Eu tenho a convicção que quanto maior o
problema ou quanto mais problemas tivermos, menos drama temos que fazer e mais
simples tem que ser a nossa solução.
Leonardo da Vinci dizia que a simplicidade é
o mais alto grau de sofisticação. Antoine de Saint-Exupéry afirmava que a
excelência se alcança não quando não se tem nada mais a acrescentar e sim
quando não se tem nada mais a retirar.
Onde devemos focar a nossa atenção e como
podemos fazer mais com o mesmo ou com menos? A resposta está em escolhermos a
abordagem correta.
A minha intenção é repassar neste artigo
vários argumentos que corroboram com o exposto e mostrar como a importância
deste tema vai muito além da nossa questão individual, e tem impacto na nossa
sociedade como um todo, na nossa geração e nas gerações futuras.
Começo por puxar um conceito da Física e da
Termodinâmica, chamado de entropia. Entropia na
Física significa que todo sistema aberto – no sentido de que realiza troca de
energia com o meio – se desenvolve em detrimento de outro sistema. Nós, seres
vivos, para nos desenvolver e crescer, realizamos isso à custa de organismos
animais, vegetais e minerais. Quanto maior o nível de organização de um
sistema, menor o nível de entropia. Isto porque os sistemas
abertos no universo tendem à desorganização, à aleatoriedade, à dispersão, e
manter a organização significa caminhar na contramão. Assim, reduzimos a entropia
(ou seja, aumentamos a organização em determinado sistema) injetando energia
neste sistema, para mantê-lo ou aumentar o seu nível de organização.
Trazendo para o nosso mundo empresarial,
procuramos, em nossas empresas, obter o maior nível de rentabilidade e
ordenamento possível. Por definição, nesse caso, trabalhamos com um sistema
reduzindo a sua entropia, ou seja, reduzindo seu grau de desordem.
O pouco que descuidamos da nossa gestão ou do
trato com colaboradores, produtos e finanças da empresa, é suficiente para
observarmos problemas, como insatisfação, reclamações de clientes, fluxos
financeiros negativos, entre outros pontos. Os problemas começam a “pipocar”
aos poucos. A nossa atenção precisa estar voltada a manter a organização do
sistema empresa.
Neste ponto, introduzo um outro conceito.
Para lidar com os aspectos anteriormente descritos, precisamos transferir
energia originária de outros sistemas, que neste momento chamo de capitais.
Capital,
por definição, é o que potencialmente pode gerar energia, valor e riqueza para
outros sistemas. Temos basicamente seis naturezas de capital: Natural,
Manufaturado, Humano, Social-Relacionamento, Intelectual e Financeiro.
São desses capitais que extraímos as
matérias-primas para a nossa produção, é neles que destinamos os resíduos que
produzimos, é deles que obtemos os fatores humanos, financeiros e intelectuais
que serão utilizados como alavancas para a obtenção de resultados e que irão
oferecer condições para que possamos avançar e vencer na lógica capitalista de
competição.
Para mantermos e evoluirmos os resultados e a
produtividade de nossas organizações, precisamos aproveitar adequadamente o que
cada um destes capitais tem a nos oferecer. Como não são inesgotáveis,
inclusive na natureza (como o capital Natural), a nossa obrigação é utilizá-los
da forma mais otimizada e inteligente possível, aplicando-os em nossas empresas
através da melhor abordagem possível.
O
que significa “melhor abordagem possível”?
A resposta para isto pode ser bem ampla,
porém, vamos focar no principal. Ao invés de tratarmos tudo que nos incomoda ou
a nossas organizações como se fosse problema, podemos focar nas causas-raiz, em
poucos pontos de atuação, e muitos dos efeitos indesejados (ou problemas) com
os quais convivemos tenderão a desaparecer, simplesmente implementando a
alavanca inicial que impulsionará e movimentará as consequências positivas que
desejamos. Isto significa que agir na restrição – aquilo que realmente
limita o desempenho de nossa empresa, ou de nossas carreiras, ou da nossa vida
pessoal – é a forma mais efetiva de abordagem gerencial ou pessoal. O nosso
foco principal deve ser remover as restrições que impedem que alcancemos
os objetivos e metas que estabelecemos.
Definir adequadamente o nosso propósito, a
nossa missão, também é fundamental. Quantas vezes não somos tardiamente pegos
em situações, onde tivemos que depositar muito esforço e atenção, e ao final
questionamos a sua validade? Temos que nos perguntar: o que me motiva? O que eu
quero comemorar? O que eu quero transformar? Se eu fizer isto, chegarei onde eu
quero? Para assegurarmos ou melhor qualificarmos a validade dos nossos
propósitos e onde temos que depositar nossa atenção e nossa energia.
De todos os fatores que disponibilizamos, o tempo
é o fator mais importante e o fator mais escasso. Mais que a entropia
(que podemos reverter sua tendência injetando energia de outros sistemas), o tempo
é uma flecha única, para frente, não pode ser recuperado, não pode ser
estocado. Tudo se resume ao uso otimizado do tempo, evitando ocupa-lo com ações
que não nos levam a nossos objetivos ou ações que não contém a correta
abordagem, a necessária simplicidade.
Para isto tudo, é muito mais importante fazer
as coisas certas do que fazer certo as coisas. Temos que aprender a fazer as
perguntas certas a nós mesmos e dentro de nossas empresas. Rubem Alves dizia:
“se as perguntas não são certas, as respostas não servem para nada”. As
perguntas são muito mais importantes que as respostas.
Resumindo, a simplicidade é
saudável para organizarmos entropicamente nossos sistemas humanos sem
sobrecarregar ou prejudicar em demasia outros sistemas, dos quais dependemos e
não são infinitos ou inesgotáveis. A simplicidade é coerente para
organizarmos entropicamente nossos sistemas. A simplicidade é coerente com a
visão que temos da entropia e com a forma como temos de lidar com ela.
No longo prazo, quem fará a diferença é a
abordagem correta da nossa ATENÇÃO GERENCIAL.
Nós, nossa geração, e futuras gerações, dependem desta abordagem
correta.
João Luiz Simões Neves