Recentemente fomos surpreendidos com a renúncia do CEO da Hurb, João Ricardo Mendes, também fundador da empresa, considerada a maior agência de viagens online com sede no Brasil, criada há mais de 12 anos e avaliada em R$ 2 bilhões, ou seja, estamos falando de um negócio sólido, consagrado pelo tempo de existência e por seu valor. Ele permanece como investidor, mas não está mais à frente da companhia, precisou renunciar após ter xingado e ameaçado clientes insatisfeitos.
Com essa atitude ele entrou no que chamo de inferno
da liderança, pois contrariou uma das primeiras, e talvez a principal regra da
gestão de um negócio: colocar o cliente no centro das atenções. Refletindo
sobre este assunto, que ganhou as páginas de todos os sites de notícias,
elenquei quatro pontos que considero vitais para colocar o gestor no céu da
liderança:
- O
cliente no centro das atenções;
- Ter
processos confiáveis;
- Ter
gestão próxima;
- Orientação
aos dados.
Esses quatro itens parecem óbvios, mas nem sempre
são seguidos. Em qualquer ramo, o cliente tem que ser o centro das atenções,
afinal, é ele que garante a existência do próprio negócio. Ter processos
confiáveis também, já que se entendermos o negócio como uma grande engrenagem,
a falha em qualquer elo, vai colocar tudo em risco.
No mesmo grau de importância está o time, pois é quem
faz essa grande engrenagem funcionar bem. Por fim, porém na mesma ordem de
importância, está a constante tomada de decisão baseada em dados. É preciso
avaliar e comunicar constantemente o andamento de todo o negócio. Do contrário,
uma falha que começou bem pequena, pode ganhar proporções gigantescas, difíceis
de serem contornadas ou resolvidas.
Certamente na Hurb houve falha em algum ou alguns
desses itens, afinal, não haveria necessidade de o CEO da empresa se indispor
com clientes, se tudo estivesse funcionando corretamente. Claro que a maneira
como ele o fez dificultou ainda mais. No entanto, quero me concentrar neste
artigo no problema. Por que ele ocorreu? Onde está a falha? Que tipo de gestão
eles adotaram que coloca a direção da companhia numa situação dessas?
Na gestão por objetivos e resultados, os chamados
OKRs, do inglês Objects and Keys Results (Objetivos e Resultados Chaves), esses
4 pontos fazem parte constante da discussão e, portanto, endereçam os problemas
que levantamos por, pelo menos, três princípios básicos: é o tipo de gestão em
que o líder deve estar muito próximo do liderado, é uma forma de administrar
que dá mais autonomia e é o tipo de administração que prevê ajustes
constantes.
É uma gestão horizontal, porque o líder não se coloca
como um ser inatingível, que decide tudo de forma unilateral e passa as
determinações para que todos as sigam. Ao contrário, ele está próximo,
traz o time para discutir e priorizar a melhor maneira de endereçar os temas, o
famoso bottom up.
Segundo: é premissa do OKR deixar claro para cada
integrante da equipe qual sua missão no dia a dia e qual a contribuição dessa
tarefa no todo. Cada membro do time sabe o que vai fazer, e sabe a razão pela
qual está fazendo e a importância perante o todo. Por fim, é também premissa da
gestão por Objetivos e Resultados Chaves o realinhamento constante das
atividades, então, em ciclos de três meses é preciso avaliar todo o processo,
para entender a necessidade de ajustes de rota ou manutenção do que vem sendo
feito.
Penso que esses pontos não tenham sido observados
no Hurb, afinal, o gestor se expôs, de forma bruta, é verdade, mas o fez
tentando explicar falhas recorrentes no processo da empresa. Numa forma de
gestão onde o líder e o liderado estão próximos, onde cada integrante tem plena
consciência de suas atividades, dentro de todo o processo do negócio, e onde
tudo precisa ser avaliado periodicamente, provavelmente não teríamos chegado ao
pico emocional que desencadeou toda esta situação.
Pedro Signorelli - um dos
maiores especialistas do Brasil em gestão, com ênfase em OKRs. Já movimentou
com seus projetos mais de R$ 2 bi e é responsável, dentre outros, pelo case da
Nextel, maior e mais rápida implementação da ferramenta nas Américas. http://www.gestaopragmatica.com.br/
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