Importante a afirmação do presidente Bolsonaro em
seu discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos, quanto às suas metas de
conciliar a produção agropecuária, o desenvolvimento e a preservação ambiental.
A mensagem atenua eventuais preocupações quanto a um tema prioritário, cuja
abordagem pelo novo governo ainda precisa ser melhor entendida: a posição do
Brasil frente ao aquecimento da Terra/efeito estufa e as políticas públicas
necessárias ao engajamento de nosso país, como protagonista, na luta do Planeta
contra as mudanças climáticas.
No trato do assunto, parece haver alguns
diagnósticos precipitados por parte de membros do novo gabinete. Isso ficou
claro em artigo do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, no qual
ele inclui o "alarmismo ambiental" entre os tópicos do pretenso
"marxismo cultural a ser extirpado do Itamaraty, por determinação do
presidente".
Sem entrar no mérito da política externa, que
certamente será conduzida com base na defesa dos interesses brasileiros, cabe
esclarecer que não há alarmismo nos pareceres de reconhecidos organismos
internacionais quanto aos riscos das mudanças climáticas. Os níveis de dióxido
de carbono na atmosfera estão aumentando em velocidade recorde, conforme
demonstrou, cientificamente, a Organização Meteorológica Mundial (OMM). A
questão, portanto, não é ideológica; é técnica e ecológica!
Daí a importância do Acordo de Paris, firmado em
dezembro de 2015, na COP21 – Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança
do Clima, que entrou em vigor em 4 de novembro de 2016. O Brasil é um dos 180
países que já o ratificaram, dentre os 197 signatários. Nosso compromisso
básico perante o tratado é reduzir até 2030 as emissões de gases de efeito
estufa em 43%, na comparação com 2005. Para isso, é fundamental aumentar
exponencialmente a participação de fontes mais limpas e renováveis em nossa
matriz energética.
Um dos grandes trunfos brasileiros é que nenhum
outro país tem potencial como o nosso para fabricar etanol e biodiesel num
elevado padrão de sustentabilidade econômica, ambiental e social. Trata-se de
um diferencial competitivo que deverá gerar muitos investimentos, divisas e
empregos. Estratégia relevante para que tenhamos êxito no âmbito desse desafio
encontra-se na Política Nacional de Biocombustíveis – RenovaBio (Lei
13.567/2017). Esta começa a propiciar ganhos de produtividade e eficiência,
contribuindo para que produzamos cada vez mais energia limpa e renovável e
reduzamos paulatinamente a emissão de carbono e dos gases de efeito estufa.
Assim, é necessário identificar com clareza o que,
de fato, define a responsabilidade ambiental do Brasil perante sua economia,
sua população e o mundo e aquilo que poderia ser taxado como exagero alarmista
com viés ideológico. Cumprir os compromissos relativos ao Acordo de Paris e
ampliar a participação de fontes renováveis e limpas na matriz energética nada
tem a ver com "marxismo cultural". Trata-se, sim, de um objetivo
democrático, capitalista e ambientalmente correto. Seu êxito será imensa
contribuição ao desenvolvimento, em sintonia com os propósitos do novo governo
de recuperar a economia, criar empregos e promover o crescimento sustentado.
João Guilherme Sabino Ometto - engenheiro (Escola
de Engenharia de São Carlos - EESC/USP), é vice-presidente do Conselho de
Administração da Usina São Martinho e membro da Academia Nacional de
Agricultura (ANA).
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