A medicina está em constante evolução, abrindo
novos caminhos a todo momento. Seja por meio de transplantes de órgãos,
cirurgias oncológicas ou atendimentos emergenciais, ela continua transformando
a vida das pessoas ao redor do mundo. No entanto, há um aspecto que não muda:
as equipes médicas dependem de doações de sangue para garantir o sucesso desses
procedimentos complexos. Apenas no Brasil, de acordo com dados do Ministério da
Saúde, aproximadamente 3,5 milhões de pessoas necessitam de transfusões
sanguíneas anualmente. O número é alto se considerar que menos de 2% da
população tem o hábito de doar sangue.
Um ato de solidariedade que se revela crucial para
pacientes com doença renal crônica. As doações de sangue auxiliam no tratamento
da anemia, uma condição característica da doença, e permitem que o rim seja
transplantado com segurança. "É um procedimento complexo, que exige
suturas cuidadosas de veias e artérias, além de resultar no sequestro de um
grande volume de sangue ao conectar o órgão com o receptor. Portanto, durante
cada cirurgia são necessárias cerca de duas bolsas concentradas de hemácias,
juntamente com outros componentes, como o plasma", detalha o cirurgião
Bruno Pimpão, chefe da equipe de transplante renal do Hospital Universitário
Cajuru.
O Brasil desponta como um dos líderes mundiais em
transplante de órgãos e retoma os índices pré-pandemia. Segundo dados da
Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), apenas no período de
janeiro a março deste ano, foram realizados cerca de 2 mil transplantes de
órgãos, sendo mais de 1,3 mil deles relacionados ao rim. Dentro dessa operação,
o Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba (PR), que atende exclusivamente
pelo SUS, é referência no transplante renal. “A excelência da equipe de
transplante torna possível que, em 95% a 98% dos casos, haja sobrevida do
enxerto e do paciente ao longo do primeiro ano", afirma Alexandre Tortoza
Bignelli, nefrologista e coordenador do serviço de transplante renal.
Fonte de esperança
O tratamento do câncer é uma das áreas da medicina
que mais têm evoluído nos últimos anos. A inovação no clássico tripé de
enfrentamento da doença, que inclui cirurgia, radioterapia e quimioterapia,
reduz o volume de células cancerosas e pode remover completamente o tumor. Como
uma das principais formas de tratamento, a cirurgia é necessária em 70% dos
casos e, de acordo com um levantamento do Observatório de Oncologia, costuma
ser indicada para 10 mil pacientes a cada ano no Brasil. A operação é complexa
e depende da disponibilidade de bolsas de sangue para que seja realizada.
Mas muitas vezes o tratamento do câncer está na
própria transfusão sanguínea. A transferência de sangue ou de um dos seus
componentes é essencial, especialmente para pacientes com cânceres
hematológicos, como as leucemias. "Trata-se de um tratamento suportivo
para melhorar as condições clínicas do paciente, restaurando o transporte de
oxigênio para os órgãos e tecidos bem como a capacidade de coagulação. Isso
também contribui para que as cirurgias sejam realizadas sem comprometer a saúde
do paciente", afirma Fernando Michielin, hematologista do Instituto de
Oncologia do Paraná e do Hospital São Marcelino Champagnat.
Chamado à ação
A demanda por bolsas de sangue também se torna
essencial para salvar vidas de pacientes que chegam a hospitais de referência
no atendimento de traumatologia. No Hospital Universitário Cajuru, as vítimas
de acidentes de trânsito correspondem a 12% da demanda do Pronto Socorro, resultando
em uma necessidade de cerca de 100 bolsas de sangue a cada mês. "O
paciente com traumatismo necessita de transfusão sanguínea de urgência para
controlar hemorragias provocadas por fraturas e lesões graves", salienta
José Arthur Brasil, coordenador do Pronto Socorro do hospital.
Doar sangue é um gesto simples que pode salvar até
quatro vidas. Para fazer parte dessa corrente de solidariedade, a pessoa deve
atender a alguns requisitos, como ter entre 18 e 65 anos, pesar acima de 50
quilos, estar em boa saúde, não usar medicamentos e não ter feito tatuagem,
endoscopia ou colocado piercing nos últimos doze meses. No entanto, são apenas
14 doadores regulares de sangue para cada mil brasileiros e os estoques estão
em constante estado de emergência. "É importante a execução de campanhas
que estimulem a doação, para a manutenção dos estoques dos bancos de sangue em
nível de segurança adequado", conclui Fernando Michielin.
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