Quando se dará atenção real e objetiva para a solução
do transporte e do trânsito nesse país? Ações coordenadas do governo precisam de
maior legitimidade. Leis complementares, resoluções, parecem desarticular o
conjunto de necessidades para solução do problema.
A
necessidade de mobilidade do ser humano leva-o a situações conflitantes. Busca
por todos os meios o transporte individual, porque é privado do transporte
coletivo diante do volume de passageiros, do “empurra empurra” para acessar um
ônibus, um trem, van ou qualquer outro meio.
Ir
e vir são direitos assegurados pela Constituição, mas com muitas limitações na
prática. O transporte hoje é, nas grandes metrópoles, a dificuldade maior.
Perdem-se horas seguidas para o embarque, para transitar e chegar a um destino.
A
gestão, o planejamento e projetos estão distantes do objetivo da sociedade como
um todo
Vítimas
deste trânsito louco crescem de maneira assustadora. O último levantamento
estatístico mostrou existirem 54 mil óbitos e 330 mil incapacitados. Não foram
computados os óbitos tardios. Parece incrível, mas nem nas estatísticas temos
dados reais e atualizados. É mostrado um panorama assustador, caracterizando um
problema de saúde pública, são 154 óbitos por dia. O Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA) estimou em 40 bilhões de reais os custos com os
acidentes de trânsito no Brasil.
O
governo estimula a compra de veículos retirando impostos. Legaliza uma
atividade de altíssimo risco quando libera a profissão de mototaxista. Tramita
no parlamento projeto de lei permitindo que, aos 16 anos, o jovem possa ser
portador da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Não são criados espaços
para o trânsito dos veículos emplacados a cada dia. Milhares de novas carteiras
são emitidas diariamente. Qual a intenção do governo: piorar o caos já
existente, popularidade, aumentar conflitos, mostrar crescimento econômico? Mas
o custo de tudo isso, atualizado, já alcança cifras que dariam para construir
quarenta estádios do Corinthians ou um milhão de casas populares.
O
governo transita na contramão do fenômeno social e da saúde pública
A
formação do motorista é precária, com ensinamentos elementares para fazer o
veículo andar e estacionar. Nada é feito com relação a treinamento para os
riscos em condições adversas como as condutas a serem tomadas com chuva, névoa,
neblina, na área urbana, na rodovia, dia, noite e outras situações. Como frear
com freios comuns e ABS, com piso seco e molhado. Desviar de um obstáculo em
emergência. Manipular todos os acessórios do veículo em situação normal e
emergência e tantos outros. A direção preventiva, defensiva, evasiva
parecem não ter importância.
A
avaliação psicológica é muito superficial, com tempo limitado, não permitindo
um estudo aprofundado do perfil do futuro motorista. Liberam-se indivíduos
pouco responsáveis, compulsivos, com distúrbios comportamentais e até
portadores de doenças psiquiátricas. Não vemos direcionamento para uma
qualificação mais adequada e o impedimento para acessar uma atividade de risco
na direção veicular.
Todos,
aos 18 anos, querem portar a carta de motorista. Esse é o passaporte para a
liberdade, mesmo que não tenha condição para aquisição de um veículo. É a
necessidade de, portando tal documento, ter “status” junto à sua galera. É o
momento de poder dar uma voltinha no veículo de um colega. E, mal formado,
desinformado, sem conhecer riscos, sem o aprendizado de situações de emergência,
querer experimentar as emoções da velocidade, das frenagens bruscas, do cantar
pneus, de chamar a atenção com som em nível alto, de fazer “pega” e muitas
outras condições.
As
autoridades são responsáveis por essa anarquia e precisam de atitudes severas
para tornar a nossa mobilidade segura. A participação da sociedade se faz
necessária.
Dirceu Rodrigues Alves Júnior -
médico, Diretor de Comunicação e do Departamento de Medicina de Tráfego
Ocupacional da ABRAMET - Associação Brasileira de Medicina de Tráfego
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