Cardápio
adequado pode turbinar a resposta cognitiva, melhorar o pensamento e facilitar
a assimilação.
Cada vez mais as pessoas vivenciam um cotidiano turbulento,
em decorrência da correria e bombardeio de informações a todo o momento. Junto
a tantas responsabilidades, sejam em casa ou no trabalho, a rotina
contemporânea pode gerar o estresse, o mal do século que já atinge 90% da
população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Porém, nos
dias atuais, é fundamental contornar estes desafios e manter a mente ativa:
seja no trabalho, nos estudos ou ate mesmo no lazer, a capacidade de
concentração é determinante para tanto para o bem estar quanto para o sucesso
nas atividades. Ao contrario do que muitos podem imaginar este problema não
está relacionado apenas ao esgotamento físico: uma dieta desequilibrada também
pode estar prejudicando o bom desempenho cerebral. Isso porque este órgão é um
dos principais queimadores de energia do corpo, necessita de uma série de
nutrientes para manter-se produtivo. Sendo assim, fortalecer a dieta e apostar
nos alimentos certos pode ser a resposta para turbinar o pensamento.
Máquina robusta
Um dos principais órgãos do corpo humano, o
cérebro é um grande queimador de energia. Para se ter uma ideia, o centro de
comando do nosso corpo consome sozinho de 20 a 25% de toda a força produzida.
De acordo com a nutricionista Sinara Menezes, para um adulto, isso pode representar
até 500 calorias ao dia (numa dieta padrão de 2000 calorias) e “esse é apenas
um dos fatores ligados à boa nutrição: além da questão energética, diversos
micronutrientes são fundamentais para saúde cerebral”. Isso porque sua
estrutura altamente complexa é também expressiva: além dos 86 bilhões de
neurônios responsáveis pela condução dos impulsos nervosos, existem nada menos
do que 16 diferentes tipos de células nervosas trabalhando continuamente para
processar e transportar informação, como um grande computador.
Curiosamente, ainda estamos descobrindo como este
sistema impressionante funciona: pesquisas recentes revelaram que, ao contrário
do que se imaginava, determinadas regiões do órgão continuam a produzir novas
células nervosas mesmo na fase adulta, num processo conhecido como neurogênese.
Tamanho esforço, além de demandar uma carga energética significativa, depende
do bom funcionamento dessas estruturas – questão diretamente ligada à nutrição.
De acordo com Sinara “não somente pela questão cognitiva: quando a dieta está
pobre em nutrientes, não serão afetados apenas a memória ou o raciocínio. A
própria sensação de prazer, bem estar e lucidez podem ser prejudicados, uma vez
que o aporte de vitaminas, sais minerais e outros micronutrientes está diretamente
relacionado à ação dos neurotransmissores.”
Aliados do cérebro
Sendo assim, a dificuldade de concentração ou a
irritabilidade ocasionais, causadas pela estafa do dia a dia, podem ser fruto
de uma alimentação inadequada. “Neste âmbito, a dieta age em duas frentes:
primeiro como combustível, para manter o sistema nervoso funcionando, depois
como preventor, mantendo as estruturas saudáveis e combatendo a ação de agentes
nocivos aos neurônios.” – explica a profissional da
Nature
Center, que também aponta quais nutrientes e alimentos podem ser
considerados verdadeiros aliados do cérebro:
Memória potente
Uma das funções mais importantes e fascinantes do
nosso cérebro, a memória, nos ajuda a definir quem somos e a identificarmos
tudo que nos rodeia. E apesar de tão fundamental, é cada vez mais comum
encontrar pessoas que alegam ter problemas de memória e aprendizado. Isso
porque, além do processo natural do envelhecimento que provoca a perda de
neurônios, o estilo de vida moderno prejudica a concentração e o
foco,
processos essenciais para a fixação da informação: é de conhecimento científico
que nosso cérebro aprende por meio de repetições e reconhecimento de padrões.
Contudo, o que fazer para que esses contratempos não afetem nossa capacidade de
aprendizado?
De acordo com a nutricionista, uma alimentação
rica em Colina, uma das vitaminas do Complexo B, favorece na síntese da
acetilcolina – um dos principais neurotransmissores do cérebro humano,
responsável, dentre outras coisas, por armazenar as informações. A deficiência
dessa vitamina pode tornar a memória menos eficaz, prejudicar a coordenação
motora e dificultar o aprendizado. Para se ter uma ideia da importância das
vitaminas, é altamente recomendado que as gestantes façam a suplementação de
ácido fólico (vitamina B9), pois esse nutriente é fundamental para prevenir
contra a malformação do tubo neural no bebê. Porém, sua importância não se
limita somente aos fetos: o folato é fundamental para a boa cognição e
para a síntese de importantes neurotransmissores.
