“Como pediatras participamos da vida dos pacientes e dos seus familiares em diferentes momentos. Nosso olhar deve estar atento não apenas aos aspectos clínicos, mas também aos fatores socioambientais. Nas consultas, assim, podemos identificar situações de risco e contribuir com orientações aos pais e às crianças e adolescentes sobre como superar as dificuldades, para evitar desfechos trágicos”, pontuou.
Preocupada com os casos que têm relatados, inclusive pela imprensa, a presidente agradeceu a contribuição oferecida pelo DC de Saúde Escolar, presidido pelo dr Joel Conceição Bressa da Cunha. Do grupo também fazem parte a dra Mércia Lamenha Medeiros (secretária) e os integrantes do Conselho Científico: dr Abelardo Bastos Pinto Jr., dra Cláudia Machado Siqueira, dra Eliane Mara Cesário Pereira Maluf, dra Maria de Lourdes Fonseca Vieira e dr Paulo Cesar de Almeida Mattos.
RECOMENDAÇÕES - No texto, há uma série de recomendações, elaboradas com base em diferentes estudos e pesquisas, que podem ser úteis nos contextos por onde transitam a população pediátrica, com idade de até 19 anos. Por exemplo, no caso daquele que é alvo da ação de bullying, a SBP recomenda aos pais que observem a presença frequentes de sinais de trauma (ferimentos, hematomas), de roupas rasgadas ao chegar em casa e de pânico na hora de ir para a escola.
A SBP também ressalta outros sinais que podem ser indícios de que a criança ou adolescentes são alvo de bullying. Entre eles estão, constatação de sono agitado, de alterações repentinas no humor, de apresentação de desculpas para não ir à escola, de comportamento agressivo, de tendência ao isolamento ou busca de novas amizades fora da escola. Para os pediatras, é fundamental que seja a relação entre pais e filhos seja baseada no afeto, na verdade, na confiança e na demonstração de amor.
DIALOGO - Para os especialistas, a consolidação de espaços de diálogo entre os adultos e as crianças e adolescentes podem ajudar os mais jovens em seu processo de reforço de autoestima e de adaptação à escola. “Se houve bullying, a família não deve atribuir a culpa ao filho, nem minimizar o problema, dizendo que tudo não passa de brincadeira. É importante a busca de parcerias com outras famílias e com a própria escola, para discutir o tema e compartilhar”, alertam.
No caso da criança ou adolescente que pratica atos de agressão contra os colegas, a SBP pede que os pais e responsáveis não ignorem a situação, busquem respostas para os motivos do comportamento e não demonstrem que não aprovam as atitudes relatadas. Os pediatras também orientam os adultos a não usarem a violência como forma de resolução dos problemas. Os especialistas orientam a “incentivar o filho a falar de seus problemas e frustrações, buscando soluções positivas junto com ele; e a conhecer os amigos e ver se são eles que tendem a influenciar o filho, com o cuidado de não buscar outros culpados e isentá-lo de suas responsabilidades”.
PREVENÇÃO - Com respeito à prevenção dos efeitos da agressão, de fato, as recomendações envolvem as crianças e adolescentes, as famílias e os ambientes onde os casos ocorrem, como as escolas. A SBP pede que se evite deixar os jovens em locais fora da escola, nos quais possa ser alvo de agressões (ponto de ônibus, parques etc.) e que eles andem em grupos e busquem novas amizades na escola, como forma de intimidação aos agressores. Os especialistas lembram que os adultos devem ser comunicados sempre que alguém de sentir alvo de bullying ou quando presenciar uma situação desse tipo.
Quando o pediatra atende um paciente que sofre ou pratica bullying, é importante poder identificar quem será seu interlocutor no âmbito da escola, para tratar da abordagem direta do problema, alerta o guia desenvolvido pela SBP. “Não há escola sem bullying e não há estratégias capazes de extinguir esse tipo de comportamento entre os estudantes. No entanto, conhecer o problema e saber orientar adolescentes e famílias sobre seus riscos e consequências torna-se mais um ato de promoção da saúde que não pode ser ignorado pelos pediatras”, ressalta o documento.
DOR E ANGÚSTIA - Bullying compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder, tornando possível a intimidação da vítima. Esse problema pode se manifestar com intencionalidade sem motivação evidente, ou seja, o autor de bullying sabe ou entende que sua ação será desagradável, perturbadora ou poderá machucar o outro, mas faz mesmo assim, sem qualquer motivo.
Contudo, ao caracterizar a incidência desse tipo de agressão, nota-se que ela surge de maneira repetida, com base numa relação desigual de poder (quando a vítima se sente inferior em força física, em desvantagem numérica ou quando há visível diferença em autoconfiança, autoestima e popularidade no grupo) e com atitudes agressivas, que visam humilhar e intimidar, incluindo apelidar, debochar, agredir, difamar, ameaçar, pegar ou danificar pertences, excluir de conversas ou atividades.
Contudo, a SBP ressalta que esse documento não tem a intenção de esgotar
o assunto, mas de apenas oferecer mais instrumento para a preveni-lo, com a
participação de diferentes segmentos. “As escolas e a sociedade devem estar
capacitadas a intervir adequadamente em cada caso, não sendo mais aceitável que
estejam alheias ao fenômeno ou que tenham apenas atitudes punitivas, pontuais”,
acrescenta o guia.