Cerca de 20% dos cânceres estão relacionados ao consumo de tabaco, alerta a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)
No Dia Mundial Sem Tabaco, 31 de maio, a Sociedade Brasileira de
Oncologia Clínica (SBOC) faz um alerta sobre os fatores de risco deste hábito
para além do câncer de pulmão. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o
tabagismo é considerado uma doença crônica causada pela dependência à nicotina,
substância presente em produtos à base de tabaco. Cerca de 8 milhões de pessoas
perdem a vida todos os anos no mundo em decorrência do tabagismo – 7 milhões de
fumantes ativos e 1, 3 milhões de fumantes passivos, de acordo com dados da
Organização Mundial da Saúde (OMS).
Sobre a ação do tabaco no organismo e a relação com o câncer, o
oncologista clínico e membro do Comitê de Tumores Torácicos da SBOC, Dr.
William Nassib William Junior, explica que o cigarro possui inúmeras
substâncias que têm potencial cancerígeno, e essas substâncias quando são
inaladas, encontram no pulmão um órgão que não tem muitas barreiras. “Essas
substâncias acabam caindo na corrente sanguínea, e não somente aumentam o risco
de desenvolvimento de câncer de pulmão, mas também o risco de desenvolvimento
de cânceres em outros órgãos”, explica.
Para o oncologista clínico, a erradicação do tabagismo é um passo
crucial no combate ao câncer. “Estima-se que aproximadamente 20% de todos os
cânceres são causados pelo tabagismo. Nos Estados Unidos, 30% das mortes
relacionadas a câncer são causadas pelo uso do tabaco”, afirma.
Os principais tumores associados ao tabagismo, além do câncer de
pulmão, são os cânceres de cabeça e pescoço, incluindo boca, laringe, faringe,
o câncer de esôfago, o câncer de rim, o câncer de colo de útero, o câncer de
fígado, câncer de bexiga, câncer de pâncreas, câncer de estômago e até mesmo
câncer colorretal.
Nos casos de câncer de boca e laringe,
substâncias presentes no tabaco como benzeno, formaldeído, acroleína e
nitrosaminas entram em contato com as células da cavidade oral e provocam
mutações que podem resultar em tumores. O INCA estima 15 mil novos casos de
câncer de boca e 10 mil para o câncer de laringe, para cada ano até 2025.
Fumar também está associado a um aumento no risco de câncer de
estômago, especialmente na região do adenocarcinoma da região
da cárdia, que é a parte do estômago mais próxima do esôfago. Em 2020, 14 mil
pessoas morreram em virtude do câncer de estômago - 21 mil novos casos serão
diagnosticados por ano até 2025, segundo dados do INCA.
O oncologista explica que as substâncias cancerígenas presentes na
fumaça do cigarro como nitrosaminas e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos,
podem ser ingeridas e atingir o estômago: “Estas substâncias podem causar danos
diretos ao DNA das células da mucosa gástrica, promovendo mutações que podem
levar à transformação maligna”.
O segundo tipo de câncer mais impactado pelo tabagismo, depois do
câncer de pulmão, é o câncer de bexiga. Estima-se que 50%
dos casos de câncer de bexiga em homens e 30% em mulheres estão relacionados ao
consumo de tabaco, devido à presença de substâncias carcinogênicas que causam
danos ao DNA das células do urotélio. “As substâncias presentes no tabaco são
filtradas pelos rins e acumulados na urina, o que pode danificar o revestimento
da bexiga, levando ao desenvolvimento da neoplasia”, explica Dr. William.
De acordo com dados do INCA, em 2020 mais de 4 mil pessoas
perderam a vida em decorrência do câncer de bexiga, e a estimativa para cada
ano até 2025 é de 10 mil novos casos.
Políticas de controle ao tabagismo
Os dados citados destacam a alta incidência e mortalidade
associadas a esses tipos de cânceres no Brasil, reforçando a importância das
políticas de controle do tabagismo para a prevenção dessas doenças. O Dr. William
destaca a necessidade de expandir essa compreensão para melhor prevenir e
combater os efeitos devastadores do tabaco na saúde.
Para ele, a informação é a principal ferramenta para o controle do câncer. “Ao eliminar este hábito, podemos diminuir consideravelmente os altos índices de diagnóstico de cânceres. O primeiro passo é entender os impactos negativos que o cigarro traz para a saúde. O segundo passo é buscar a orientação médica, porque hoje existem tratamentos eficazes para quem quer deixar de fumar”, conclui.
Dia
Mundial sem Tabaco
O Dia Mundial sem Tabaco foi criado em 1987 pela Organização
Mundial da Saúde para alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas
ao tabagismo. Em 2024, o tema escolhido pela OMS é Proteção das crianças contra
a interferência da indústria do tabaco.
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