Morte de Campos e
depoimento de contadora: duas tragédias
A tragédia e o carnaval
são marcas registradas do Brasil (veja Empoli, Hedonismo e medo), com
predomínio (lamentavelmente) da primeira. No mesmo momento em que o candidato à
presidência da República, Eduardo Campos, perdia sua vida num trágico acidente
de avião na cidade de Santos (SP), a ex-contadora do doleiro Alberto Yousseff
(Meire Poza) confirmava, no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, grande
parte da sua entrevista bombástica para a Veja.
Mais duas grandes tragédias no mês de agosto (a se
lamentar). Do ponto de vista político, agosto definitivamente não é um bom mês
para o Brasil: morte de JK, de Getúlio, renúncia de Jânio Quadros etc. Mas há
uma diferença entre as tragédias: enquanto o discurso de Campos era pela
renovação, um novo rumo, as confirmações de Meire Poza representam a
continuidade da corrupção, da extravagância, da excentricidade, da vigarice.
Na entrevista Meire afirmou que (no escritório do
doleiro) manuseava notas fiscais frias, assinava contratos de serviços não
prestados e montava empresas de fachada para promover lavagem de dinheiro;
disse ainda que via muitas malas de dinheiro saindo da sede de grandes
empreiteiras e chegando às mãos e bolsos de notórios políticos, destacando-se,
dentre eles, Luiz Argôlo (que foi sócio de Yousseff), André Vargas, Fernando
Collor, Cândido Vaccarezza, Mário Negromonte etc.
Há tragédias que configuram acidentes imprevisíveis.
Outras são totalmente evitáveis. Nesse segundo grupo entra a corrupção endêmica
ou sistêmica do Brasil, que não é algo imposto pela natureza, conforme suas
leis físicas (lei da gravidade, por exemplo). A corrupção no Brasil é fruto de
pura vigarice, que ocorre quando o político, as empreiteiras ou construtoras,
outras grandes empresas (do setor alimentício, cervejaria etc.) e vários bancos
se unem para obter vantagens em prejuízo dos outros.
Necessitamos de um grande milagre que promova a reforma
da prazerosa vulgaridade de origem do humano nascido com a democracia (há um
pouco mais de dois séculos). Novo rumo só pode ser alcançado se esse humano
assumir as consequências morais da sua urbanização, o que significa
"inibir seus instintos, adiar as gratificações imediatas dos seus desejos
e alienar parcelas da sua liberdade" (Gomá Lanzón), que nunca poderia ter
se transformado em libertinagem. Nossa campanha tem como alvo justamente essa
libertinagem que concede, à troyca maligna (políticos, agentes econômicos e
financeiros), licença para roubar (licença para tirar vantagens indevidas em
prejuízo do todo, do país).
LUIZ FLÁVIO GOMES - jurista e diretor-presidente do Instituto Avante
Brasil.
Estou no professorLFG.com.br e no twitter: @professorlfg
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