouco dependendo da espécie.
"Monitoramos alguns pomares do estado de São Paulo e Minas Gerais,
plantados em diferentes altitudes para fazer esta identificação", explica.
Além disso, o Instituto Biológico trabalha na identificação de cultivares de
oliveiras que podem ser menos atacadas pelas formigas.
O IB também tem estudado as consequências da ocorrência das formigas
cortadeiras nas oliveiras. "Percebemos que quando cortada, a oliveira
brota de forma diferente, com folhas menores e um aglomerado de folhas no mesmo
broto, muito diferente do que ocorre em oliveiras que não foram atacadas pelas
formigas. Estamos acompanhando quais os outros efeitos e se a planta produz o
mesmo do que as que não foram cortadas pelos insetos", explica. A pesquisa
se iniciou há quatro anos.
Insetos sociais
Assim como os cupins, vespas e abelhas, algo muito curioso nas formigas é que
elas são insetos sociais, que vivem em sociedades muito bem organizadas. Os
formigueiros, dependendo da espécie de formiga, podem ter apenas uma rainha e
até centenas delas; todas responsáveis pela postura dos ovos. Há as operárias,
que dependendo da espécie podem variar de algumas dezenas a milhões. Elas
exercem funções diferentes dentro dos formigueiros, como busca de alimento,
limpeza e cuidado com a cria, por exemplo.
"Essas tarefas são muito bem definidas e realizadas até mesmo de acordo
com o tamanho e idade das formigas. Temos nos insetos verdadeiramente sociais a
sobreposição de gerações, o cuidado com a prole e a divisão de tarefas, que é o
que ocorre no caso das formigas, cupins e algumas espécies de abelhas e
vespas", conta.
IB é referência em pragas urbanas
O Instituto Biológico é referência em pesquisas com pragas urbanas. O Instituto
mantém em São Paulo a Unidade Laboratorial de Referência em Pragas Urbanas, que
desenvolve estudos em métodos alternativos de controle de insetos utilizando
extratos vegetais e radiação gama. A unidade de pesquisa desenvolve
metodologias de testes de eficiência de produtos comerciais para fins de
comprovação de atuação e emite laudos e pareceres técnicos sobre identificação
da(s) praga(s), grau de infestação e melhor técnica de controle a ser aplicado
em residências, condomínios verticais e horizontais, parques, jardins,
arborização urbana, entre outros.
Também são desenvolvidas pesquisas nas áreas de biologia, comportamento,
taxonomia, levantamento, ocorrência e ecologia das principais pragas detectadas
em áreas urbanas. Além dessas atividades, o grupo tem oferecido, com
regularidade, cursos técnicos para controladores de pragas, técnicos em
controle de pragas das Prefeituras Municipais, empresas particulares de
serviços de jardinagem, produtores de mudas de plantas ornamentais, engenheiros
agrônomos, biólogos, paisagistas, arquitetos, profissionais das áreas de
museus, bibliotecas, conservação de patrimônios e restauradores, além de
assessorar no treinamento de técnicos responsáveis por parques e jardins
municipais no tocante à identificação de danos e controle, inclusive de outros
estados.
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