Cada família gesta a sua identidade, ainda que
algumas vezes, de forma inconsciente. A identidade familiar se alimenta da
vitalidade das diferentes identidades que a constitui, na medida em que inclui
a todos e a cada um, em particular. Por esse motivo, é, por excelência,
orgânica, pois necessita do sentimento individual de pertencimento ao coletivo
da instituição.
Ousamos relacionar o valor da família à sua
capacidade de estabelecer o lugar de valor de cada um. Trata-se de reconhecer e
assegurar os espaços para as singularidades, energia vital à gênese de uma
família. Essa inserção depende, em grande medida, dos adultos referentes,
aqueles que exercem o papel de autoridade de fato, o que nem sempre coincide
com quem ocupa o papel de autoridade de direito, os ditos “responsáveis”.
Os adultos referentes têm a responsabilidade de
observar o “conforto” de cada um dos seus membros na arquitetura dos
relacionamentos geradores de identidades saudáveis (orgânicas), abertas aos
movimentos de aprendizagem contínua. Cabe a eles concentrar a sua atenção nos
sentimentos que nutrem essas relações intrafamiliares, nem sempre traduzíveis
por meio de palavras. Sendo assim, assumir-se como parte integrante de uma
família pressupõe assumir a identidade que é gestada por ela.
Nesse momento, não há como fugir da pergunta: o que
a nossa identidade familiar comunica? Ou melhor, a comunicação é um exercício
da identidade? Não é incomum a existência de uma distância entre o conceito que
temos da nossa família e o conceito que as pessoas que habitam o nosso entorno
expressam, sobretudo na nossa ausência, sobre ela. Diálogos, monólogos, gestos,
entonações, silêncios, contam muito de cada um de nós e, por conseguinte, muito
sobre o núcleo familiar do qual fazemos parte. Basta um tempo de convivência e
nos revelamos. As nossas ações mostram ao mundo que nos rodeia quem somos e,
muitas vezes, distorcem os nossos discursos. Portanto, não há como negar que a
forma como somos reconhecidos revela a nossa identidade.
Ampliar a consciência sobre a importância da
identidade familiar para a construção da identidade pessoal se faz fundamental
diante da plasticidade na organização das famílias nos dias de hoje. Por mais
diferente que venha a ser cada constituição familiar, é preciso que ela se
assuma em seu formato, a fim de amparar aos seus integrantes. Há viço na
família quando cada integrante, ao se perceber parte, consegue perceber o todo
e, quando ao se reconhecer no outro, por meio das relações, entende-se
oscilando entre protagonista e coadjuvante de algo maior, mais nobre. Esse
movimento confere sentido à interdependência, em torno da qual se concebe a
essência sócio-cultural da natureza humana. É necessário pertencer para ser
humano! A família, em primeira instância, é responsável pelo desenvolvimento da
resistência às frustrações, ‘anticorpos’ que integram a identidade e permitem
viver a singularidade da vida.
Acedriana Vicente
Vogel - diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.
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