Acabo de ganhar mais um concorrente de peso para disputar a
atenção em minhas aulas, monstrinhos Pokémon espalhados por diversos Pokéstops
ao redor do Campus. Não bastassem as curtidas nas redes sociais e as mensagens
no WhatsApp, agora Pokemon Go chegou para tomar a atenção dos estudantes.
Engana-se quem pensa que sou professor do ensino
fundamental ou médio, atuo em uma universidade particular de renome em São
Paulo. Muito possivelmente, este tema será novamente assunto na próxima reunião
de professores. Como bloquear, proibir ou cercear celulares ou aplicativos.
Em meu ponto de vista isso é pura bobagem, assim como o
fato de ainda existirem professores que proíbem universitários de tirar fotos
de matérias do quadro branco, fazer pesquisas em sala de aula ou até mesmo,
utilizar o aparelho celular.
Que tal voltar no tempo e se lembrar de quando escrevíamos
bilhetes, fazíamos desenhos, jogávamos STOP e batalha naval ou simplesmente
viajávamos? Lembro-me de várias repreensões por minhas idas à lua, presenteadas
por professores chatos e suas aulas maçantes.
Estava outro dia ministrando uma palestra para alguns
professores e fiz um paralelo temporal entre o médico e o professor. Imagine a
seguinte cena: voltemos 150 anos, ou seja, para o final do século XIX, trazendo
estes profissionais imediatamente do passado para seu lugar de trabalho. Um
cirurgião pensaria ter aterrissado em outro planeta, contemplando a quantidade
de equipamentos, gráficos, luzes e monitores. Já o professor levaria alguns
poucos minutos para trocar o quadro verde pelo branco, isto é, se a escola já
tiver abolido o giz e o apagador.
Gostaria de fazer um parêntese. Tenho sido homenageado com
frequência, não só pelos alunos de graduação, assim como por estudantes de MBA,
executivos seniores em posições de liderança e literalmente sem tempo, os quais
utilizam seus smartphones a trabalho e não para lançar Pokébolas, pelo estilo
de minhas aulas. Desta maneira, gostaria de compartilhar quatro dicas que tenho
utilizado com sucesso.
1.
Gerencie o tempo - Em épocas que mensagens cruzam o mundo em
segundos, fazer com que seus alunos achem que estão perdendo tempo é fatal.
Escreva um roteiro prévio com a duração de cada atividade, teste sites, deixe
vídeos pré-gravados e faça uma simulação prévia. Um ou dois minutos de vacilo
são suficientes para perder sua audiência.
2.
Seja breve - Irritam-te os discursos de deputados e
senadores nas comissões de ética? Imagine então o que se passa na cabeça da
nova geração. Especialistas dizem que 20 minutos é o prazo máximo de atenção.
Tenho percebido que após 10 minutos ou menos, mãozinhas já começam a tremer de
abstinência. Em suma, resuma o resumo. Acha impossível. Assista a alguns vídeos
do TED.
3.
O aluno é quem faz o show - Já se foi o tempo em que alunos eram
plateia e professores protagonistas. Colocar os alunos para trabalhar é a
melhor estratégia. Deixe-os discutir e aplicar seus conhecimentos práticos ao
resumo do resumo da 2ª dica. Facilitar, dirigir e orientar as discussões é novo
papel do mestre. Tenho percebido que o uso de celular diminui sensivelmente
durante atividades interessantes.
4.
Crie e inove - Vá além do Power Point, incorporando
dinâmicas, jogos, casos e simulações. Design Thinking e Storytelling são
algumas técnicas interessantes que tenho utilizado, fazendo com que lancem mão
do lado direito do cérebro. Cores, desenhos e histórias ajudam a despertá-lo,
tirando o foco da telinha. Todos conhecem minhas salas na universidade, cujas
paredes estão cheias de POST ITS, infográficos e quadros, disponíveis no dia da
prova.
Desta maneira, concluo dizendo que foi, é e sempre será,
obrigação do professor trazer à atenção do aluno a matéria e ao conteúdo,
criando estratégias de ensino interessantes, envolventes e participativas.
Ontem batalha naval e STOP, hoje Facebook, WhatsApp e Pokémon e amanhã, nem
Pikachú e sua turma saberão dizer. E aí, vai encarar ou continuar reclamando? O
desafio está lançado.
Marcos Morita - um executivo de negócios sênior da área
comercial, com ênfase em canais de distribuição, com mais de 18 anos
experiência de mercado. Possui expertise para ministrar palestras sobre
abertura, desenvolvimento e gerenciamento de canais de distribuição, criação de
politicas comerciais, planejamento estratégico, desenvolvimento de políticas de
marketing, formação e gestão de equipes. www.marcosmorita.com.br