Conhecer as principais características deste transtorno é essencial para que os
pais estejam atentos e não hesitem em buscar ajuda especializada tão logo notem
algum dos sinais de alerta em seus filhos. Nos primeiros meses de vida, algumas
mães já observam uma estranheza em seu bebê, que parece não procurar contato
visual quando está sendo amamentado, não se acalenta no colo ou no seio
materno. São bebês que podem ficar por horas quietos com o olhar “perdido” ou chorar
excessivamente sem motivo aparente; podem não apresentar sorriso social; não
reconhecer o som do seu nome, a voz dos pais ou pessoas próximas e não se
importar quando os pais saem do seu campo visual.
Alguns pais relatam que a criança brinca bem, mas geralmente sozinha. Quando há
outra criança ou adulto, até brincam junto, mas não há troca entre eles, não há
a procura do outro para brincar. E, algo a se atentar é também a utilização do
brinquedo de forma inusitada.
Eles observam, já no primeiro ano de vida, que a criança fica mexendo com as
mãos ou dedinhos de forma peculiar; ficam fascinados por algo em movimento, que
gire (rodinhas, ventiladores); ou assistem a um único desenho ou filme. Nestes
primeiros meses, gritos ou sons sem contextos e atrasos nos marcos do
desenvolvimento motor, como sentar, engatinhar, ficar em pé, são frequentes,
assim como andar na ponta dos pés de forma aleatória.
Os prejuízos na comunicação nem sempre evolvem atrasos na fala propriamente
dita, mas comprometimentos na linguagem expressiva (habilidade em apontar, dar
“tchau”, gestos com função comunicativa), linguagem receptiva (compreender
linguagem corporal, o que está sendo dito) e dificuldade em compreender
linguagem figurada (expressões faciais, gírias, piadas). Alguns adquirem
linguagem dentro dos marcos do desenvolvimento, mas com particularidades como
vocabulário rebuscado, repetitivo e monótono, inversão pronominal; outros
chegam a adquirir a linguagem verbal e em algum momento, perdem essa habilidade.
Ecolalia que é repetição de palavras ou frases sem função, costuma ser
frequente.
Alterações
no processamento sensorial comumente encontradas no autismo podem se apresentar
como hiper ou hipossensibilidade relacionadas às nossas entradas sensoriais
(visão, audição, olfato, paladar, tato) e à propriocepção. Comportamentos
restritos, rígidos e estereotipados se apresentam por exemplo, como baixa
tolerância a frustrações, dificuldades com mudanças de rotina. Estereotipias
são movimentos repetitivos, ritmados e sem função para quem observa, mas para
pessoas com autismo, são uma maneira de autorregulação ou auto estimulação;
podem ser motoras ou verbais. Em torno de 30% apresentam algum prejuízo na
cognição, porém, temos aqueles com alto QI e altas habilidades.
À
medida que a criança cresce, as dificuldades na interação social, especialmente
com os pares (da mesma idade) vai ficando mais evidente porque as demandas
sociais aumentam. A escola ou a creche nesta primeira infância passa a ter um papel
crucial na identificação de padrões não habituais de comportamento e de
linguagem.
Em alguns casos, os sinais não são tão facilmente identificados por serem
mais brandos. Há casos, também, em que a criança apresenta um desenvolvimento
normal nos primeiros anos de vida, sorri, mantém contato visual, interage, já
fala algumas palavras, dá “tchau”… E, de repente, os pais relatam que seu (ua)
filho(a) ficou “diferente”, que se fechou em mundo próprio, deixou de fazer o
que já havia adquirido.
Há
uma grande possibilidade sintomatológica e cada criança é única. Não iremos
observar todos os sinais e sintomas característicos, porém, quando houver
prejuízos nas interações sociais, no comportamento, na comunicação e/ou perda
de habilidades já adquiridas; o quadro merece investigação e intervenção
imediatas para favorecer o desenvolvimento da criança, bem como sua qualidade
de vida e de sua família.
O
diagnóstico é iminentemente clínico, baseados no “Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders” (DSM-V). O tratamento deve ser multiprofissional,
interdisciplinar e individualizado para atender às necessidades específicas de
cada criança e adolescente e assim, promover seu desenvolvimento em toda a sua
potencialidade. Todos nós para nos desenvolvermos de maneira saudável,
necessitamos de apoio, acolhimento, tolerância, respeito e muito amor.
Deborah
Kerches (CRM 102717-SP) - Neuropediatra especialista em Transtorno do Espectro
Autista (TEA), diretora do Centro de Atenção
Psicossocial Infanto Juvenil de Piracicaba, membro da
Sociedade Brasileira de Neuropediatria, da Associação Brasileira de Neurologia
e Psiquiatria Infantil (ABENEPI), da Academia Brasileira de Neurologia e da Sociedade
Brasileira de Cefaleia. Além de ser palestrante e preceptora do Programa de
Residência Médica em Pediatria da Prefeitura do Município de Piracicaba com
Especialização em Preceptoria pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital
Sírio Libanês.Também ministra cursos e workshops sobre os mais variados temas
ligados a Neuropediatria, Transtorno do Espectro Autista
(TEA) e Saúde Mental Infanto Juvenil.
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