Nos últimos anos, as transações econômicas via
internet ganharam velocidade e intensidade. Para termos uma ideia, os
relatórios sobre e-commerce da Ebit|Nielsen apontaram um crescimento de 12% no
primeiro semestre de 2019 em relação ao mesmo período do ano anterior, chegando
a uma receita de R$ 26,4 bilhões. Cada vez mais, os brasileiros buscam nas
compras online presentear seus pais, filhos, companheiros e amigos. Estamos
observando uma diversificação cada vez maior de produtos nesse segmento e a
entrega final dos produtos e pacotes deve ser ágil e precisa.
Entretanto, a atuação dos Correios no comércio virtual
caiu quase 20% nos últimos 6 anos, como aponta estudo conduzido pela Associação
Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm). A participação da estatal passou de
81%, em 2013, para cerca de 62,5% em 2019. Em contrapartida, no mesmo período,
a participação das transportadoras privadas no comércio eletrônico saltou de
15% para 33,4%.
A dificuldade dos Correios em ampliar sua
competitividade e eficiência nos serviços, frente ao crescimento das
transportadoras privadas, é um importante argumento para a privatização desse
segmento. Contudo, buscando um modelo de desestatização que sustente a
concorrência. Para que isso aconteça, é preciso que a formatação da abertura da
empresa não aconteça de forma integral, ou seja, saia do monopólio estatal para
se tornar um monopólio privado. Logo, a divisão dessa oferta, oportunizando que
várias empresas tenham a possibilidade de atuação, se mostra um caminho
sensato. Dividir os Correios por áreas de atuação, regiões etc., pode ser uma
alternativa.
Os recentes escândalos envolvendo corrupção nos
Correios e sua gestão ineficiente são elementos que favorecem a privatização.
Comandar a estatal, além do prejuízo financeiro, enfraqueceu a imagem do
estado, que foi carimbado, mais uma vez, como administrador ineficiente. E está
na gestão o maior benefício da entrada da iniciativa privada. O comando dos
serviços de postagens gerido por empresas profissionais, que buscam eficiência
e qualidade, tende a beneficiar todos os usuários do serviço.
Muitos governos estrangeiros já passaram por esse
processo de desestatização e estão satisfeitos com as mudanças. Dos países
integrantes da União Postal Universal, que reúne 192 nações, 56 renunciaram às
empresas públicas para deixá-las a cargo da iniciativa privada. Na lista, temos
a Alemanha, que fez a transição gradual. Em 1995, abriu parte do processo,
ficando com o monopólio de envio de cartas até 50g, mas, em 2007, repassou tudo
para a gestão privada. Portugal acabou com o monopólio em 2014.
Além da venda direta da empresa - seja ela de forma
integral ou em partes -, outra alternativa para a diminuição da participação do
estado é a abertura de mercado. Neste formato, a empresa passa a ser mista,
podendo abrir capital para venda de ações e, assim, ter uma fonte extra de
arrecadação.
O fato é que os Correios precisam de mudanças para
crescer e as opções do mercado devem fazer parte desse processo. A resposta
deve partir dos estudos de viabilidade. Existem muitos caminhos para aliviar o
governo, impulsionar o crescimento e entregar mais qualidade aos usuários. Que
prevaleça a decisão técnica e consciente dos governantes.
Lucas Lautert Dezordi - doutor
em Economia, sócio da Valuup Consultoria, economista-chefe da Trivèlla M3
Investimentos e professor da Universidade Positivo.
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