Pesquisas indicam que Covid-19 predispõe paciente a desenvolver trombose venosa e arterial Divulgação |
Cirurgião vascular explica cuidados necessários com pacientes, especialmente os de UTI, e como família pode ajudar
Segundo uma pesquisa realizada pela Sociedade
Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), 39% dos médicos
entrevistados atenderam ao menos um paciente infectado pela Covid-19 que
desenvolveu trombose. Cerca de 470 angiologistas e cirurgiões vasculares,
associados da entidade, participaram da iniciativa. O objetivo do levantamento
foi identificar o percentual de médicos que atenderam pacientes infectados pelo
novo coronavírus e a sua implicação na formação de trombose, que é a formação
de coágulos (trombos) no interior dos vasos sanguíneos, podendo acometer as
veias e as artérias, impedindo a circulação do sangue no local e causando uma
inflamação na região.
O cirurgião vascular e endovascular Fábio Augusto
Cypreste Oliveira (CRM 14.474), que atende na clínica AngioGyn, no centro
clínico do Órion Complex, em Goiânia, acredita que a Covid-19 é uma doença que
predispõe o paciente a desenvolver trombose venosa e arterial. “A infecção por
esse novo coronavírus provoca distúrbios no processo de coagulação e
hemostasia, além de um processo inflamatório grave que, associado aos fatores
pessoais e patológicos de cada paciente, podem resultar em tromboembolismo
venoso (trombose venosa e embolia pulmonar), infarto, AVC, coagulação
intravascular disseminada e morte cardiovascular”, explica o médico.
Ele analisa que pessoas com Covid-19 internadas
em Centros e Unidades de Terapia Intensiva (CTI e UTI) apresentam um risco
muito elevado de desenvolver qualquer complicação tromboembólica. “Apesar da
doença ser recente, estudos atuais mostram que pacientes com coronavírus
internados em CTI apresentam risco de desenvolvimento de trombose de
aproximadamente 30% e aqueles que não tem a taxa fica entre 3% e 10%, ou seja,
pacientes com Covid tem entre três e dez vezes mais chances de desenvolver
trombose quando comparado aos pacientes internados fora do CTI ou seja no
quarto”.
A trombose venosa e dos membros inferiores é a
forma mais frequente da doença, causando dor, inchaço e calor local. “A
complicação mais temida dessa doença circulatória é a embolia pulmonar, quando
o coágulo se desprende da veia e atinge a circulação do pulmão, podendo levar à
morte. Já na trombose arterial, o suprimento sanguíneo rico em oxigênio é
interrompido e o território nutrido por essa artéria entra em isquemia e, caso
não ocorra a restauração da circulação de forma rápida, esse tecido entra em
processo de morte”, detalha o especialista.
Fábio Cypreste revela que já existem protocolos de
prevenção e tratamento da trombose venosa profunda (TVP) em pacientes com
coronavírus. “Essas diretrizes estão presentes na prática clínica há muitos
anos, com excelentes resultados, e as mesmas orientações são direcionadas aos
pacientes com Covid-19. Atualmente, com o maior conhecimento sobre a doença e
sua relação com os eventos trombóticos, ajustes foram realizados. No último
semestre de 2020, guias destinados especificamente ao diagnóstico, prevenção e
tratamento das complicações tromboembólicas da Covid foram publicados. Eles são
ajustados de acordo com as realidades e características locais”, ressalta.
Fatores de risco e tratamento
Fábio salienta que pacientes internados em UTI podem desenvolver a
trombose venosa por vários fatores. “Existem três principais, que denominamos
Tríade de Virchow, que é a combinação da lesão na parede dos vasos, estado de
hipercoagulação e redução na velocidade do fluxo sanguíneo (estase). Os
pacientes internados em UTI, em sua grande maioria, apresentam muitos desses fatores
predisponentes”, salienta. “Outros fatores de risco para o desenvolvimento da
trombose venosa incluem o tabagismo, a obesidade e a presença de alterações
genéticas (trombofilias) que estimulam a formação de coágulos. O somatório
desses fatores associados a características pessoais e as patologias que
motivaram a sua internação em UTI se somam de forma negativa para a formação
dos trombos”, completa.
O médico reforça quais as principais medidas
preventivas disponíveis na atualidade durante a internação. “O uso de botas de
compressão pneumáticas, meias elásticas compressivas, medicações
anticoagulantes, fisioterapia, dentre outras, de acordo com a estratificação de
risco trombótico do paciente. Além disso, exames de rotina como a ecografia
vascular com Doppler são realizados para o diagnóstico precoce e o tratamento
imediato da TVP, minimizando assim os riscos de complicações graves e fatais”,
destaca o cirurgião.
Fábio Cypreste destaca que a participação da
família é de fundamental importância em todo processo de internação daqueles
que estão com o novo coronavírus. “Muitos pacientes internados em UTI podem
estar sedados e entubados, dificultando a coleta de sua história patológica
pregressa. Sendo assim, informações sobre doenças pré-existentes e medicações
em uso, histórico prévio de procedimentos cirúrgicos, histórico familiar ou
pessoal de trombose, bem como informações da história social do paciente, tais
como o tabagismo e o sedentarismo, auxiliam na tomada de decisão da equipe de
saúde”.
Para o cirurgião vascular e endovascular, manter
uma rotina saudável e ter um acompanhamento médico é a melhor forma de evitar
complicações. “As doenças cardiovasculares, ou seja, as doenças circulatórias
periféricas e cardíacas, representam a principal causa de óbito por doença
crônica em todo mundo e, sendo assim, sua prevenção é o melhor caminho. Hábitos
alimentares saudáveis, atividade física regular, acompanhamento médico regular
e evitar o tabagismo são as principais atitudes para termos uma vida saudável,
longa e com qualidade”, afirma o especialista.
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