Em 20 de fevereiro
é celebrado o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo e a SBC reforça
as consequências geradas pelo uso excessivo dessas substâncias, em especial ao
coração
Pesquisas
já confirmaram o aumento no consumo de álcool e drogas provocado pelo
isolamento social, durante a pandemia do novo coronavírus. Estudo da
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), por exemplo, reportou que 35% dos
entrevistados com idades entre 30 e 39 anos relataram ter ampliado o número de
ocasiões em que consumiram mais de cinco doses de álcool. Como resultado, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a recomendar que os países limitassem
a venda de bebidas alcoólicas no período.
A OMS
considera que a dependência em drogas lícitas ou ilícitas é uma doença. O uso
indevido de substâncias como álcool, cigarro, crack e cocaína é um problema de
saúde pública de ordem internacional que preocupa nações do mundo inteiro, pois
afeta valores culturais, sociais, econômicos e políticos.
“Tanto a
cocaína, como outras drogas ilícitas, ou a própria cannabis têm efeitos
importantes sobre o aparelho cardiovascular e podem promover descarga de
adrenalina, na verdade uma forte atuação das catecolaminas, entre as quais se
destaca a noradrenalina, que pode levar à elevação da pressão arterial,
aumentar o consumo de oxigênio por parte das células cardíacas, causar
arritmias, levar à oclusão das artérias coronárias. Esses medicamentos podem fazer
uma forte constrição dos vasos levando ao infarto e, muitas vezes, à parada
cardíaca, tanto é que uma das causas de infarto em jovens é a utilização de
cocaína”, fala o diretor de Promoção de Saúde da SBC, José Francisco Kerr
Saraiva.
O
Ministério da Saúde adverte que o consumo da cocaína em grande parte dos
usuários aumenta progressivamente, sendo necessário consumir maiores
quantidades da substância para atingir o efeito desejado. No Brasil, essa é a
substância mais utilizada pelos usuários de drogas injetáveis. Muitas dessas
pessoas compartilham agulhas e seringas e expõem-se ao contágio de outras
doenças, como hepatite e aids.
Todos os
fármacos considerados ilícitos, encabeçados pela cocaína, podem trazer
transtornos cardíacos desde simples elevações da pressão arterial até arritmias
graves com parada cardíaca, infarto e destruição das células cardíacas. O uso
dessa droga é a principal causa de infarto do miocárdio, especialmente nos
jovens, que ao não valorizarem os sintomas e não procurarem assistência médica,
aumentam ainda mais o risco de desenvolver transtornos cardíacos.
O álcool
também tem efeitos tóxicos, diretos e indiretos, sobre o coração. Indiretos,
pois pode trazer alterações lipídicas na composição dos lipídios sanguíneos,
com aumento principalmente dos triglicérides, o que, a longo prazo, pode levar
a uma alteração pró heterogênica, culminando com a degeneração dos vasos. Em
doses elevadas também pode causar arritmias e dano cardíaco.
“Concluímos
que drogas ilícitas, particularmente a cocaína e seus derivados, possuem
profundos efeitos sobre o coração e o próprio álcool em excesso pode trazer uma
série de transtornos. A maioria das pessoas acham que álcool só agride o
fígado, quando, na verdade, ele pode provocar alterações cardiovasculares
diretas ou indiretas, elevando, portanto, o risco cardiovascular. Na realidade
não existe prova de que a longo prazo a utilização de álcool, em doses leves ou
moderadas, possa trazer dano. Obviamente que não podemos estereotipar essa
frase e sabemos que há predisposição genética e outros fatores que podem
influenciar”, ressalta Saraiva.
Para o
diretor de Promoção de Saúde da SBC, uma lata de cerveja ou um cálice de vinho
para uma pessoa pode simplesmente causar um efeito de prazer, mas outras podem
ficar alcoolizadas, tudo vai depender do hábito de consumo e de outros fatores.
O que não
foi provado, em países que têm consumo de álcool em doses baixas ou moderadas,
é que ele possa ser nocivo para o aparelho cardiovascular, pelo contrário,
estudos observacionais realizados na França mostram que o consumo de vinho pode
ter um efeito protetor, isso foi demonstrado e tem sido proposto.
“Isso
jamais nos angariaria a prescrever álcool no sentido de proteção, porque ainda
que em doses baixas pode trazer transtornos para o fígado, desencadeando
hepatite, cirrose e isso acaba sendo um problema que muitas vezes é um caminho
sem volta”, garante Saraiva.
O álcool
também acaba sendo um fator de risco adicional nos indivíduos que são
diabéticos. Ele pode, inclusive, alterar os valores glicêmicos, mas, acima de
tudo, contribui na alteração de lipídios e, particularmente, de triglicérides.
“Não é que
o consumo de álcool seja proibido, mas deve ser feito com cuidado e nunca em
excesso e o diabético tem de fazer esse controle para que o prazer não se torne
um problema. O mais importante é que as drogas ilícitas, principalmente as que
estimulam a produção de catecolaminas ou que simulam as catecolaminas do
organismo, podem trazer diversos problemas cardíacos. Está comprovado que o
álcool em excesso acaba sendo um fator de risco também para trazer alterações
no coração. O consumo pode acontecer desde que seja em doses baixas e esses
conceitos não se aplicam ao fígado”, revela Saraiva.
Sobre
prevenção, o Ministério da Saúde diz que é muito difícil convencer alguém a não
fazer algo que lhe dê prazer; drogas e álcool, antes de qualquer outra coisa,
oferecem prazer imediato, e por causarem dependência física, psicológica e
síndrome de abstinência são de difícil tratamento. As ações preventivas devem
ser planejadas e direcionadas para o desenvolvimento humano, o incentivo à
educação, à prática de esportes, à cultura, ao lazer e à socialização do
conhecimento sobre drogas, com embasamento científico.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA
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