O “Julho Amarelo” deste ano faz referência à data de 28 de
julho, escolhida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para celebração do Dia
Mundial de Luta contra as Hepatites. O termo hepatite significa inflamação do
fígado, órgão vital que processa nutrientes, filtra o sangue e combate
infecções. Quando inflamado ou danificado, sua função fica comprometida.
Muitas são as causas de hepatites, como por exemplo
alcoolismo; toxinas; algumas medicações; doenças infecciosas sistêmicas, como a
febre amarela, que comprometem diversos órgãos, entre os quais o fígado; além
de raras doenças metabólicas, autoimunes e genéticas.
Contudo, frequentemente são causadas por vírus que agridem
especificamente o fígado, sendo designadas genericamente pelo termo “hepatites
virais” e por letras maiúsculas, sendo os principais tipos as hepatites A, B,
C, D (delta) e E.
Características
A hepatite A pode ser prevenida pela vacinação. É
frequentemente transmitida pelo contato pessoa a pessoa, via fecal-oral ou
consumo de alimentos contaminados. É uma doença autolimitada (não evolui para a
cronicidade). A maioria dos que a adquirem, apresentam sintomas de febre no
início, fadiga, perda de apetite, dor abdominal, náusea e icterícia (coloração
amarela do branco dos olhos e pele), urina escura e fezes claras, evoluindo
para cura em até 2 meses. Crianças com menos de 6 anos tem infecção sem sintomas
e não reconhecida.
Embora a maioria dos casos evolua para cura espontânea, há a
possibilidade de evolução grave em 1% deles. É a chamada “hepatite fulminante”,
com falência hepática e necessidade de transplante de fígado para
sobrevivência. Os anticorpos contra a hepatite A conferem imunidade vitalícia e
protegem contra reinfecção. Contudo, a melhor maneira de preveni-la é através
da vacinação, aprovada desde 1995.
Já a hepatite B é transmitida pelo sangue, sêmen ou outras
secreções corporais, a partir de uma pessoa contaminada para outra não
imunizada. Isso pode ocorrer através de contato sexual, compartilhamento de
seringas, agulhas ou outros equipamentos para injeção de drogas, “piercings” ou
tatuagens, ou através da mãe para o bebê (transmissão congênita). Algumas
pessoas apresentam infecção aguda sintomática. Outras podem evoluir para formas
crônicas em porcentagens que variam conforme a idade: 90% dos bebês
contaminados se tornam cronicamente infectados, enquanto adultos de 2 a 6%.
Pode levar a graves consequências como cirrose e câncer hepático. A melhor
forma de se evitar a hepatite B, também, é através da vacinação, liberada desde
1983.
A hepatite C é transmitida pelo sangue. Atualmente, a
maioria das pessoas se tornam infectadas por este vírus compartilhando
equipamentos para injeção de drogas. Para algumas pessoas, ela é autolimitada
com cura espontânea. Porém de 70 a 85% das pessoas que adquirem a “C”
desenvolvem doença crônica, que pode levar inclusive ao óbito.
A maioria dos infectados pode não ter conhecimento da doença
por ela ficar sem apresentar sintomas por longos períodos. Como não há vacina
para ela, a melhor maneira de preveni-la é evitar comportamentos como uso de
drogas injetáveis e “piercings” e tatuagens sem material descartável e individual.
A hepatite D, ou “delta”, apenas ocorre em pessoas
infectadas pelo vírus B. É um vírus incompleto, que necessita do “B” para se
multiplicar. O vírus D é transmitido pelo contato com sangue contaminado. Logo,
algumas pessoas podem adquirir em conjunto os vírus B e D, ou terem a hepatite
B e depois se contaminarem com o D. No Brasil, os casos reportados são
geralmente da região Norte. Não há vacina contra esta. A melhor prevenção é a
vacina contra a B.
A hepatite E é uma doença autolimitada que não resulta em
cronicidade. É comum em diversas partes do mundo, sendo relatada
esporadicamente no Brasil. É transmitida através da ingestão de matéria fecal,
mesmo que em quantidades microscópicas, sendo usualmente associada à contaminação
de suprimentos de água e alimentos, à semelhança da hepatite A. Esse tipo pode
afetar rebanhos suínos e, portanto, as formas de prevenção incluem os cuidados
com o consumo de água tratada e o bom cozimento dos alimentos, principalmente a
carne de porco. Não há vacina aprovada para E.
Dados
O impacto causado pelas hepatites virais nas populações e
sistemas de saúde pelo mundo é grande. Dados da OMS estimam que pelo menos 400
milhões de pessoas no mundo estejam infectadas cronicamente pelos vírus da
hepatite B e C. Além disso, que haja 1,4 milhão de pessoas infectadas
anualmente pelo vírus da hepatite A.
Acredita-se que 57% dos casos de cirrose hepática e 78% dos
casos de câncer hepático estão diretamente relacionados aos vírus das hepatites
B e C. Por fim, é estimado 1,5 milhão de mortes relacionadas às hepatites
virais.
No Brasil, o Ministério da Saúde disponibiliza a série de
dados epidemiológicos sobre as hepatites virais de 1999 a 2018, sendo
contabilizados no período 89.539 casos de hepatite A, 233.027 casos de hepatite
B, 228.695 casos de hepatite C e 3.984 casos de hepatite D, com 38.411 óbitos
atribuídos a esses vírus no período.
Muitos casos não apresentam sintoma algum e isso aumenta
sensivelmente as chances de transmissão para pessoas não vacinadas, bem como
riscos de evolução para formas crônicas, como cirrose e câncer. Por isso, é
extremamente importante a conscientização da população para que rotineiramente
procurem o serviço médico para a realização de exames de rotina que incluam as
sorologias para as hepatites virais, a fim de que as pessoas não imunizadas
possam receber as vacinas disponíveis paras as hepatites A e B, para que
recebam orientações para prevenção das hepatites que não contam com vacinas
disponíveis e que possam ter o diagnóstico precoce, quando a infecção já tiver
ocorrido, para que cuidados e tratamentos específicos possam ser dispensados.
Dra.
Juliane Gomes - Infectologista do HSANP, centro
hospitalar da Zona Norte de São Paulo (SP).
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