Turbinando a alimentação: “Aposte no
ovo, que é rico em colina, assim como outras proteínas animais. Já as folhas
verdes em geral, aspargos, brócolis e o abacate são boas fontes de ácido
fólico”.
Lembre-se: sais minerais!
Outro nutriente de extrema importância é o
magnésio: além de ser essencial para toda a saúde (ele está ligado à mais de
300 reações enzimáticas no organismo), se seu aporte não estiver adequado, o
corpo não consegue produzir a acetilcolina – fundamental para a memória. Sua
ingestão adequada melhora a plasticidade do cérebro – capacidade do órgão se
reorganizar e fazer novas conexões entre os neurônios. Essa habilidade faz com
que o cérebro se adapte diante da perda de células nervosas, ou até mesmo se
remodele, de acordo com as experiências do individuo, a fim de melhorar sua
resposta.
Outro sal mineral, o zinco, também merece
destaque: esse nutriente age como um verdadeiro agente de limpeza no cérebro.
Suas propriedades antioxidantes neutralizam a ação dos radicais livres –
componentes que geram stress nas células e corrompem sua estrutura. Justamente
por isso, seu aporte está relacionado a prevenção de doenças degenerativas como
o Alzheimer. E não para por aí: o mineral também auxilia na eliminação de
metais pesados e outras toxinas que podem se acumular e danificar as membranas
celulares.
Turbinando a alimentação: “Enriqueça
o cardápio com proteínas animas: carnes vermelhas e brancas e frutos do mar.
Peixes, especialmente os de águas frias, como o salmão e a sardinha, são uma
ótima opção: além de serem fontes de zinco, possuem Ômega 3, outro antioxidante
benéfico ao cérebro. Já para aumentar o aporte de magnésio é recomendado
investir em grãos, sementes e frutas como a banana e o abacate.”
Quem suplementa, raciocina melhor?
Diante de tantos nutrientes essenciais, muitos
podem se questionar se é preciso suplementar para obter os benefícios. De
acordo com Sinara, uma alimentação saudável e balanceada já é capaz de suprir
essas necessidades. Porém, em alguns casos específicos, nos quais a variedade
de alimentos é limitada ou a absorção é prejudicada, a
suplementação
pode ser interessante para contornar problemas da dieta. “Vegetarianos ou
veganos, por exemplo, podem ter um aporte menos de determinadas vitaminas e
sais minerais que se encontram em maior valor biológico em proteínas animais,
por exemplo. Nesses casos, é interessante consultar um médico para avaliar se
essa restrição alimentar não está por trás de sintomas como fadiga, dificuldade
de concentração e outros problemas ligados ao sistema nervoso.”
Vilões do pensamento x medidas de apoio
Porém, não basta apenas caprichar no cardápio: outras
medidas são essenciais para garantir o bom funcionamento do cérebro. A
atividade física é uma delas: além de estimular a liberação de
neurotransmissores, sair do sedentarismo beneficia a oxigenação cerebral e
combate fatores que prejudicam o sistema nervoso, como o colesterol e a
hipertensão arterial.
O sono é outro fator extremamente relevante para
melhorar a função cognitiva: boa parte da fixação da informação e aprendizagem
acontece durante o período noturno. É durante o descanso que o corpo faz a
manutenção das principais estruturas: a melatonina, um hormônio produzido pela
glândula pineal, é responsável por regular o relógio biológico, eliminar
radicais livres e outras substâncias nocivas do organismo. A secreção dessa
substância, curiosamente, se acelera quando somos expostos a ambientes escuros,
justificando seu apelido de hormônio do sono.
E para finalizar, suplementar sem cuidar dos
hábitos alimentares também não basta “A alimentação balanceada é fundamental,
pois nenhum nutriente age sozinho, de forma isolada. É preciso seguir um
cardápio equilibrado, até mesmo porque alguns hábitos do dia a dia podem
prejudicar a produtividade cerebral. Alimentos extremamente doces e gordurosos,
produtos altamente processados, álcool e fumo podem ser significativamente
danosos tanto para o cérebro quanto para a saúde como um todo” – finaliza
Sinara.
Fonte:
Nature
Center