Cultivar
hábitos saudáveis e apostar em uma boa alimentação é importante mesmo sem
pandemia, e torna-se ainda mais indispensável com a nova onda de coronavírus;
mas os exageros podem ser perigosos, alerta a PHD em Nutrição Sophie Deram, autora do
best-seller "O peso das dietas".
A pandemia de coronavírus serviu como ‘pontapé
inicial’ para muitos que desejavam perder peso. Com o isolamento social, a
maioria das pessoas começou a ficar mais em casa e a fazer home office,
tendo a oportunidade de se alimentar melhor e de prestar mais atenção no que se
come.
"Além dos que já pretendiam emagrecer
antes mesmo da pandemia, houve um aumento expressivo dos que buscam eliminar
alguns quilos para se proteger da doença. Isso porque pesquisas comprovam que o
sobrepeso e a obesidade aumentam exponencialmente o risco de complicações no
caso de infecção por Covid-19", comenta a nutricionista franco-brasileira
Sophie Deram, autora do best-seller "O peso das dietas" e doutora da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
O relatório "Covid-19 e a obesidade: O
Atlas 2021", divulgado recentemente pela Federação Mundial de Obesidade,
indica que a taxa de mortalidade por coronavírus é aproximadamente 10 vezes
maior em países onde metade ou mais da população está acima do peso. Outro
estudo, divulgado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA,
aponta que o risco de ser hospitalizado é 7% maior para adultos com obesidade
grau I (IMC entre 30 e 34,9) e salta para 33% maior para pacientes com
obesidade grau IV (IMC acima de 45), em comparação com pessoas com peso
corporal considerado saudável (IMC entre 18,5 e 24,9).
A probabilidade de intubação também é bem mais
alta para os obesos, de acordo com a pesquisa. O risco aumenta em 12% entre os
adultos com sobrepeso (IMC de 25 a 29,2) e sobe para impressionantes 108% entre
os obesos (IMC a partir de 45).
Dietas restritivas na pandemia
Diante dos números alarmantes em relação aos
riscos aumentados para o coronavírus em decorrência da obesidade, muitos aderem
às dietas restritivas, na tentativa de perder peso rapidamente. Porém, essa não
é a melhor estratégia, mesmo em tempos ‘normais’, e torna-se ainda mais
arriscado em meio à pandemia.
"As pessoas buscam dietas ‘milagrosas’,
acreditando que isso fará bem à saúde, mas não é bem assim. Dietas restritivas
causam estresse e, neste momento que estamos vivendo, afetam ainda mais a saúde
mental das pessoas. Se você quer perder peso e, principalmente, emagrecer de
maneira saudável e sustentável, a resposta não são as dietas, e sim um estilo
de vida saudável", opina a especialista.
Mesmo sem pandemia, o método defendido por
Sophie vai contra as dietas radicais e a diminuição drástica da quantidade e
dos tipos de alimentos ingeridos. "É preciso estabelecer, desde cedo, uma
boa relação com a comida, respeitando a própria fome e deixando de lado os
sentimentos negativos. Quando comemos com culpa, tendemos a consumir alimentos
em excesso, mas quando comemos com prazer, ficamos satisfeitos e sabemos
respeitar nosso corpo", avalia a PHD em Nutrição.
Na visão de Sophie, as dietas restritivas são
uma "armadilha", pois a privação nutricional afeta negativamente o
organismo e desperta desejo ainda maior por comida. "As restrições em
excesso na hora de comer podem tornar-se um "gatilho" para um
distúrbio alimentar, pois geram um ciclo vicioso difícil de ser quebrado",
diz.
Ansiedade é a principal ‘vilã’
Para a
nutricionista, a grande "inimiga" do emagrecimento e da manutenção do
peso ideal é a ansiedade, que tende a se agravar devido ao isolamento social.
"Nos momentos de maior ansiedade, é importante olhar para si mesmo,
analisar a origem da fome e tentar descobrir se ela é mesmo real ou emocional.
Sentir-se ansioso em geral faz com que as pessoas comam mais, e de forma pouco
consciente", alerta.
"O tédio e a
ansiedade podem levar as pessoas a comer mais do que necessitam, e depois elas
passam a fazer dietas, na tentativa de perder o peso que acumularam. Ou seja, a
ansiedade é o gatilho inicial do ganho de peso, por isso, deve ser
combatida", ressalta.
Alimentos x imunidade
Outra tendência em
meio ao isolamento social é a busca por "superalimentos", que
supostamente aumentariam a imunidade e ajudariam a prevenir a contaminação pela
COVID-19. Mas será que existe mesmo um alimento com essa capacidade?
Na visão de Sophie,
a resposta é não. "Não existe fórmula mágica, infelizmente. Nenhum
alimento é capaz de aumentar a nossa imunidade ‘do dia para a noite’, e
defender esse tipo de conceito não tem embasamento científico e é
irresponsável".
Ela explica que
existem muitos ‘mitos’ em relação ao uso das vitaminas C e D e outros
suplementos no combate à infecção pela COVID-19. " A vitamina C pode ajudar,
mas não é a única responsável por nos defender contra o novo coronavírus. A
imunidade é muito mais complexa do que só tomar suplementos e frutas cítricas.
A melhor coisa que podemos fazer pela saúde é consumir comida caseira e
fresca"
O mesmo vale para a
vitamina D e demais suplementos. "Não há evidências científicas que
comprovem que o reforço da imunidade e imunomodulação usando vitamina D são as
únicas maneiras de prevenir a infecção pelo coronavírus. Além disso, ninguém
vai aumentar sua imunidade de forma imediata tomando suplementos. A
superdosagem é tão prejudicial quanto não ter o suficiente. Qualquer
suplementação deve ter acompanhamento de um profissional", elucida.
Sophie Deram
- Autora do livro
"O Peso das Dietas", é engenheira agrônoma de AgroParisTech (Paris),
nutricionista franco-brasileira e doutora pela Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (FMUSP) no departamento de Endocrinologia. Além de
especialista em tratamento de Transtornos Alimentares pelo AMBULIM - Programa
de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP, é
coordenadora do projeto de genética e do banco de DNA dos pacientes com
transtorno alimentar no AMBULIM no laboratório de Neurociências.
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