No
mês de setembro, a versão 2008 da norma ISO 9001 (qualidade) e a versão 2004 da
norma ISO 14001 (ambiental) simplesmente perderão a validade. Segundo dados
obtidos no site do Inmetro, responsável pela acreditação das normas no Brasil,
cerca de 80% das empresas brasileiras certificadas - mais de 19 mil - ainda não
efetuaram a migração para a nova versão da norma, que está em vigor desde 2015.
As empresas que não fizerem a atualização, perderão a certificação por
completo. Entre os motivos para o atraso, estão os cortes advindos da crise, a
falta de conhecimento dos empresários quanto à necessidade de atualização e o
velho hábito do brasileiro de deixar tudo para a última hora.
De
tempos em tempos as normas são revistas, a fim de garantir que os requisitos
avaliados estejam em conformidade com as transformações pelas quais o mercado
atravessa. O objetivo é mantê-las atualizadas, garantindo sempre as melhores
práticas. A grande novidade da versão 2015 é a inclusão de metodologias para a
gestão de riscos, garantindo mais qualidade aos produtos, redução dos impactos
ambientais e dos problemas financeiros. As normas dão garantias ao mercado de
que suas organizações possuem altos padrões de qualidade dos produtos e/ou
serviços prestados (ISO 9001), além que cumprem rigorosamente as legislações
ambientais do país (ISO 14001).
O
Brasil já foi o 10° país do mundo em número de certificações, sendo o maior da
América Latina. No total, 19.274 empresas
brasileiras conquistaram a ISO 9001 na versão 2008. No entanto, apenas 3.184 possuem a versão 2015. No caso da ISO 14001, 2.226 possuem a versão 2004. Na 2015, apenas 401. De
acordo com o mesmo levantamento, as indústrias, o mercado de construção civil e
automobilístico são os que estão mais atrasados na atualização da norma. Caso
as empresas realmente deixem de fazer a migração, passaremos então ao menor
número de empresas certificadas no continente latino-americano. Dessa forma, o
Brasil irá perder competitividade com empresas estrangerias e uma parcela
significativa da sua participação no mercado exterior.
Além
de melhoria nos processos, empresas certificadas conquistam muitos outros
benefícios. Há significativa redução nos desperdícios, os chamados savings,
e ainda uma grande melhoria na imagem perante o perante a sociedade, visto que
várias ações de marketing valorizam esse tipo de reconhecimento. Cabe destacar
ainda que boa parte das empresas de grande porte e multinacionais só costumam
aceitar fornecedores certificados, reduzindo drasticamente a participação de
mercado das não certificadas. Isso reduz o market share e,
consequentemente, as possibilidades de receita das empresas.
O
custo de ficar de fora das oportunidades certamente é muito mais alto do que os
investimentos envolvidos para a conquista das certificações. As empresas de
pequeno e médio porte, cujo faturamento não justifica a manutenção de um
departamento interno de qualidade, devem recorrer às consultorias. Além de
contar com auditores especializados, que conhecem cada detalhe dos requisitos,
essas empresas cuidam de todo o processo, desde a análise da organização,
passando pela apresentação da solução até o acompanhamento junto às certificadoras,
que farão apenas a avaliação dos itens da norma. Normalmente, essas
consultorias atrelam parte de sua remuneração ao sucesso da certificação. Sendo
assim, a empresa tem garantia na qualidade do serviço prestado.
A
grande questão é que, se as empresas ainda não iniciaram o processo de
atualização no mês que vem elas perderam a certificação das normas. Afinal
apesar de simples, o processo é um pouco demorado. Em média, leva-se em torno
de 6 a 8 meses para concluir todas as etapas da certificação ou da recertificação.
Portanto, veremos nos próximos anos o Brasil perdendo muita competitividade no
mercado global. O fato pode agravar ainda mais a crise que assola o Brasil,
inclusive influenciando negativamente o PIB.
Alexandre Pierro -
engenheiro mecânico, bacharel em física aplicada pela USP e fundador da PALAS,
consultoria em gestão da qualidade.
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