Doença atinge até
15% das mulheres em idade reprodutiva e é uma das principais causas de
infertilidade feminina
Laura Aguiar, de 37 anos, sempre teve cólicas
menstruais. Ela considerava esse desconforto algo comum, pois mantinha um
acompanhamento regular com ginecologista e realizava exames de rotina.
Entretanto, aproximadamente há 2 anos, Laura começou a sentir dores intensas e
persistentes, suspeitando de que algo mais sério estava acontecendo. Em busca
de respostas, procurou atendimento especializado e recebeu o diagnóstico de
endometriose.
Há cerca de um ano, a especialista em relações
sindicais passou por uma cirurgia para tratar a condição. “A principal mudança
foi a ausência da dor. Eu passava quase todos os meus dias com dores, e ficar
livre delas é realmente um alívio”, afirma Laura. Após o procedimento, ela
passou a ter acompanhamento semestral com especialista para verificar a
eficácia da cirurgia. Como os resultados foram satisfatórios, agora ela mantém
consultas de rotina anuais.
Laura faz um alerta sobre o assunto: “Os ginecologistas deveriam solicitar esse
tipo de exame como obrigatório para as mulheres, porque descobrir em casos
extremos, quando há dores intensas, problemas de infertilidade e a necessidade
de cirurgia, causa muito sofrimento. Eu me senti muito frustrada por sempre
manter meus exames ginecológicos em dia e não ter recebido o diagnóstico antes”,
desabafa.
Dores e afastamento
A endometriose é uma condição em que o tecido que
normalmente reveste a camada interna do útero (endométrio) cresce fora do
útero, em locais onde não deveria estar. Esse tecido pode se desenvolver na
cavidade abdominal, nos ovários e em órgãos internos, como o intestino e a
bexiga.
Estima-se que entre 10% e 15% das mulheres em idade
reprodutiva sejam afetadas por essa condição. No Brasil, isso representa cerca
de 8 milhões de mulheres. Em 2022, após a revelação de que a cantora Anitta tem
endometriose, o assunto ganhou mais visibilidade e fez muitas mulheres
começarem a questionar se poderiam estar sofrendo do mesmo problema. A
endometriose é a principal causa de infertilidade feminina e uma das razões
mais comuns para a ausência de mulheres no trabalho, devido à dor pélvica
incapacitante.
Cirurgia minimamente invasiva
A doença não tem cura, mas pode ser tratada. O
método mais eficaz é a cirurgia de excisão, que consiste na remoção de todo
tecido inflamado da pelve, sendo considerada de média a alta complexidade.
Embora o procedimento não seja capaz de curar completamente, ele reduz
significativamente a necessidade de novas intervenções, que ocorrem em menos de
10% dos casos.
A ginecologista Renata Mieko Hayashi, coordenadora
da área de Saúde da Mulher do Hospital São Marcelino Champagnat, em Curitiba
(PR), explica que o procedimento pode demandar uma equipe multidisciplinar. “A
cirurgia indicada é a técnica minimamente invasiva – videolaparoscopia ou
cirurgia robótica. O médico cirurgião mais indicado é o ginecologista treinado
para o tratamento da endometriose. A equipe é composta por especialistas em
outras áreas – coloproctologista, urologista, cirurgião torácico, por vezes.
Mas, por ser uma patologia ginecológica, ela deve ser coordenada pelo
ginecologista”.
Em alguns casos, especialistas optam pela
administração de anticoncepcionais hormonais ou progesterona. Por serem
antagonistas do estrogênio, que é o hormônio responsável pelo crescimento do
endométrio, eles podem frear a condição. No entanto, os medicamentos apenas
controlam os sintomas, mas não conseguem tratar a doença.
Sintomas e diagnóstico
Alguns sintomas são comuns em pacientes com essa
condição. A dor pélvica severa e incapacitante é um importante sinal de alerta.
Além disso, cólicas menstruais intensas e dor durante a relação sexual não são
normais e também podem indicar endometriose. Há sintomas que incluem dor,
diarreia ou outros problemas para evacuar durante a menstruação, bem como
infertilidade.
A doença pode ser diagnosticada já na adolescência, por isso é preciso que pais
e responsáveis estejam atentos e saibam orientar as adolescentes. É
recomendável levá-las ao ginecologista logo após a menarca, ou seja, a primeira
menstruação.
O diagnóstico da endometriose é clínico, baseado
nos relatos da paciente e em exames físicos realizados pelo médico. Consultas
regulares com o ginecologista podem ajudar a identificar sinais da condição. O
exame de imagem, no entanto, é um grande avanço para um diagnóstico preciso e
completo. “Tivemos uma evolução significativa com os exames de imagem. Hoje o
Brasil é uma das referências mundiais no tratamento da endometriose”, explica
Renata Hayashi. “O ultrassom transvaginal, por exemplo, é um exame
relativamente simples que nos permite mapear a endometriose. Embora a paciente
precise de preparo intestinal, com o uso de laxante, o exame é
tranquilo.”
Hospital São Marcelino
Champagnat
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