Neurologista destaca que desafio está no diagnóstico precoce da
doença
Dados do Ministério da Saúde destacam que cerca de 40 mil pessoas
vivem com Esclerose Múltipla hoje no país. No mundo, de acordo com as
informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 2,8 milhões de
pessoas tenham o diagnóstico da doença, uma das principais causas de
incapacidade neurológica. No mês marcado pelo Dia Mundial da
Esclerose Múltipla (30/05), Felipe Schmidt, coordenador do
serviço de neurologia dos Hospitais Vitória e Samaritano, na Barra da Tijuca,
Zona Oeste do Rio de Janeiro, fala mais sobre a questão.
Schmidt esclarece que a EM é uma doença em que as próprias células
de defesa do organismo atacam o Sistema Nervoso Central (SNC), com o
desenvolvimento de lesões cerebrais e na medula espinhal.
“ Apesar de ser um problema crônico e incurável, há
tratamento disponível para o controle dos sintomas, que confere maior qualidade
de vida e independência. Quando não tratadas de forma adequada, em atendimentos
especializados, podem ocorrer sequelas neurológicas graves e definitivas”,
destaca Schmidt.
Além disso, a doença pode ser subdividida de acordo com as crises
frequentes de inflamação no sistema nervoso central (também chamados de
“surtos”) com o aparecimento agudo de sintomas neurológicos. Estes, duram dias
ou até semanas, com melhora parcial ou total, mesmo sem tratamento.
“O problema é que com a repetição dos “surtos”, as sequelas tendem
a se acumular, agravando o quadro do paciente”, destaca o especialista. O
segundo subtipo é a forma progressiva, caracterizada pela recorrência de sintomas
no decorrer de meses a anos, com incapacidade futura”, explica.
Os sintomas relacionados à
EM são variados, como:
· Fraqueza
muscular, alteração de sensibilidade (dormência, queimação ou dor em algum
segmento, de um dos lados do corpo ou por vezes do tronco para baixo), perda ou
turvação na visão de um dos olhos, visão dupla, desequilíbrio ao caminhar e
dificuldade no controle da urina. A fadiga (sensação de falta de energia) é
muito comum na doença, e pode contribuir muito com a incapacidade.
“É importante entender que os sintomas podem ser persistentes,
tendo que durar mais do que 24 horas. Sinais de curta duração, em geral, não
são relacionados à doença”, ressalta.
O especialista também destaca algumas características que, quando
presentes em pessoas jovens, despertam o “sinal de alerta” para o diagnóstico,
como: sensação de aperto na região do tórax, conhecido como “abraço da
esclerose”, além de dor intensa e intermitente em um dos lados da face.
“É fundamental compreender que muitos dos indícios relacionados à
esclerose múltipla são comuns em outras condições e, eventuais dormências e
formigamentos, de curta duração, podem ocorrer em pessoas normais. O
diagnóstico exige a realização de uma anamnese e exame físico minucioso, além
de exames complementares como ressonância magnética, entre outros”,
esclarece.
Dados
epidemiológicos e perfil
Estima-se que no Brasil 40 mil pessoas possuam o diagnóstico de
Esclerose Múltipla. Sobre o perfil, os estudos indicam que a maior prevalência
se concentra nas mulheres jovens, entre os 20 e os 40 anos de idade. “Um dos
maiores problemas dessa doença é que afeta uma população jovem, com uma vida
inteira pela frente. Pessoas que querem vínculos sociais, sucesso profissional,
construir família. Com o diagnóstico precoce e os tratamentos atuais, todos
esses planos seguem como possíveis”, destaca o especialista.
E completa “Quanto mais precoce o início do tratamento, maior a
chance de sucesso e menores serão as sequelas”.
Causas da
doença
Schmidt informa que a causa para a esclerose múltipla não é única,
e que diversos fatores genéticos e ambientais podem contribuir. Vários genes já
foram descritos como relacionados à doença, mas a ausência deles não garante
que uma pessoa não vá ter, e nem a presença deles significa, necessariamente,
que vá acontecer. “Não basta ser geneticamente predisposto, há uma série de
fatores ambientais como infecções da infância, alimentação, exposição a
substâncias, níveis de vitamina D, entre outros, poucos conhecidos, para o
desenvolvimento da Esclerose”.
Os baixos níveis de vitamina D, que ocorre mais frequentemente em
regiões de pouca exposição solar do hemisfério Norte, por exemplo, estão
relacionados ao maior risco de desenvolvimento. Outro gatilho que parece ser fundamental
é a infecção pelo vírus Epstein Barr (causador da mononucleose), uma vez que
quase a totalidade dos pacientes com esclerose múltipla já tiveram contato com
o vírus, mas é importante lembrar que mais de 95% da população brasileira
adulta já teve contato com o vírus e a imensa maioria não desenvolve a doença.
Estão sendo desenvolvidas vacinas contra o vírus Epstein Barr, com o objetivo
de reduzir a taxa de infecção e, possivelmente, o desenvolvimento da esclerose
múltipla.
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