O levantamento “Retratos
da Sociedade Brasileira - Problemas e Prioridades para 2016”, divulgado pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostrou que 65% dos brasileiros
consideram a corrupção o principal problema do Brasil.
Além disso, o cidadão olha com
desconfiança as instituições políticas que governam o Brasil. É isso que mostra
o estudo do Instituto Ipsos, divulgado em maio de 2016. Após entrevistar 1,2
mil pessoas em 72 cidades do país, o levantamento aponta que oito em cada dez
brasileiros afirmam que não há um político de confiança e 79% afirmaram que não
se sentem representados por nenhum partido político. Esses resultados vão ao
encontro do Índice de Confiança na Justiça, levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas e divulgado em outubro último.
Segundo o índice, a instituição Presidência da República tem confiança de
apenas 11% dos brasileiros, o Congresso Nacional 10% e os partidos políticos,
7%.
Mudanças observadas no
comportamento dos eleitores são algumas das causas responsáveis pela queda da
importância e da confiança nestas instituições. É o caso, por exemplo, da
queda no número de votos para legenda. O voto de legenda é aquele em que o
eleitor vota no partido, sugerindo que qualquer candidato da legenda partidária
pode desempenhar a função em disputa. Em 2014 o voto de legenda obteve 8,37%
dos votos válidos para deputados federais. Em 2010, representou 9,35% dos votos
válidos e em 2006, 9,83%. Esses números sinalizam a perda da importância dos
partidos políticos como critério usado pelo eleitor para definir o seu
voto. Contudo, em meio à crise política que atualmente presenciamos no
Brasil, observamos também outra causa, já prevista por vários filósofos
políticos desde o século XVII: a tendência de o representante agir contra os
interesses dos representados. No Brasil acompanhamos esta situação nos últimos
dias por meio do esforço contínuo do Congresso Nacional em agir contra o
interesse do brasileiro no controle e no combate à corrupção na política.
No mês passado o
presidente da Câmara dos Deputados apresentou na Casa uma emenda alinhavada com
os principais partidos políticos, e tinha como objetivo anistiar o uso do caixa
dois eleitoral. No mesmo mês os deputados alteraram um conjunto de medidas de
combate à corrupção propostas pelo Ministério Público Federal. Como se não
bastasse, recentemente o presidente do Senado agiu com afinco para aprovação do
projeto de Lei de Abuso de Autoridade, que limita a atuação do Judiciário em
investigações que vão além da esfera judicial. Estas ações movidas pelos
representantes maiores do Congresso Nacional têm como objetivo fragilizar os
avanços das investigações anticorrupção da Operação Lava Jato, que envolve
deputados e senadores em crimes de corrupção.
Rousseau, filósofo político do século XVIII, afirmava que a
propensão a contrariar os anseios populares seria fruto da apatia política, que
consiste na falta de interesse do povo em fiscalizar e controlar as ações e
decisões de seus representantes. Um dos remédios para coibir essa tendência,
segundo Rousseau, é o que acompanhamos no Brasil desde junho de 2013 e que,
apesar de ter caído no esquecimento dos representantes dos brasileiros no
Congresso Nacional, deve ressurgir com grande força nos próximos dias: o
brasileiro saindo às ruas se mobilizando contra as decisões tomadas à revelia
dos seus interesses de cidadãos.
Doacir Quadros - professor do curso de Ciência
Política e do mestrado em Direito do Centro Universitário Internacional Uninter
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