Não bastassem os problemas de
financiamento, a falta de acesso, os desvios de verbas públicas e a má gestão,
entre tantas outras falhas, a saúde do Brasil enfrenta nova mazela neste início
de século XXI. Recentemente, o Tribunal de Justiça firmou parecer de que o
médico é responsável pelo doente, não instituições com arremedos de protocolos,
muitos propondo condutas erradas, infelizmente acatadas por médicos de formação
questionável.
A propósito, é cada vez comum médicos
seguindo protocolos equivocados e dispendiosos sem contestá-los. Dignidade,
defesa de valores, zelar pelos pacientes e pelo uso correto de recursos
econômicos e humanos quase não têm mais peso na rotina de diversas
instituições.
Profissionais que não honram o
juramento de Hipócrates e de formação medíocre simplesmente dizem amém, quando
o cumpra-se vem de cima. Assim, os protocolos ameaçam pacientes, colocando suas
vidas em jogo, enquanto hospitais somam superávits estratosféricos e abrem
novas unidades, como se ergue um boteco.
Essa falta da ética tem consequências
diversas. Antigamente, havia hospitais diferenciados, ao menos no campo da
moralidade. Eram obstáculo a recursos humanos desqualificados e
mal-intencionados. Com o passar dos anos, aventureiros passaram a assumir a
administração de vários deles, transformando-os em campo propício às más
práticas.
Distintos hospitais atropelam médicos
titulares, apossando-se de seus pacientes e jogando-os nas mãos de sua equipe
própria. Isso apenas para garantir lucros vultosos. O resultado, já disse, são
vidas em perigo, tratamentos retrocedendo e prejuízos de toda a ordem ao
sistema de saúde.
A vassalagem e a antiética caminham
juntas em um terreno de conivência. Os órgãos responsáveis por fiscalizar
desvios de médicos e diretores clínicos omitem-se, favorecendo o jogo do
poder.
É absolutamente antiético escalar
colaboradores para tratar dos pacientes cujo acompanhamento sempre foi seguido
por um médico titular. Quanto mais graves os casos do doente, maiores os
riscos.
Lamentavelmente, existem muitos que não
estão minimamente preocupados com o bem-estar de pacientes. Vivem prontos para
ajoelhar e atender aos interesses institucionais.
Um bom hospital não se presta a tal
prática. Deveria haver regra rígida para o banimento de gestores e médicos
desconectados com a assistência de qualidade e a boa medicina.
Tantos absurdos
recorrentes apenas compravam ausência de caráter e de princípios morais. Há um
contingente de médicos de formação inadequada (em geral formados em faculdades
de fundo de quintal) que aceitam ser engessados por protocolos, o que afronta a
medicina humanística e os direitos dos cidadãos.
O desabafo deve-se a minhas crenças
pessoais. Penso, ou melhor, tenho convicção de que nada pode estar acima da
conduta e da decisão do bom profissional de medicina.
As mudanças são urgentes e é obrigação
apontar malfeitos a serem corrigidos.
Antonio Carlos Lopes - presidente da
Sociedade Brasileira de Clínica Médica
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