Itens com apelo "natural" ganham
público, no entanto muitos consumidores deixam passar despercebidas substâncias
nocivas à saúde
A
onda de produtos mais saudáveis e naturais nunca esteve tão em alta. Mesmo com
a crise e inflação acima da média, pesquisas do setor afirmam que os
consumidores continuam investindo em itens dessa linha. O tema é, inclusive,
pauta de diversos estudos atuais acerca dos benefícios da matéria prima
natural, seja na dieta ou em produtos de higiene pessoal e cosméticos. Afinal,
esses ingredientes já não são mais restritos apenas à mesa dos brasileiros há
algum tempo. Eles integram a fórmula de diversos produtos do dia a dia e
invadem cada vez mais as prateleiras de lojas e supermercados para atender essa
demanda.
O
fato é que os brasileiros estão cada vez mais preocupados com a saúde, por isso
estão atentos desde a composição do cardápio até os itens de cuidados com a
beleza. É o que demonstra a pesquisa “A percepção dos consumidores brasileiros
sobre cosméticos sustentáveis”, realizada pelo portal especializado Use
Orgânico.
De
acordo com o levantamento, 82,5% dos participantes se preocupam com a qualidade
dos produtos usados no rosto, corpo ou cabelo tanto quanto dos alimentos que
ingerem. A maioria dos consumidores ainda afirma conferir o rótulo e a fórmula
desses itens, além de dar preferência àqueles que possuem ingredientes
naturais, mas será que isso é o bastante? Segundo os especialistas há alguns
outros cuidados que devem ser observados para garantir a qualidade e acertar na
escolha do produto mais saudável.
Sobre o estudo
Segundo
o levantamento, que ouviu 1.517 pessoas de todas as regiões do país, a grande
maioria dos entrevistados diz se preocupar com a qualidade dos produtos que
passa no corpo tanto quanto se preocupa com a alimentação. Da mesma forma,
quase 80% dos consumidores afirmam que, ao comprar um cosmético, avaliam quais
componentes estão presentes na fórmula, e 74.4% deles priorizam o uso de
ingredientes naturais, seja na alimentação ou nos produtos.
Quando
se trata especificamente de cosméticos, fica evidente que o apelo “natural” tem
grande peso na escolha desse consumidor: para 48% dos entrevistados um produto
de beleza é mais atrativo quando possui uma composição com ingredientes
naturais, essa característica se sobressai, inclusive, dos produtos
clinicamente testados, considerados em segundo lugar pelos consumidores,
juntamente com a redução de aditivos químicos.
Onde está a pegadinha?
Toda
essa preocupação sobre o impacto das escolhas da dieta e produtos de higiene e
beleza se reflete nos hábitos e tendências de consumo, fato que já é percebido
pelo mercado. De acordo com o levantamento “Power Natural: vivendo
intensamente, mas com saúde” realizado pelo Google, a busca pelo termo
“natural” cresceu 70% nos últimos 5 anos, à frente, inclusive da procura pela
palavra "saudável" que aumentou 55% no mesmo período.
Essa
tendência de comportamento tem mobilizado diversas marcas que, para atender
essa demanda, precisam se reinventar e tornar os produtos mais atrativos a esse
público. Mas como? Valorizando a matéria prima natural, o que para muitos
consumidores significa sinônimo de saudável, no entanto, especialistas afirmam
que, na prática, não é exatamente assim que acontece. Por mais que o princípio
ativo do produto seja um ingrediente natural, há outros componentes que podem
reduzir seu potencial saudável e, até mesmo, torna-lo nocivo à saúde. Por isso
não basta confiar em qualquer produto “natureba”, é preciso ficar de olho
também na composição.
Atenção redobrada
Segundo
a médica Maria Clara Couto, há substâncias de alta toxicidade nos cosméticos
convencionais e, mesmo aqueles que se dizem naturais, não estão livres desses
elementos: “Apesar da maioria das pessoas se sentir mais segura ao adquirir um
produto com apelo natural, há outros componentes que merecem uma atenção
especial, pois, embora o produto use um ativo confiável, pode conter em sua
fórmula outras substâncias, como os derivados do petróleo, corantes e
aromatizantes sintéticos, conservantes artificiais, dentre outras coisas, que
podem colocar tudo a perder. O ideal é verificar a lista de ingredientes e,
nesses casos, vale aquela velha premissa: menos é mais, ou seja, quanto menos
itens industrializados na fórmula, melhor” – afirma Couto – especialista em
dermatologia.
Cuidado com os agrotóxicos
Mesmo
com essa precaução, segundo a consultora da Use Orgânico, os produtos naturais
ainda não estão livres dos temidos agrotóxicos. “Engana-se quem pensa que esses
vilões só estão presentes em nossos pratos. Eles estão em frutas, verduras,
carnes, leite, bebidas, produtos industrializados e em quase tudo o que
compramos no supermercado”. O Brasil carrega o amargo posto de ser o maior
consumidor de agrotóxicos do mundo, para se ter ideia, por ano é consumido o
equivalente a mais de 7 litros de agrotóxicos por pessoa, e, segundo estudos, a
contaminação pode atingir, até mesmo, o leite materno.
Couto
afirma que: “A regra para os produtos classificados como naturais é de que eles
podem conter no máximo 5% de componentes artificiais, no entanto, seus
ingredientes de origem natural não são necessariamente isentos de agrotóxicos,
pesticidas e adubos químicos durante o cultivo, portanto, mesmo que o produto
esteja livre de elementos sintéticos, como os corantes e fragrâncias, ainda
assim podem conter essas substâncias nocivas. Diferente dos orgânicos, que além
de possuírem os ativos naturais, as matérias-primas usadas não levam
agrotóxicos no seu cultivo.” – explica a especialista.
Além
disso, estudos realizados pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva
(Abrasco) e Ministério da Saúde – Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) apontam os
malefícios que os agrotóxicos podem causar, como problemas neurológicos,
motores e mentais, distúrbios de comportamento, problemas na produção de
hormônios sexuais, infertilidade, má formação fetal, aborto e, até mesmo,
diversos tipos de câncer.
Como acertar na escolha
Para
não errar, a dica é ficar de olho no rótulo. Segundo José Youssef, diretor
comercial da Use Orgânico, ainda não há uma regulamentação no Brasil para
cosméticos naturais, por isso, muitos fabricantes utilizam o termo
indiscriminadamente. Já outros seguem as exigências internacionais
estabelecidas pela principal associação de certificadoras europeias Cosmetic
Organic Standard (Cosmos), portanto são mais confiáveis. Mas, para garantir um
produto natural, livre de aditivos químicos e substâncias nocivas à saúde, o
ideal é investir nos orgânicos. “Esses produtos respeitam uma série de normas
para se encaixar na categoria, por isso são certificados por agências
regulamentadoras reconhecidas internacionalmente como a EcoCert (francesa), o
IBD (Instituto Biodinâmico – brasileiro), e a SVB (Sociedade Vegetariana
Brasileira), o que garante sua qualidade e traz segurança ao consumidor” –
explica o especialista.
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