A série “13 Reasons Why” trouxe à tona a discussão
do delicado tema suicídio. E esse é, sim, um tema merecedor de reflexão e
debate, pois uma forma importante de evitá-lo é com informação e
desmistificação. A Organização Mundial da Saúde afirma que 90% dos suicídios
poderiam ter sido evitados.
Mas quantas seriam as razões que justificariam
alguém tirar sua própria vida? 13 foi a resposta a que Hannah chegou. Mas
faltou a ela compreender que todas elas se resumem numa só. Há um único motivo
para o suicídio.
A natureza nos dotou, como a todos os animais, de
instinto de sobrevivência, para a preservação da espécie. E cometer um ato
contra a própria vida é contrário a esse instinto presente em nós o tempo todo.
Para isso, é necessário algo tão forte que se sobreponha a ele. E não algo
externo, pois esse potente instinto nos impele a combater o que coloca nossa
vida em risco. Então, tem de ser algo interno.
Os problemas, as dificuldades, as crises, os
traumas… nos causam sofrimento emocional. E sofrimento emocional, quando tão
intenso que se torna insuportável, é a única razão capaz de levar alguém a
superar seu instinto de sobrevivência.
Poderíamos dizer que ninguém se mata por opção, mas
por falta de opção – as pessoas se suicidam por não encontrarem alternativa para
aliviar a dor emocional que sentem. Sem alívio, a dor pode roubar o
discernimento e levar a um ponto em que é difícil voltar sozinho. O Dr. Brian
Mishara, Diretor do Centro de Pesquisa e Intervenção ao Suicídio e Eutanásia,
da Universidade de Quebec, Montreal, Canadá, criou uma analogia interessante
para explicar a crianças pequenas esse ato. Disse que é como se alguém
estivesse dirigindo um carro numa nevasca e ficasse sem visibilidade, pegasse a
estrada errada por não conseguir ver o caminho, e caísse num precipício. Não se
trata de culpar a neve, a estrada, ou quem estava dirigindo – mas não teria
sido o caso de parar até ter condições de enxergar?
É possível desenvolver a habilidade de criar
opções, ou “estratégias”, para lidar com sentimentos. E essa habilidade é
necessária a todos os seres humanos, sejam eles crianças que adentram o
ambiente escolar e sofrem com a diversidade que encontram no seu grupo de
convívio diário, sejam eles adolescentes, numa fase particularmente difícil da
vida em que estão definindo sua identidade, sejam adultos enfrentando problemas
e crises, sejam idosos buscando se encaixar num novo papel na sociedade.
Sentimentos desagradáveis nos acometem
constantemente. Não é privilégio de ninguém em nenhuma idade. E aliviá-los é
também uma necessidade de todos. Viver em sofrimento emocional é como andar
carregando uma mochila pesada; não reduzir essa carga é como deixar que a
mochila fique cada vez mais pesada, até que andar pode se tornar impossível.
Desenvolver em crianças pequenas a capacidade de
criar estratégias para lidar com seus sentimentos e dificuldades é o objetivo
do programa “Amigos do Zippy”. Ampliar essa capacidade é o objetivo do “Amigos
do Maçã”. Desenvolver em jovens essa fundamental capacidade é o objetivo do
programa “Passaporte: Habilidades para a Vida”. Cada um deles tem sua dinâmica
específica, sua linguagem própria, mas todos foram criados para promover saúde
mental, aumentando fatores de proteção, como o aleitamento materno fortalece os
bebês promovendo saúde física. Seus efeitos são de amplo espectro – crianças e
jovens aprendem a construir muitas estratégias para enfrentar a vida, em
contraponto ao doloroso processo de contar as razões para desistir dela.
Tania Paris - fundou a Associação pela Saúde
Emocional de Crianças para dar oportunidades às crianças de aprenderem, desde
muito cedo, a lidar com seus sentimentos e com as dificuldades da vida. “Amigos
do Zippy” é um programa internacional de Educação Emocional, representado
exclusivamente pela ASEC no Brasil, que é desenvolvido em escolas pelos
próprios professores das crianças. www.az.org.br