Pesquisa
revela que os estudantes encaram os programas de aprendizagem como a porta de
entrada para o mundo profissional
Com pouca ou, muitas vezes, nenhuma experiência
prévia na área de atuação, os jovens que ainda frequentam as salas de aula
buscam soluções para não ficarem à margem do mercado. Mas, além de ter que
lidar com provas, trabalhos e atividades complementares, também é preciso
enfrentar o quadro econômico brasileiro que ainda amarga os efeitos da crise
dos últimos anos. Por isso, entre as alternativas, o estágio vem ganhando
destaque e despertando o interesse da faixa etária mais prejudicada com o
desemprego no país.
Se no mercado formal a falta de experiência do
grupo é um problema, nos programas de estágios o requisito é totalmente
dispensável, já que existe um caráter educacional na modalidade. Não é à toa
que os estudantes estão encarando a oportunidade como uma ponte até o trabalho
formal, pois, segundo uma pesquisa especializada, o principal intuito desses
jovens é colocar a mão na massa e adquirir vivência profissional para o desenvolvimento
de suas carreiras.
Desemprego afeta cinco milhões de jovens no Brasil
Neste mês o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) divulgou os últimos dados do mercado de trabalho. Os
índices, referentes ao segundo trimestre do ano, revelam que o desemprego
atinge, atualmente, cerca de 5 milhões de trabalhadores entre 18 e 24 anos. O
número supera o dobro da média nacional, que ficou em 12,4%, enquanto a faixa
etária mais jovem tem um percentual de 26,6%. E a situação fica ainda mais preocupante
para a população com idade entre 14 e 17 anos, que detém a maior taxa de
desemprego, com 42,7%, mais que o triplo da taxa geral.
Estágio é a principal ferramenta contra a crise do emprego
Para driblar a falta de oportunidades no mercado
formal, os estudantes estão recorrendo, cada vez mais, aos programas de
estágio. Segundo um levantamento realizado pela Companhia
de Estágios – consultoria e assessoria especializada em programas de
estágio e trainee – entre os principais objetivos desse público está a obtenção
de experiência na área de atuação. A pesquisa “O Perfil do candidato a vagas de
estágio em 2018”, que contou com uma amostra de 5.410 participantes de todas as
regiões do país, mostra que 66,8% desse universo optou pela modalidade para
poder adquirir a experiência profissional necessária para competir no mercado
celetista. Inclusive, quando questionados sobre qual a prioridade ao atuar em
um programa de estágio, 72,2% afirma que a oportunidade de aprendizado está no
topo da lista.
Maior nível de confiança entre os estagiários
Segundo os dados da recrutadora, 48,2% dos
candidatos ao estágio não se sentem prontos para encarar o mercado de trabalho
formal por considerarem que ainda falta adquirir conhecimento profissional para
isso. Já entre os jovens que participam atualmente de algum programa de
aprendizagem, esse índice cai para 32% de estudantes que acreditam não ter experiência
suficiente. Em contrapartida, o nível de confiança nesse segundo grupo é maior:
29,8% revela que já se sente preparado para assumir uma vaga efetiva devido,
justamente, à vivencia dos estágios anteriores ou atual.
De acordo com Tiago Mavichian, diretor da
recrutadora, apesar de não gerar vínculo empregatício, o estágio pode
proporcionar ao estudante uma boa vivência profissional na área de atuação: “O
aluno só pode se candidatar às vagas que são voltadas à sua formação,
justamente para que ele possa complementar seu aprendizado. E os jovens já tem
consciência disso, pois, segundo nosso levantamento, 52,4% dos candidatos
afirmam que a maior vantagem do programa é a oportunidade de colocar a mão na
massa e aplicar tudo o que é aprendido na sala de aula. Além disso, o ambiente
de trabalho também favorece o desenvolvimento de outras habilidades importantes
na vida profissional, como pontualidade, saber trabalhar em equipe, gerenciar
prazos e tarefas e lidar com as responsabilidades” – explica o especialista.
Período oportuno
A boa notícia é que, mesmo diante da baixa oferta
de vagas no mercado em geral, os programas de estágio já vêm apresentando
sinais de recuperação com a retomada de postos, especialmente nessa época, após
as férias. Dados da Companhia de Estágios demonstram que nos últimos anos o
histórico do número de vagas abertas foi sempre maior durante a segunda etapa
do ano. Desde 2013, o período entre julho e dezembro vem apresentando um
crescimento expressivo de, em média, 7,4% em comparação com o primeiro semestre
de cada ano.
Segundo Mavichian, este desempenho expressivo
pode ser associado a dois fatores: “Nessa época acontece uma entressafra nos
programas de estágio, pois é um período em que, geralmente, muitos contratos
vigentes chegam ao fim, devido à conclusão do curso ou à efetivação do
estudante, e as empresas buscam novos jovens em formação para participar de
seus programas. Mas, além disso, também há sinais de uma recuperação do
mercado. Apesar do declínio na oferta de vagas, que ocorre desde 2013, os dados
indicam que os postos abertos atualmente, especialmente nesse período do ano já
superam o número subtraído e isso sinaliza que o mercado está reagindo e as
empresas estão voltando a contratar”.
Quem pode se candidatar
Tal notícia vem como um grande alento para os
jovens, mas apenas para aqueles que ainda frequentam as salas de aula.
Portanto, a primeira regra para poder participar é estar matriculado em uma
instituição de ensino. O especialista explica que o programa é destinado a
alunos, tanto do ensino médio/técnico quanto do nível superior, e possui um
viés educativo que visa complementar a formação do estudante. “Justamente por
isso a experiência prévia é um requisito descartado por lei” – afirma
Mavichian.
O estágio é regulamentado pela lei nº 11.788, que
existe para assegurar que os jovens não serão encarados apenas como uma
mão-de-obra de baixo custo. Por isso há regras que devem ser respeitadas para
que o programa não se distancie de seu foco principal. “De acordo com a
legislação, a partir dos 16 anos já é possível participar, mas, apesar de
grande parte dos integrantes da categoria serem mais jovens, a experiência
também é válida todas as idades, pois o objetivo é único: favorecer a formação
e desenvolvimento profissional do estudante e abrir as portas do mundo
corporativo” – finaliza o diretor.
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