Empresas
de consultoria produzem, periodicamente, relatórios mostrando os principais
entraves para a expansão dos negócios em vários países. O levantamento
contempla questões como mão de obra qualificada, infraestrutura, custo de
financiamento, burocracia, entre outras.
No
Brasil o item que aparece sempre no topo como entrave para negócios domésticos
é a burocracia. Trata-se de um problema interno grave que normalmente fica
acima da média observada no resto do mundo.
A
burocracia é uma praga que contamina o meio empresarial e o maior expoente
dessa excrescência reside na área tributária. É impressionante como as regras
fiscais proliferam no país. Desde 1988 são criadas em média 45 novas normas por
dia. Essa insanidade gera uma estrutura cada vez mais complexa, impossível de
ser digerida, ocasionando custos para as empresas e tornando o sistema cada vez
mais vulnerável à corrupção.
Entender a confusa legislação
tributária no Brasil é uma tarefa difícil até para os mais experientes
tributaristas. A complexidade tributária no país é uma anomalia cada vez mais
resistente. A produção de regras não cessa e torna a vida do contribuinte um
inferno. Há uma proliferação absurda de leis, decretos, medidas provisórias,
emendas, normas complementares, entre outros instrumentos jurídicos, que acabam
impondo pesados custos aos contribuintes, sobretudo às empresas.
Um levantamento do Banco Mundial,
comparando o tempo que as empresas gastam para apurar tributos em vários países,
revela dados impressionantes sobre a situação ridícula da estrutura de impostos
brasileira. Uma empresa submetida à legislação tributária no país gasta por ano
2.600 horas com a burocracia nos três níveis de governo, enquanto que a média
mundial é de 1.344 horas. No Chile são necessárias 316 horas, na China 872, na
Índia 272, na Rússia 448 e na Argentina 615 horas. Essa discrepância absurda é,
seguramente, um dos fatores mais significativos para o comprometimento da
competitividade da produção no Brasil.
O viés burocrático faz da estrutura
tributária brasileira um monstrengo cada vez mais horripilante. Um exemplo
claro nesse sentido diz respeito a dois impostos: PIS/Cofins e CPMF. O primeiro
passou a ter uma parte cobrada sobre o faturamento e outra sobre o valor
agregado, gerando uma calamitosa proliferação de procedimentos regulatórios, e
o segundo que era simples, transparente, sem custo para o governo ou para o
contribuinte e altamente produtivo na arrecadação, foi sumariamente trucidado e
extinto a partir de 2008.
Na questão tributária o país precisa
mudar paradigmas em vez de aprofundar seus defeitos, como a burocracia pública insiste
em fazer. O potencial da economia brasileira tem uma dificuldade enorme para
ser concretizado, e isso, em boa parte, decorre de uma visão que repele o
simples e assimila o complexo.
A questão da burocracia e seus
efeitos maléficos sobre a produção nacional deve ser um dos focos mais
importantes na retomada da reforma tributária. É preciso levar adiante um
projeto amplo, não medidas pontuais que pioram a situação atual, que seja capaz
de reduzir custos para as empresas e elevar a eficiência sistêmica da atividade
produtiva no país.
Marcos
Cintra - doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular
da Fundação Getulio Vargas. É autor do projeto do Imposto Único. É presidente
da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).
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