A pouco dias do início do Carnaval, governos,
Ministério da Saúde e instituições intensificam a campanha de prevenção às
doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Nesta época do ano, é comum as
pessoas aproveitarem o clima de festa e descontração para praticar relações
sexuais casuais com parceiros eventuais, muitas vezes deixando de lado o uso do
preservativo. O sexo, seja oral, vaginal ou anal sem proteção, pode ocasionar
várias doenças, entre elas a AIDS, o HPV, a Sífilis, a Gonorreia, a Herpes e as
Hepatites B e C. O principal foco das
campanhas é a prevenção à AIDS, já que segundo o Ministério da Saúde, nos
últimos dez anos, os casos da doença em jovens com idade entre 15 a 24 anos,
aumentou 85% no Brasil.
Causada pelo vírus HIV, o contágio pela AIDS
ocorre mais comumente por meio de contato sexual sem a proteção de
preservativos com pessoa contaminada, podendo também ser transmitida por
transfusão sanguínea e compartilhamento de objetos perfurocortantes.
A AIDS ainda não tem cura e gera uma grande
instabilidade no sistema imunológico do portador, deixando-o mais suscetível e
vulnerável a doenças consideradas oportunistas, que acometem o organismo quando
a imunidade está baixa.
“A euforia não deve ser usada como desculpa para
descuidar da saúde. Como a nova
geração não assistiu à epidemia quando o HIV ainda não tinha tratamento, há uma
falta de percepção sobre a gravidade do HIV, o que faz com que muitos
negligenciem a importância do uso do preservativo. A maioria das doenças
sexualmente transmissíveis são de difícil tratamento e podem trazer sequelas
que muitas pessoas não costuma ficar sabendo”, explica o ginecologista e
especialista em medicina reprodutiva Daniel Diógenes.
DSTs x Fertilidade
Além disso, a AIDS, assim como outras doenças
sexualmente transmissíveis, como clamídia, gonorreia, HPV, herpes genital,
sífilis e tricomoníase, quando não diagnosticadas e tratadas a tempo, podem
evoluir para complicações graves, como a infertilidade permanente,
principalmente nas mulheres, embora homens também sejam afetados.
“A população mais atingida pelas DSTs é a de
jovens em idade fértil. As complicações são imediatas, causando inflamação nos
genitais internos do homem e da mulher, que podem provocar a infertilidade de
ambos. Apenas uma minoria percebe algum sintoma. As doenças inflamatórias da
pelve são as grandes vilãs da fertilidade”, explica o médico especialista em
medicina reprodutiva e diretor da Clínica Fertibaby Ceará, Daniel Diógenes.
Nas mulheres, elas costumam afetar a tuba uterina,
que é o caminho percorrido pelos espermatozoides para chegar ao óvulo,
inflamando-a e obstruindo-a, levando a mulher a desenvolver uma gravidez fora
do útero, ou ectópica. Nestes casos, o feto não se desenvolve no local
apropriado e, geralmente, não sobrevive, e, ainda que resista, durante a
gestação, pode destruir as estruturas maternas e causar o nascimento de
crianças com malformações. Durante o parto, podem atingir o recém-nascido,
causando doenças nos olhos e pulmões.
“As infecções das DSTs podem ainda, em casos mais
graves, gerar pequenos tumores. O tratamento pode resultar na retirada do
ovário e da tuba atingidos, o que reduz significativamente a reserva ovariana.
Assim, mesmo com tratamentos de reprodução assistida, a mulher encontra mais
dificuldades de engravidar”, pontua o especialista. Nos homens, os efeitos
podem ser a infecção do canal da urina, da próstata e do epidídimo, que é a
parte do corpo masculino onde ocorre o amadurecimento dos espermatozoides.
Quando afetada, a qualidade do sêmen pode ficar comprometida.
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS)
disponibiliza gratuitamente o tratamento específico para a doença, com o uso de
medicamentos antirretrovirais, o que ajuda os portadores a terem uma vida
considerada normal. Com a melhora da qualidade e da expectativa de vida,
muitos portadores querem formar família. Para isso, teriam de descumprir a
principal recomendação dada pelos médicos: usar sempre camisinha. Dessa
forma, uma das possibilidades para os casais em que um dos parceiros tem HIV e
que há o desejo de gerar um filho, é recorrer à reprodução
assistida, reduzindo ou zerando as chances de infecção do cônjuge.
Quando o homem é
o portador do vírus, o processo para que não ocorra a contaminação da parceira
é simples. O sêmen é recolhido e analisado para ver a taxa viral que o homem
carrega. Caso seja muito alta, o tratamento é anulado e o espermatozoide não
poderá ser utilizado, mas se o número for baixo, o sêmen passa por um processo
de lavagem, no qual o vírus é retirado completamente. Depois, o espermatozoide
é inserido direto no útero ou fecundado no óvulo ainda no hospital, e em
seguida, plantado no útero da mulher. Com esse processo, a probabilidade da
criança ter o vírus é zero.
“Quando
a mãe é soropositiva, a chance da criança ser contaminada é somente na hora do
parto pelo contato com o sangue. Para que isso não aconteça, antes do parto é
feita a Terapia Antiretroviral na mãe, o que diminui a taxa viral, além do
parto ser feito por meio de cesárea eletiva”, explica Daniel.
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