Muito se fala sobre o diabetes do tipo 2, doença adquirida em
razão de hábitos de vida, como obesidade e hipertensão, e fatores genéticos,
mas o diabetes tipo 1, menos incidente, porém necessita de tratamento imediato
e contínuo, ocupa um papel de coadjuvante na política pública de saúde e na
cobertura das operadoras. Com esse cenário preocupante, os cerca de 580 mil DM1,
jargão usado para identificar esses pacientes, muitas vezes ficam desatendidos,
sem direito a tratamentos mais adequados de controle dessa enfermidade ou
acesso a novas tecnologias.
O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune e ocorre quando há uma
destruição progressiva das células responsáveis pela produção de insulina no
pâncreas. Essa enfermidade acomete principalmente crianças e adolescentes. Sem
o hormônio insulina no organismo, não é possível metabolizar a glicose para a
produção de energia.
A questão é que sem a insulina, o
organismo entra em colapso, por isso a importância do uso de insulina análoga
por todo a vida desses pacientes. Entre as complicações do DM1 estão o
comprometimento renal, doenças cardíacas, cegueira e chance de amputações,
levando o paciente ao coma ou à óbito. Para ter uma ideia, no Brasil, a
expectativa de vida de uma criança com DM1 sem tratamento adequado é de 40-54
anos.
Hoje o teste de glicemia não é padrão no pronto-atendimento
de crianças ou adolescentes. Por isso, é frequente ouvirmos das mães que elas
procuram ajuda emergencial e ficaram sem o diagnóstico correto. O perigo é que
a ausência de insulina no corpo leva à cetoacidose diabética, complicação que
pode resultar em coma ou morte, se não identificada em tempo. Boca seca, urina
em excesso, fraqueza e emagrecimento são sinais de DM1, e não podem ser
negligenciados independentemente da faixa etária das pessoas.
Hoje o SUS oferece o tratamento à base de insulina mais simples, nem sempre adequado para todos os casos de DM1, e os estoques desse hormônio estão sempre no limite. As bombas de insulina, chamadas de pâncreas artificial, dispositivos que fazem a liberação contínua de insulina ao longo do dia, também não. Esses sistemas inteligentes fazem a liberação deste hormônio, atuando no controle da hipoglicemia ou da hiperglicemia, condições desafiadoras e graves que afetam a saúde dos pacientes.
Os planos de saúde, por outro lado, fazem o diagnóstico do diabetes tipo 1, mas não oferecem tratamentos. Os pacientes têm que comprar os medicamentos, sensores e as bombas de insulina. Ou seja, recorrem à rede pública de saúde, sobrecarregando um sistema que já trabalha no limite.
Diante desse cenário atual, no entanto, a boa notícia é que a comunidade médica, associações de pacientes e parlamentares da causa estão empenhados na aprovação de projetos de lei que visam garantir os direitos dos pacientes com DM1 bem como o seu bem-estar e qualidade de vida.
Um deles é o 4809/2023, em
tramitação no Senado, que visa a modificação da Lei 9.656/1998. A alteração tem
como objetivo incluir no rol de coberturas obrigatórias insumos e tecnologias
aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento
de pessoas com diabetes tipo 1 no ambiente domiciliar, o que obrigaria os
planos de saúde a oferecerem tratamentos. Outro
é o PL 2687/2022, que classifica o diabetes do
tipo 1 como deficiência para todos os efeitos legais, ampliando assim a
disponibilidade de serviços para os pacientes com a doença.
É fato que precisamos dar maior protagonismo ao
diabetes tipo 1. Ainda mais porque estudos internacionais indicam crescimento
dessa doença em crianças e idosos. Não podemos brincar mais com essas vidas.
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