Profissionais
explicam sintomas e tratamentos para quem tem este tipo de fobia
Imagine sentir medo intenso, ansiedade, sudorese
(suor excessivo), desconforto, pânico, taquicardia ou taquiarritmia (alteração
com aumento dos batimentos cardíacos) só de pensar em ir a uma consulta com o
cirurgião-dentista? E é isso o que sente quem tem a Odontofobia, o medo
excessivo de dentista. Para algumas pessoas, a ida a uma consulta odontológica
pode se tornar um grande problema.
Nesses casos, os cirurgiões-dentistas têm de usar
técnicas especiais como a hipnose e, em caso mais graves, a sedação e
analgesia, para realizar o atendimento odontológico aos pacientes.
E qual a diferença entre medo e fobia? O
psicólogo Clínico e Educacional, palestrante e escritor, Dr. Damião Silva,
esclarece que o medo serve para preservar a vida do ser humano e é uma
característica normal que acompanha o indivíduo em seu desenvolvimento
evolutivo. Já a fobia é um medo intenso e irracional, em que as
pessoas podem ter muito temor de um objeto ou de coisa específica. Na fobia existe
um sofrimento excessivo, em que a pessoa faz qualquer coisa para evitar esse
sofrimento. “Isso é uma resposta inadequada do cérebro”, explica.
A cirurgiã-dentista Dra. Marly da Silva Rodrigues,
habilitada em Hipnose, reforça que o maior desafio do profissional ao atender
um paciente odontofóbico é diagnosticar e reconhecer se a ansiedade desse
paciente é "ansiedade estado" ou "ansiedade traço". A
"ansiedade estado" é transitória e, a partir do momento em que a
situação é esclarecida, o medo tende a desaparecer. A "ansiedade
traço" é propriamente uma doença e está inserida nos quadros de transtorno
de ansiedade estabelecidos pelo Manual Estatístico de Diagnósticos de
Transtornos Mentais (DSM-5).
Acolhimento
Para a cirurgiã-dentista Dra. Adriana Zink, professora
com MBA em Administração Hospitalar e mestre em Ciências da Saúde, o primeiro
passo para o atendimento ao paciente fóbico é identificar e acreditar no medo e
na fobia dele, pois quando ele percebe que o profissional não o
acolhe ou não acredita no que ele está sentindo, essa barreira diminui a
possibilidade do atendimento. “Por isso é importante o acolhimento do
profissional no atendimento odontológico”.
Essa fobia impacta a saúde bucal e mental
e, na maioria das vezes, está ligada a outras fobias. A odontofobia, por
exemplo, comumente está ligada às pessoas que têm medo de agulha, à hemofobia,
ou à latrofobia, medo de pessoas de jaleco branco ou médico.
De acordo com Damião Silva, essa condição acomete
cerca de 15% da população mundial. Ele observa que, quando o simples pensamento
de ir a uma consulta com o dentista se torna aterrorizante, o indivíduo percebe
o aumento dos batimentos cardíacos ou procura motivos e formas para
desmarca-la: “É hora de buscar ajuda profissional”.
O psicólogo esclarece que, geralmente, as pessoas
com odontofobia não ficam somente ansiosas, mas sim apavoradas com
todo o contexto que envolve a consulta com o cirurgião-dentista. “E isso,
provavelmente, foi causado por uma experiência ruim no passado”, observa Damião.
“As pessoas ficam aterrorizadas, com pânico, pois o cérebro fica com a ideia de
que sempre vai acontecer aquele comportamento indevido. E aí, a pessoa está num
processo de ansiedade que não foi bem cuidado e pode virar fobia. Então,
ir ao dentista se torna um custo emocional muito grande para quem tem
a odontofobia”.
Atendimentos odontológicos para pacientes fóbicos
Na hipnose, as técnicas usadas começam na
conversação com o paciente, antes mesmo dele entrar no consultório
odontológico, especifica Dra. Marly. “Este primeiro contato pode ser até mesmo
via site deste profissional na internet, no primeiro alô, no primeiro contato
telefônico que o paciente realizar. É todo um contexto. Quando o paciente diz
que tem medo, eu não utilizo a palavra consulta como o primeiro contato, eu
digo que vou fazer uma entrevista. Inicialmente, usamos uma técnica
conversacional, o rapport - acolhimento e cumplicidade em nosso atendimento.
Nós usamos a hipnose conversacional e a clássica, nas quais entrariam o transe
e o relaxamento. A hipnose é consensual e o paciente tem de permitir que alguém
o hipnotize. Se não, isso não é possível.”
Por ser especialista em Odontologia para Pessoas
com Necessidades Especiais, Dra. Adriana Zink também faz esse questionamento
antes de atender os pacientes. Muitas vezes, ela tem de ter cuidado redobrado
em suas consultas como, por exemplo, em pacientes com deficiência visual, que
podem desenvolver com mais facilidade o medo excessivo ou fobia do
dentista.
“São vários pontos que têm de ser identificados o quanto
antes para que o profissional possa fazer as adequações ao acolhimento ideal,
pois o consultório é um ambiente extremamente sensorial, tem cheiro, tem toque.
Há pacientes que têm sensibilidade à luz. Uma das coisas que temos mudado
bastante em relação à classe, no geral, é a mudança da cor do jaleco em função
da fobia ou medo do branco. A gente já tem usado mais o colorido”,
completa a cirurgiã-dentista.
Adriana explica, ainda, que, em outros casos, o
questionário inicial é feito pelo cuidador ou familiar desse paciente, que já
pede para que seja feita uma sedação na hora do atendimento odontológico. “A
gente tem que observar se é medo ou fobia dos pais, caso a criança
nunca tenha passado por aquela sessão. Independentemente do contexto, a sedação
é indicada para casos mais complexos, em que todo o condicionamento e toda a
parte lúdica não tiveram o efeito que o profissional gostaria. Em alguns
contextos, a sedação já é uma indicação inicial do acolhimento”.
Porém, ela reforça que é importante identificar de
quem é o medo ou fobia, mas a escolha sempre é do paciente ou da família
que responde por ele. E, se a sedação for a opção do atendimento odontológico,
a cirurgiã-dentista diz que é aconselhável fazê-la em um ambiente hospitalar.
Já na hipnose, os cirurgiões-dentistas não usam a
sedação e nem a medicação. Dra. Marly relata que a hipnose trabalha com a
ressignificação daquela situação. “Seria como uma reprogramação do cérebro,
como um computador. Temos a prerrogativa de mudar nossos pensamentos diariamente.
Então, a gente pode comparar isso a um computador que podemos reprogramar.
Através dessas mudanças, dos pensamentos e dos comportamentos, podemos observar
mudanças psicológicas, neurológicas, imunológicas e endócrinas no nosso
organismo”.
A odontofobia é uma condição séria, que
precisa ser tratada. Se a pessoa identificou que tem os sintomas, ela precisa
buscar ajuda e tratamento o mais breve possível, para voltar a realizar as
consultas odontológicas e, assim, manter a saúde da boca, que impacta em todo o
corpo, reforçam os especialistas.
Conselho Regional de Odontologia de São Paulo - CROSP