O Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial,
celebrado em 03 de julho, é mais do que uma data simbólica. É uma oportunidade
de reflexão e de reafirmação de compromissos. Deve ser encarado como uma
semente que precisa se transformar em ações concretas, como um tambor que
ressoa memórias vivas e urgentes da luta antirracista no Brasil.
Para enfrentar a discriminação racial de forma
efetiva, especialmente no contexto educacional, é fundamental compreender como
o racismo estrutural acontece e se perpetua em nossa sociedade. Como educador e
historiador, defendo que esse enfrentamento não pode ser pontual nem restrito a
projetos específicos, precisa estar incorporado de forma permanente aos
processos educativos, em todos os níveis e espaços, da educação infantil à
formação corporativa.
A discriminação racial não é um ato isolado, mas
produto direto de uma estrutura histórica que marginaliza corpos, saberes e
práticas negras. Isso se manifesta na ausência de referências afro-brasileiras
nos currículos escolares, no despreparo de muitos educadores para lidar com
questões étnico-raciais e na forma como pessoas negras seguem sendo
estigmatizadas, punidas ou invisibilizadas.
A educação antirracista não deve ser uma tarefa
exclusiva das pessoas negras, pois é um compromisso ético, político e
pedagógico de toda a sociedade. Exige enfrentamentos consistentes, investimentos
contínuos e a disposição de governos e instituições para lidar com os conflitos
raciais com seriedade, escuta qualificada e ação transformadora.
No livro Manual Prático de Educação Antirracista, publicado pela
Cortez Editora, proponho alguns eixos centrais para orientar ações educativas
comprometidas com o combate ao racismo desde as instituições escolares. Entre
eles, destaco a importância de criar espaços de estudo e escuta com
especialistas negros; envolver famílias, lideranças comunitárias, artistas,
pesquisadores e coletivos periféricos em práticas culturais e pedagógicas que
fortaleçam o pertencimento e a identidade dos estudantes.
Também defendo que organizações públicas e privadas
desenvolvam políticas antirracistas institucionais, com protocolos claros de
acolhimento e escuta ativa diante de denúncias de discriminação. É essencial
promover conteúdos que representem pessoas negras como protagonistas, líderes e
vencedoras, rompendo com a narrativa que insiste em colocá-las apenas em contextos
de dor ou resistência.
Mais do que ações pontuais ou simbólicas, o 03 de
julho deve mobilizar planos de ação permanentes, com metas claras,
monitoramento efetivo e participação ativa da sociedade civil. Não basta
discutir o racismo, é preciso combatê-lo estruturalmente, por meio de decisões
políticas, pedagógicas e institucionais.
Esse combate exige planejamento, investimento e,
acima de tudo, responsabilidade coletiva. A educação não é neutra. Ou ela
reforça as estruturas que excluem, ou se compromete com a inclusão.
Allan Pevirguladez – educador, autor dos livros Manual
Prático de Educação Antirracista e O
Mundo não é igual em nenhum lugar, consultor antirracista do
Instituto Vini. Jr e criador do projeto Música Popular Brasileira Infantil
Antirracista (MPBIA).

Nenhum comentário:
Postar um comentário