Atraídas pelo sonho de uma vida melhor no
exterior, mulheres caem em armadilha
Divulgação
Repressão
é urgente; durante pandemia, criminosos incrementaram o uso da Internet
para tentar atrair novas vítimas, submetidas à exploração sexual e trabalho
forçado
O Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, ajuda a
reconhecer os avanços para uma sociedade mais justa, mas também joga luz em
temas sensíveis, como o tráfico de mulheres. Essa atividade criminosa ainda
está longe de ser erradicada e seus autores têm se adaptado em meio à pandemia
da Covid-19 para continuar sua atuação, sem freios, de acordo com o Comitê
sobre a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres (Cedaw).
Dados das Organizações das Nações Unidas (ONU) e do
Ministério da Justiça mostram que o comércio de seres humanos está enraizado na
realidade de dezenas de países do chamado Primeiro Mundo e em estágio de
desenvolvimento. Um amplo estudo da ONU feito entre 1997 e 2009 mostrou 15 mil
casos catalogados. No Brasil, entre 2000 e 2013, 1.758 pessoas - a maior parte
mulheres - foram vítimas de tráfico, de acordo com levantamento do Ministério
da Justiça.
Prostituição
“As mulheres são atraídas com promessas de emprego em
países da Europa, são informadas que vão ganhar bons salários e acabam
convencidas disso. Quando chegam, descobrem que caíram numa armadilha, seus
documentos são retidos e precisam se submeter a trabalhos forçados, como a
prostituição, para pagar a tal dívida com as despesas de viagem. Grande parte
não consegue pagar e a fuga é vista como única solução”, comenta Alessandra
Diehl, médica psiquiatra e especialista em sexualidade.
Nem mesmo a pandemia e as orientações de distanciamento
social e seus efeitos na circulação de pessoas diminuiu o ímpeto dos
traficantes. O Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres
(Cedaw), ligado à ONU, alertou que os criminosos agora incrementaram o uso da
Internet para tentar atrair novas vítimas. Um dos meios é o uso de salas de
bate-papo para atrair a atenção de prováveis vítimas.
O comitê enviou apelos as empresas de redes sociais e
aplicativos para aprimorar mecanismos de controle capazes de barrar a exposição
de mulheres e meninas à exploração sexual. O comitê lançou ainda um apelo aos
governos para que suas autoridades se debrucem sobre as causas que levam
mulheres e meninas a se envolverem em situações de vulnerabilidade social. O apelo
também cita uma maior cooperação nas ações de repressão contra as redes de
tráfico e sua facilidade em funcionar via aeroportos, principalmente.
Tabus barram combate
Alessandra Diehl lembra que o combate ao problema é mais
profundo, pois as mulheres ainda têm de enfrentar situações discriminatórias.
Mesmo sendo vítimas da atividade de tráfico, o que impede um maior engajamento
para denunciar as redes de traficantes, elas enfrentam estigmas e, como no caso
dos estupros, sentem-se culpadas e provocadoras do crime, devido à cultura do
machismo, enraizado em nossa sociedade. “Temos de compreender que é muito
difícil que a mulher, depois de ter enfrentado todas as violações de seus
direitos e os problemas emocionais e psíquicos que essas situações acarretam,
ainda tenha que se lançar a denunciar. Elas têm medo da exposição, de serem
alvo de manifestações de discriminação e toda sorte de acusações contra sua
dignidade pessoal”, alerta a médica psiquiatra.
Na opinião dela, a prevenção é o melhor caminho
para coibir o tráfico humano. “É preciso desconfiar de propostas tentadoras de
trabalho, que oferecem promessas de altos salários e posições de destaque em
“empresas” no exterior”, aconselha. As mulheres, ressalta Alessandra, devem
ficar atentas ainda a anúncios de trabalho como “modelos”, por exemplo, com
salários sempre oferecidos em Euro ou Dólar. “Esta é mais uma forma de
convencer a aceitar o tal trabalho dos sonhos, que na verdade, pode ser um real
pesadelo”, afirma Alessandra.
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