Em
alta no carnaval, glitters alternativos aos convencionais de plástico podem não
ser biodegradáveis
Carnaval é época de brilhar, e muitas
pessoas procuram adotar atitudes ecologicamente corretas. Frente aos malefícios
dos microplásticos no meio ambiente, do qual os glitters convencionais são
parte, os chamados ‘bioglitters’ estão ganhando cada vez mais adeptos. Mas você
sabia que nem todos eles podem ser considerados biodegradáveis?
Para entender essa questão, é preciso
primeiro explicar o conceito de biodegradável - e ele não diz respeito a
qualquer material que se desintegre ou se ‘misture’ simplesmente ao meio
ambiente. Segundo Débora Linhares, pesquisadora do Laboratório de Biotecnologia
Industrial do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), biodegradável é um
material orgânico que pode ser consumido por organismos vivos (animais ou
microrganismos, por exemplo) como fonte de carbono (alimento) e energia.
O grande problema do glitter
convencional reside exatamente aí. Compostos em sua maioria por plásticos (PVC
e PET) recobertos de um material metalizado (geralmente alumínio) e outros
aditivos, eles contém material orgânico - o polímero -, mas ele não pode ser
metabolizado por seres vivos no ambiente natural, ao menos não em um tempo
compatível ao de um material biodegradável. A norma internacional ISO 14855
define um tempo de 180 dias para um polímero biodegradável ser decomposto no
ambiente - embora não haja dados oficiais e exatos, estima-se que uma garrafa
de plástico comum demore mais de 100 anos para ser degradada, por exemplo.
O Laboratório de Análises
Químicas do IPT testou algumas amostras de glitter convencional e estimou 53%
de poliéster em sua composição. “Quando chega ao ambiente, acontece o que
acontece com qualquer material não biodegradável: ele se acumula”, explica
Débora. “No caso do glitter, considera-se a questão dos microplásticos. Esses
pequenos fragmentos chegam aos rios e mares, entram na cadeia alimentar
e,dependendo do sistema de tratamento, podem até chegar à água de consumo, no
caso de água doce”, esclarece.
E os ‘bioglitters’? Atualmente, a
maioria das empresas - ou adeptos do ‘faça você mesmo’ - dedicadas a eles
apostam em uma produção artesanal, em um combo que reúne rótulos como‘natural’,
‘vegano’ e o conhecido de biodegradabilidade. O que acontece é que esses
glitters possuem uma variedade grande em sua composição: podem ser feitos com
sal, açúcar, amido de milho, goma vegetal, eucalipto, celulose, minerais e
corantes naturais - enfim, uma infinidade de matérias-primas.
No glitter alternativo testado no
IPT, por exemplo, foi estimada uma composição de 96% de mica (um tipo de
mineral) e 4% de corante natural. A mica é um material inorgânico, e portanto,
o conceito de biodegradável simplesmente não se aplica. “Não há o que
biodegradar: o componente principal não pode servir de alimento, ou a
princípio, ser fonte de energia; o corante natural pode, mas está em uma
porcentagem pequena na formulação”, aponta Débora.
Para a pesquisadora, o termo é
utilizado pelo mercado para fazer uma contraposição ao glitter convencional,
que se acumula no ambiente e é prejudicial à fauna. “A mica faz parte da
composição da areia, e na quantidade em que são utilizados os glitters, não
teriam potencial de causar um problema de sedimentação, entupimentos ou algo do
tipo. Do ponto de vista ambiental, me parece bem melhor usar o glitter mineral
ao invés do polimérico comum”, opina a pesquisadora.
Quanto às outras composições de
glitter, que incluem matérias-primas orgânicas majoritárias em sua composição,
incluindo os de base vegetal, é preciso atenção: materiais produzidos a partir
de fontes ‘naturais’ não são sinônimos de biodegradáveis.
“Para dar um exemplo, o plástico do
tipo polietileno produzido a partir do etanol de cana-de-açúcar tem a mesma
propriedade química do polietileno obtido a partir do petróleo, e não é
biodegradável. O apelo, na verdade, é a fonte renovável, que é a cana. Então,
para saber se uma substância orgânica é biodegradável, são necessários ensaios
e estudos específicos que apontem essa característica”, conclui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário