Estudos recentes sugerem que nenhum suplemento
nutricional melhora o prognóstico ou a sobrevida do paciente oncológico. Pelo
contrário, o uso de alguns deles levantou a suspeita que poderiam aumentar o
risco de recorrência da doença
Muitas
pessoas acreditam que o uso de suplementos faz bem ou “pelo menos mal não faz”.
Errado! Principalmente, para quem trata um câncer de mama. Segundo André Dekee
Sasse, oncologista CEO do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia, esse é
um tema recorrente na área da oncologia. “As pessoas buscam a esperança de
melhora dos sintomas, da qualidade de vida e até de chances de cura do câncer
em suplementos vitamínicos. E a orientação geral é contra o uso sem indicação
médica, não só pelo gasto financeiro desnecessário, mas por receio de possíveis
efeitos adversos ainda não identificados de forma definitiva pelos cientistas”,
afirma.
De
acordo com o oncologista, um estudo publicado no mês passado pelo Journal of
Clinical Oncology sugere atenção no uso desenfreado desse tipo de
medicação. “Uma das teorias científicas que justificam a cautela de
muitos médicos e nutricionistas em indicar a suplementação indiscriminada é a
possibilidade de que os efeitos citotóxicos dos tratamentos oncológicos, como
quimioterapia, por exemplo, possam ser reduzidos pela ação dos antioxidantes
(ferro, vitamina B12 e ácidos graxos ômega)”, explica.
O
estudo em questão é um adendo a outro que testava esquemas de quimioterapia em
pacientes com câncer de mama. O período de testes foi do tipo
prospectivo e não-randomizado e consistia na aplicação de um questionário sobre
uso de suplementos diversos antes, durante e depois do uso da quimioterapia. O
objetivo era avaliar se havia relação entre o consumo de suplementos
nutricionais e chance de recorrência da doença e/ou morte.
Dos
2.014 pacientes elegíveis, 1.134 completaram todos os questionários. Os
pesquisadores descobriram que pacientes que tomaram suplementos no início e
durante a quimioterapia tiveram 41% mais chances de ter o câncer de mama
retornado do que aqueles que não tomaram. Em relação às substâncias
avaliadas, a vitamina B12 e suplementos de ferro levavam ao maior risco de
retornar o câncer, disseram os pesquisadores. “As mulheres que tomavam vitamina
B12 tinham 83% mais chances de sofrer um retorno da doença e 22% mais chances
de morrer por causa dela do que as que não tomavam esses suplementos. Essa
porcentagem subiu para 79 para aqueles que tomam suplementos de ferro. Em
relação ao Ômega-3, apesar de ter havido uma relação com aumento da recidiva, a
pergunta do questionário se referia a óleo de peixe, fígado de bacalhau e
outros compostos que continham a substância, portanto, conclusões não puderam
ser feitas com relação ao seu uso. Por fim, o uso de multivitamínicos não
mostrou relação com desfechos de sobrevida”, explica Rafael Luís, também médico
oncologista do Grupo SOnHe, que avaliou o estudo.
De
acordo com Dr. Rafael, é importante reconhecer que o estudo, apesar de bem
conduzido, tem várias limitações. “Há um pequeno número eventos, a
significância estatística limitada com largos intervalos de confiança, vieses
de seleção (pacientes que usam suplementos são mais velhos e têm menor adesão
ao tratamento do câncer), de recordação, presença de diversos confundidores, além
da possibilidade de ter havido subnotificação. Mas de qualquer forma, o tema
não deve ser um alarme e sim uma sugestão para que os profissionais de saúde e
os pacientes tomam cuidado com uso indiscriminado de suplementos durante o
tratamento oncológico. A orientação é de sempre seguir a indicação médica e
nutricional”, conclui.
André
Deeke Sasse - oncologista, professor de pós-graduação na
FCM-Unicamp, membro titular da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica
(SBOC), da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e da Sociedade
Europeia de Oncologia (ESMO). Fundador do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e
Hematologia, que atua na oncologia do Hospital Vera Cruz, do Instituto do Radium
e do Hospital Santa Tereza.
Rafael Luís - graduado em medicina pela Unicamp. Residência em Clínica Médica e
Oncologia pela Unicamp. É mestre em Oncologia na FCM-Unicamp. Rafael faz parte
do corpo clínico de oncologistas do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia
e atua no Hospital Vera Cruz, no Instituto Radium de Campinas e no Hospital
Santa Tereza.
Grupo
SOnHe - Sasse Oncologia e Hematologia
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