O mais admirável país da
América do Sul. Assim foi a Venezuela. Democrática, sempre imperfeita a
democracia, como todas, mas de liberdade e de riquezas econômicas, posto que
fundadas no monopólio estatal do petróleo.
Bastou a chegada dos
primeiros problemas para crescer a ambição chavista. Assim como na Rússia e em
Cuba, duas tentativas. A segunda se fez real.
Hugo Chávez não era homem de
cultura política sólida. Porém, dominava fragmentos. E o fazia com destreza.
Tornam-se essas lascas frouxas um profundo compêndio de sabedoria,
quando alinhadas em grandes manifestações de massa.
Juntou-se ao marxismo, muito
embora pouco dele conhecesse. Tal como outros propensos à esquerda, limitados a
alguns jargões universais. Vista em profundidade, a teoria marxista não se fez
superior a qualquer outra elucubração filosófica ou econômica. Ainda caminha o
homem, na conjugação de todas, atrás de uma síntese razoável. Algo que possa
trazer a felicidade universal. Estamos num longo caminho, o que não significa
sua intransponibilidade.
Os fossos sociais
justificaram o marxismo e, em sua mais profunda intimidade nacional, o
bolivarianismo. Nada conclama mais o povo do que o apelo à justiça. E dá
solidez às doutrinas que aparentemente a justificam. Não raro, ficam vazios os
apelos e as doutrinas; e tudo decai ao populismo, que tanto mal acarreta à
política. O apelo popular bolivariano foi intenso, porém caiu como castelo de
cartas com seu líder da mentira demagógica.
Líder megalomaníaco que não
soube fazer seu sucessor, ascendeu ao poder um ex-motorista de ônibus, contra
os quais nada tenho, mas que concentrou seu poder sobre um exército corrupto,
sobre força nacional do mesmo vácuo de hombridade e milícias cooptadas como se
fossem turbas mercenárias. É dizer, não remedou a economia, não arranjou a
política, não construiu uma sociedade venezuelana. E usa seu vozerio como
provavelmente o usasse nas assembleias dos condutores de coletivos em Caracas.
Mas, infelizmente, ainda há
o outro lado. Ocorre que os protagonistas não são a ONU e as nações
preocupadas com a paz mundial, cujas usuais recomendações voltam-se ao caminho
democrático e diplomático das soluções consensuais e pacíficas. Nada melhor que
a decadência de um regime como o venezuelano, à pobreza, à fome, à falta d'água,
ao pior dos piores mundos humanos e animais, para o aproveitamento oportunista
de governos como o de Donald Trump e suas inclinações xenófobas e belicistas,
bem como às direitas extremas de todo jaez.
Nessa conjuntura de
contradições e desbussolamento vivemos os últimos dias. Um regime em fim de
caminhada, de verniz esquerdista a justificar a união de seus antípodas, nas
profundezas do poço, garantido pelas forças das armas mantidas com o dinheiro
do petróleo, e os pretensos opositores que, em nada sendo humanos, falam em
ajuda humanitária barrada nas fronteiras, como a pior barbárie, quando tal
ajuda não passa de provocação política, depositada em alguns pequenos caminhões
da Colômbia e do Brasil. Perdido nesse xadrez internacional, esse sim, bárbaro,
está o povo venezuelano, a cada dia que passa mais depreciado no sangue e na
carne que lhe resta.
E a verdadeira solução para
tais impasses, provenientes da Organização das Nações Unidas, cada vez mais
menos ouvida, diplomática e pacífica, a implicar em eleições livres e
gerais. Enquanto a população suporta e supera suas agruras, o apreço
pela liberdade e justiça vai-se ao pôr do sol das tristes tardes da
Venezuela.
Amadeu Garrido de Paula - Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.
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