Especialista fala sobre a atuação dos robôs em atendimentos médicos, os desafios e o futuro do setor
A relação de dependência das pessoas com a
tecnologia vem, ao longo dos anos, crescendo em ritmo acelerado, principalmente
após o início da pandemia da Covid-19, em 2020, quando foi necessário o
isolamento social entre as medidas preventivas para se evitar a disseminação da
doença. Com ela, também foram intensificados os múltiplos usos da telemedicina
e o aperfeiçoamento da Inteligência Artificial (IA) na área da saúde.
De acordo com Kenneth Corrêa, especialista em
negócios digitais e metaverso, a chamada IA Generativa está passando por uma
fase de revolução com a criação da ferramenta Chat GPT, a mais nova
inteligência artificial capaz de atuar com rapidez e agilidade na criação de
novos conteúdos, inclusive na área da saúde.
“O que nos deixa mais fascinados pelas IA é a
velocidade com que as coisas acontecem e a assertividade com que estão sendo
obtidos os diagnósticos médicos. Inclusive, recentemente, foi desenvolvido um
teste com pacientes atendidos por médicos humanos e pela ferramenta Chat GPT.
Embora não soubessem que estavam conversando com uma IA, 80% das pessoas
preferiram o atendimento feito pelo robô”, conta o especialista, referindo-se ao
estudo publicado em abril/23 pela
JAMA Medicina Interna .
Recentemente, o Google anunciou a evolução de sua
plataforma de inteligência artificial e seu próprio modelo de linguagem, o PaLM
(para concorrer com o GPT da OpenAI e o LLaMA da Meta). A empresa global ressaltou
que, dentre as várias áreas que estão usando, existe uma específica para o
atendimento médico: o Med-PaLM-2, que passou com excelência no exame de
proficiência americano. A ferramenta foi testada por médicos
especialistas e é capaz de ler exames (inclusive de Raio X), resumir conceitos
e elaborar relatórios médicos.
Na área da saúde, Kenneth também ressalta a
utilização das técnicas Machine Learning e Redes Neurais, as quais possibilitam
a leitura de exames de imagem, como raio-x e ressonância magnética, e a leitura
de exames de padrões, como ecocardiograma.
Agilidade no atendimento
A inteligência artificial na saúde funciona como
uma enciclopédia. “Ela tem uma base de dados com basicamente todos os
diagnósticos que foram feitos num determinado hospital, por exemplo, e que
estejam registrados em sistema, contando todo o histórico do paciente.
Essas informações são cruzadas com as de livros de
Medicina, de todo o Catálogo Internacional de Doenças. Assim, a IA reconhece e
identifica sinais, sintomas e exames e, a partir dali, recomenda o diagnóstico
mais provável”, explica Kenneth, lembrando que, por conta da regulamentação
global, o laudo final quem assina é o médico humano, após analisar as respostas
dadas pela IA.
Um dos principais ganhos na aplicação da IA na
saúde refere-se à chamada personalização em escala, ou seja, a possibilidade de
prestar um atendimento personalizado, com qualidade, para uma grande quantidade
de pessoas.
“Eu não vejo, ainda, uma modificação no
sistema de saúde em que o robô vai fazer um atendimento completo. Mas, se ele
beneficia a operação de atendimento fazendo uma triagem, por exemplo, o médico
ganha agilidade. Então é muito válido utilizar a IA como ferramenta de apoio,
pela facilidade e praticidade”.
É o caso do Sistema Laura, que, em 2020, começou a
ser instalado em instituições brasileiras de saúde pública. A partir desta IA e
da tecnologia cognitiva, os dados da rotina hospitalar são gerenciados e
alertas são emitidos para a equipe assistencial, para que os pacientes mais críticos
sejam atendidos com prioridade e recebam o tratamento adequado o quanto antes.
Milhares de vidas já foram salvas por causa desta tecnologia, desenvolvida pela
healthtech Laura.
Mas é seguro?
Com tantos avanços na IA na área da saúde, a
pergunta que paira no ar é: os atendimentos feitos pelos robôs são
seguros?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um
alerta, no último dia 16, de que é preciso muita cautela ao usar a nova
tecnologia em busca de diagnósticos e tratamentos.
Kenneth se posiciona a favor deste alerta, uma vez
que, em sua opinião, “algo que a gente não está pronto para fazer como
humanidade, como sociedade organizada do ano 2023, é o robô fazer o
diagnóstico, tampouco ser responsabilizado pelo diagnóstico”.
Segundo o especialista, é possível a IA confundir
uma informação e seguir o atendimento de maneira errônea. “Por isso, a forma
como eu recomendo que centros clínicos, hospitais, os próprios profissionais da
saúde utilizem o que já tem disponível de IA é sempre como um apoio na produtividade,
na realização do pré-diagnóstico, de forma que o robô ajude o profissional de
saúde, o qual deve ser responsável e sempre checar todas as informações
passadas pela máquina antes de realizar um atendimento”.
Os desafios atuais
A questão da responsabilização é um dos desafios da
Inteligência Artificial. “Quem será responsabilizado caso o atendimento
apresente uma falha de sistema? É claro que, por trás de todo atendimento, tem
que estar o médico humano e a sua responsabilidade por aquele paciente”.
Outra dificuldade é a aceitação das pessoas em
serem atendidas por um robô. “Tudo bem dizer que, no teste citado, a qualidade
no atendimento do Chat GPT ganhou nota mais alta. Mas será que o paciente sabia
que estava sendo atendido por um robô? As pessoas gostam de conversar com outra
pessoa, sentem-se mais seguras em saber que estão sendo atendidos por alguém
que dá a devida atenção ao caso delas”.
E um terceiro desafio a ser pontuado é o custo.
“Como a IA funciona como uma enciclopédia, só é possível gerar conhecimento de
atendimento médico, de diagnóstico, em cima de um histórico, em cima da base de
dados. E então, se você usa uma IA Proprietária, que foi desenvolvida, por
exemplo, por uma universidade de Medicina, ela vai te liberar o uso e vai
cobrar por isso. Ou então você terá que lidar com os investimentos de criar sua
própria base de dados”.
O futuro da IA na área da
saúde
Para Kenneth, o futuro da aplicação da inteligência
artificial na área da saúde é bastante promissor. “Com a revolução do Chat GPT,
de outubro de 2022 para cá, as pessoas estão aceitando muito mais que existe
IA, que ela já é usada no dia a dia em algumas áreas específicas. Essas
mudanças ajudam a diminuir bloqueios e barreiras. As pessoas vão percebendo que
o mundo está cada vez mais complexo e que é possível usar a IA ao nosso favor.
Sem contar que o Chat GPT é acessível e qualquer pessoa pode desenvolver uma
solução usando a ferramenta”.
Além da aceitação, outro fator importante para o
futuro da IA na saúde são os investimentos feitos pelos grandes players de
tecnologia. “Multinacionais como Google, Meta, Amazon, IBM estão apostando alto
em IA. Em geral, para onde vai o dinheiro, há um desenvolvimento acelerado,
resultando em boas ideias e boas soluções”, conclui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário