A corrida eleitoral já começou e promete ser
acompanhada de perto pelos brasileiros. Nos últimos anos, política passou a ser
assunto abordado nas mais diversas rodas de conversa: se antes o tema era
considerado indiscutível, assim como futebol e religião, agora, ele tem se
tornado público, imprescindível e um reflexo das preocupações com a economia,
com a crise enfrentada pelo país nos últimos anos e com as consequências do
combate à corrupção. Essa recente politização é o início do que pode ajudar na
transformação da máquina pública, fazendo com que a corrupção possa fazer parte
do passado, em vez de ser uma constante que incomoda, mas que ninguém faz nada
a respeito.
Uma das formas de entender as propostas dos
presidenciáveis é acompanhar os debates, que devem se tornar constantes e
apresentam de forma resumida os programas de governo (estes que não seguem um
padrão e estão dispostos em documentos que contêm de cinco a 228 páginas), com
metas, promessas e o que é considerado importante pelos candidatos. Entretanto,
ao analisar as discussões públicas que aconteceram até o momento, um tema tão
importante para a sociedade, que é foco de praticamente todos os setores de
peso do país, ainda não foi abordado: tecnologia. E vamos ser mais específicos:
tecnologia para tornar as cidades inteligentes, otimizando a estrutura para
agilizar, reduzir e ampliar o acesso dos cidadãos aos principais serviços
públicos.
O tema também não é muito tratado pelos programas
de governo. Quando é mencionado, tem grande foco no desenvolvimento industrial
brasileiro e na aplicação da tecnologia para a indústria 4.0. Um ou outro
candidato ainda comenta sobre a necessidade de centralização dos dados do
Sistema Único de Saúde, ou ainda sobre a integração de informações, mas a
tecnologia acaba sendo subvalorizada como estratégia para revolucionar os
Estados e Municípios.
No entanto, sabemos que as cidades mais inteligentes do
mundo têm em comum o uso de recursos inovadores para uma gestão mais eficiente,
sem necessariamente terem que aumentar a sua infraestrutura. Trata-se, também,
de encontrar pontos de melhoria no que já existe e investir corretamente,
conseguindo, sim, fazer mais com menos.
Lógico que, em sua imensidão e diferenças de
desenvolvimento entre regiões, o Brasil ainda demanda investimento em setores
básicos, como educação, saúde, transportes e emprego. Mas a otimização do que
já existe pode transformar as cidades e seus cidadãos: transporte público
integrado e que atenda às necessidades da população, com incentivo ao uso de
bicicletas e outras alternativas sustentáveis; acesso digital aos principais
serviços para a população, automatizando demandas e agilizando processos;
melhor aproveitamento de estruturas públicas, com espaços adaptados para as necessidades
atuais, com redução dos custos com infraestrutura; incentivo à obtenção de
energias renováveis, tornando os locais autossuficientes para o abastecimento
de energia elétrica; entre outras tantas iniciativas que poderiam simplesmente
melhorar o país com o que já se tem.
A busca pela sustentabilidade é algo que podemos
destacar sobre a importância da tecnologia e das cidades inteligentes. Mais do
que isso, trata-se de ter a qualidade de vida como um ponto importante no
processo de desenvolvimento do país, gerando o que, particularmente, deveria
ser uma das prioridades máximas de qualquer um que deseja estar à frente do
Brasil: proporcionar ao cidadão formas de viver bem, enquanto se preserva e já
prepara o terreno para as gerações futuras.
Fabrício
Zanini - diretor-presidente do Instituto das Cidades
Inteligentes (ICI).
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