Problema têm como pano de fundo uma
doença psiquiátrica e destas a depressão encabeça a principal das causas
No mês em que os olhares estão voltados para
a prevenção do suicídio, Diego Tavares, psiquiatra e especialista em depressão
e bipolaridade do Hospital das Clinicas da FMUSP alerta que a depressão do
transtorno bipolar causa o dobro dos casos de suicídio da depressão clássica,
mais conhecida pela maioria das pessoas. Mas por que pouco se fala na depressão
com bipolaridade?
Segundo
o especialista em transtornos de humor a maior parte das pessoas ao se deparar
com temas relacionados a suicídio como automutilação, tentativas de suicídio e
o próprio suicídio consumado, acaba dando atenção exclusiva aos fatores
agravantes mas não aos fatores predisponentes biológicos como as doenças
psiquiátricas. Muitos são os estressores ou gatilhos que levam ao
suicídio: a perda de emprego, problema financeiro, separação, bullying, assédio
moral, burnout,
mas pouco se fala sobre as raízes de um comportamento suicida. E é disso que
precisamos falar quando pretendemos prevenir o suicídio, agir nas raízes do
problema.
“Quem
se suicida está doente, isso é um fato, mesmo que a doença esteja
silenciosamente oculta e na maior parte dos casos está, o suicídio traz, em
algum grau, alguma desordem no sistema nervoso, nas regiões desregulação
emocional. O suicídio é um problema que começa no cérebro e termina na ação,
agravado por estressores psicossociais”, diz.
Para
exemplificar, Dr Diego enumera os tipos de depressão:
Depressão
melancólica: é a
retratada nos filmes e por isso é o que a maior parte das pessoas acredita ser
depressão. É um tipo grave, porém raro de depressão, em que os pacientes podem
apresentar intensa lentidão motora, ficam de cama, parados o tempo todo, não
comem, não tomam banho e têm acentuada perda da capacidade de sentir prazer por
coisas antes prazerosas. A característica principal da melancolia é a completa
ausência de reatividade do humor, ou seja, a pessoa não se anima com nenhum
estímulo positivo.
Depressão
ansiosa: os
pacientes apresentam sintomas depressivos menos graves, porém apresentam uma
proeminência maior de sintomas ansiosos (medo intenso, preocupação, tensão,
hipervigilância e insegurança).
Depressão atípica: a
pessoa sente um humor de apatia, sono excessivo durante o dia, aumento
exagerado de apetite e reatividade do humor (melhora com fatores positivos
eventuais). Costuma ser confundida com um esgotamento físico ou problemas como
anemia, deficiência de hormônios, etc.
Depressão
mista: é mais
perigosa e a que apresenta o maior risco de suicídio. São quadros de depressão
com maior agitação mental, desespero, angústia, dificuldade de concentração por
distração e pensamento acelerado, maior irritabilidade, comportamentos
compulsivos que aliviam a depressão (fumar, beber, usar maconha,
gastar dinheiro, abuso de calmantes, se masturbar, etc), aumento da fala
(reclamando e sofrendo com a depressão), labilidade de humor (momentos de
grande variação emocional). Nesse tipo, os pacientes podem apresentar com
maior frequência ideias de suicídio como fenômeno associado ao intenso
desespero e angústia presentes nestes quadros. Ocorre com frequência no transtorno
bipolar, devido a mistura de elementos da depressão com elementos da fase
maníaca (agitação, desespero, pensamento rápido, impulsividade aumentada,
etc).
De acordo com o especialista, a principal causa
de suicídio são as depressões do transtorno bipolar (15% de frequência). Os tratamentos de depressões
melancólicas, ansiosas e atípicas podem ser feitos apenas com medicamentos da
classe dos antidepressivos mas quadros de depressão mista precisam de
medicamentos da classe dos estabilizadores de humor (sozinhos ou associados aos
antidepressivos). “Mas, o mais importante de tudo é tratar a depressão como
prevenção ao suicídio e sabermos que nem toda depressão se expressa da mesma
maneira e que alguns tipos apresentam maior risco de suicídio. A depressão
quando é grave não se cura sozinha e merece tratamento com medicamento e
psicoterapia”, finaliza o especialista.
FONTE:
Dr. Diego
Tavares - Graduado
em medicina pela Faculdade de Medicina de Botucatu - Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (FMB-UNESP) em 2010 e residência médica em
Psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) em 2013. Psiquiatra
Pesquisador do Programa de Transtornos Afetivos (GRUDA) e do Serviço
Interdisciplinar de Neuromodulação e Estimulação Magnética Transcraniana
(SIN-EMT) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) e coordenador do
Ambulatório do Programa de Transtornos Afetivos do ABC (PRTOAB). https://drdiegotavarespsiquiatra.com/
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