Falar em meio ambiente não é algo abstrato. Se
traduz no ar puro que respiramos, na água que bebemos e na fauna e flora que
nos cercam. Somos dependentes desses recursos para sobrevivermos e
desenvolvermos nossas atividades cotidianas e, mesmo assim, temos dificuldade
para reconhecer e valorizar nosso patrimônio natural. Quando começamos a falar
sobre a temática, há quase 30 anos, parecia loucura. Porém, conservar a
natureza é uma causa que vale a pena – e vai continuar valendo sempre. É uma mudança
essencial no presente, que torna possível o nosso futuro.
O território brasileiro abriga a maior
biodiversidade do planeta, distribuída em vários biomas que preenchem de beleza
os nossos 8,5 milhões de km² de extensão. É um país rico, com zonas climáticas
que geram variações ecológicas adaptáveis às mais diversas espécies de seres
vivos. Abrigamos florestas, planícies inundáveis, savanas, regiões semi-áridas
e tropicais, além de uma exuberante costa marinha.
Reunimos 20% do total de espécies da Terra e
garantir a sobrevivência desses seres não pode ser uma questão restrita à
ciência. Acreditamos que a união de pesquisadores, organizações, poder público,
empresas e sociedade é a essência de um trabalho dedicado à proteção da vida. É
assim que devemos atuar nas áreas da saúde e da educação. Na questão ambiental
não deve ser diferente.
Quando criamos reservas naturais, contribuímos com
a qualidade do ar, com a diversidade de espécies e com o desenvolvimento das
comunidades locais. É uma iniciativa que pode partir do setor público ou
privado, desde que haja o compromisso com a conservação. Quando reavaliamos o
uso de recursos naturais ou a forma como os dejetos industriais são
descartados, podemos poupar matas, córregos, rios e bosques para um desenvolvimento
mais sustentável.
Ao propormos e executarmos políticas públicas
voltadas à proteção e à restauração ambiental, temos ferramentas para exigir a
preservação de áreas naturais e embasamento legal para punir quem não o fizer.
Ao incentivarmos e financiarmos pesquisas científicas, ampliamos nosso
conhecimento sobre a biodiversidade, além de identificarmos formas de reverter
os impactos ambientais já gerados. Quando preservamos uma área dentro de um
terreno privado, damos exemplo aos nossos familiares, vizinhos e à comunidade
de que a preservação da natureza é uma questão que deve ser levada a sério.
Não devemos esquecer que a proteção ambiental
também é uma forma de gerar riqueza. Trabalhar com a natureza abre portas para
o ecoturismo e para a produção de serviços ecossistêmicos. Se preservarmos as
áreas verdes próximas a um rio, podemos assegurar uma melhor qualidade e
segurança hídrica, além de obtermos a retenção de água em períodos de estiagem.
Ao conservarmos mares e oceanos, garantimos a
perenidade de recursos essenciais para a economia e que também aumentam a
resiliência da costa. Prezar pela sobrevivência de insetos polinizadores
assegura a produção de alimentos. Considerando que o desmatamento é o principal
emissor de gases de efeito estufa, ao deixarmos de arrancar árvores,
colaboramos com a redução dos impactos das mudanças climáticas e do aquecimento
global.
A união de diversos parceiros – e principalmente de
nós cidadãos – potencializa resultados consistentes. Quando somamos forças e
vontade de acontecer, vamos além. Precisamos encontrar um equilíbrio que
beneficie todos os setores – agricultura, pecuária, indústria, comércio,
turismo, serviços – de forma sustentável, sem gerar prejuízos para as próximas
gerações. Mas, sim, garantir um futuro.
Miguel Krigsner - fundador e presidente do Conselho
Curador da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.